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Críticas

Cineplayers

Dez anos depois, Uma Jornada Inesperada se revela na verdade bastante familiar.

8,0

Uma honra ser convidado pelos amigos para participar dos eventos de 10 anos de Cineplayers. Assistir a O Hobbit agora traz lembranças do tempo em que o site era apenas uma maneira de compartilhar as discussões que tínhamos no fórum de cinema da Players. Nunca fui um fã de Campo Dos Sonhos (Field of Dreams, 1989), mas o lema “If you build it, they’ll come” faz todo sentido agora.

Acho que não é nenhuma novidade para os leitores mais assíduos que somos fãs de Tolkien e da trilogia de Peter Jackson. O site começou com o Retorno do Rei e reunir os ex-colegas em torno do Hobbit foi uma idéia natural. Sempre tive algumas ressalvas em relação aos livros, mas como fã de terror e cinema mais alternativo, acompanho o Jackson desde os seus primeiros e divertidos filmes de baixíssimo orçamento. Vê-lo aprender a dominar o cinema blockbuster com a trilogia teve um gosto especial.

Apesar de todo o aprendizado, a jornada do Hobbit pra se tornar filme foi tudo, menos suave: Jackson convidou Guillermo Del Toro para a direção, chegou a dedicar dezoito meses na pré-produção, mas os os atrasos fizeram-no desistir da empreitada. O amigo ainda manteve o crédito por suas ideias no roteiro, mas vendo os direitos sobre a obra de Tolkien expirarem, Jackson não teve muita escolha a não ser assumir as rédeas do projeto para que ele finalmente chegasse em nossas telas.

Uma Jornada Inesperada segue uma estrutura semelhante a de A Sociedade do Anel, uma introdução explicando eventos passados, partindo do Condado com uma pausa em Valfenda até um último ato repleto de ação. A maior diferença está na parte técnica e na confiança de Jackson no material; Sociedade foi um filme realizado sob enorme pressão, com orçamento apertado, uma equipe que ainda tinha muito à provar e um diretor que não tinha feito nada na mesma escala antes e não podia se dar ao luxo de incluir tudo o que gostaria. Hoje uma líder em efeitos especiais, a WETA de Jackson se mostra madura com efeitos de criaturas e cenários fantásticos. Dessa vez não economizaram na adaptação, incluindo até algumas canções e mais cenas tiradas dos apêndices, como se já tivéssemos vendo a versão estendida logo de saída.

Os livros também têm uma diferença importante. O Hobbit é uma obra infantil, e o tom do filme é diferente do sombrio O Senhor dos Anéis, com mais humor e leveza, o que pode ser visto por alguns como um demérito pela perda de dramaticidade. A longa duração também vai continuar alimentando críticas aos excessos de Jackson, mas para fãs que viram e reviram os filmes anteriores e todos os seus extras, os 169 minutos do filme serão devorados sem dificuldade. E essas cenas adicionadas, como o background de Thorin e Azog, ajudam a elevar o momento para o confronto final com os orcs, e a reunião dos magos em Valfenda cria uma ponte muito bem vinda com a trilogia anterior, além de aumentar a lista de cameos de personagens antigos que retornam. No elenco novo, o maior destaque foi o jovem Bilbo do Martin Freeman: ele tem ótimo timing cômico e linguagem corporal, as trocas entre ele e o Gandalf de Ian McKellen estão entre as melhores cenas de atores. A exceção do Thorin vivido pelo ator britânico Richard Armitage, os anões não tiveram muito o que fazer no filme a não ser algumas caras e bocas, vamos ver se Jackson e seus roteiristas encontram mais espaço para eles nos próximos filmes.

Não vejo motivos para que O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit - An Unexpected Journey, 2012) decepcione os fãs que aguardavam ansiosamente para voltar à Terra Média. Mantém uma aura parecida no que diz respeito à sons e visuais, segue o livro bastante perto (sim, até a piada do golfe), estabelece o início da aventura evocando elementos do filme antigo, fazendo uma ponte entre esses dez anos, mais ou menos o mesmo que eu estou fazendo agora escrevendo de novo para o Cineplayers. Espero que o sucesso do site continue ainda por muitos anos, e quem sabe não nos veremos daqui a dez anos novamente para falar sobre O Silmarillion? A família do Tolkien disse que não negocia os direitos com o Peter Jackson novamente, mas quem sabe até lá mudam de ideia.

Comentários (7)

Alexandre Carlos Aguiar | sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012 - 08:18

O quê? Decepção? WFT? Estou até agora tentando achar uma palavra que substitua Extraordinário ou Sensacioal e que seja mais abrangente. Só a cena das águias, com toda a sua leveza e poesia, captando plenamente o texto de Tolkien, vale o ingresso.

Alexandre Koball | sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012 - 08:57

Claro que não decepcionou. Apenas a história não tem a epicidade da trilogia original, o que já era conhecido.

Caio Santos | sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012 - 09:17

a cena das águias 😳

Sergio Gregorio Araujo Silva | sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012 - 13:54

Particularmente, eu prefiro os orcs de O Senhor dos Anéis, toda aquela maquiagem é bem mais legal do que os orcs inseridos digitalmente, mas isso é pura frescura minha, acho que estou ficando velho.

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