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Críticas

Cineplayers

Um ótimo policial urbano ambientado nas ruas de São Paulo. O cinema nacional cresce.

8,0

Beto Brant mostra que o cinema brasileiro já voltou à fase adulta, e não nos faz depender apenas de eventuais sucessos (Cidade de Deus, por exemplo), pra ser respeitado. Isso mesmo, O Invasor é um filme ousado, inteligente, com uma fotografia inovadora, realista, mas acima de tudo, é um filme bom pra cacete, que faz pensar mas também entretém o espectador.
 
Temos como figuras centrais Ivan (Marco Ricca) e Gilberto (Alexandre Borges), dois amigos e sócios de uma construtora, juntamente com Estevão (George Freire). Acontece que este último, o sócio majoritário, está criando problemas para os outros dois, ameaçando desfazer a sociedade. A solução encontrada é contratar um assassino de aluguel (o titã Miklos) para acabar com Estevão. O que eles não esperavam é que, após o serviço feito, Miklos, com seu jeito de bandido malandro, do tipo “não tou nem aí pra esses caras”, resolve se intrometer na empresa. Acuados, Ivan e Gilberto não podem fazer nada a não ser ver esse completo e perigoso desconhecido fazer parte do dia-a-dia da construtora.
 
O melhor de O Invasor é ser um suspense policial tenso desde o início, ajudado pela ótima atuação de Paulo Miklos e sua cara-de-pau para se intrometer nos negócios dos outros personagens. O ator-cantor se dá muito bem em sua estréia na profissão, embora cometa erros primários em um ou dois momentos (o principal é olhar para a câmera quando não devia). Ele tem inclusive um monólogo rápido em frente ao espelho imitando De Niro em Taxi Driver.
 
As coadjuvantes Mariana Ximenes (que já fez papel de patricinha em algumas novelas da Globo), e sobretudo Malu Mader (como é bom vê-la de novo na tela), estão ótimas no filme, esbanjando sensualidade e bastante talento também. Ximenes talvez tenha o papel mais ousado de sua carreira, até o momento, com seu relacionamento utópico entre ela e Anísio (o personagem de Miklos). Filha do empresário morto por ele, a atriz vive a típica adolescente rebelde de classe média-alta. A sua atuação é muito convincente, e o filme dá de presente a seus fãs momentos bem “calientes”.
 
Contudo, nem o clima tenso, muito menos as boas atuações de todo o elenco seriam capazes de segurar tão bem o filme se não fosse a ótima direção de Beto Brant. Câmeras trêmulas, atores encarando o espectador, cores fortes, com muito contraste, longos takes sem cortes dão o tom do filme, o que faz 'O Invasor' ser fácil de ser apreciado visualmente, a não ser que você seja um espectador deveras antiquado. Brant também nos brinda com cenas ousadas das atrizes Ximenes e Malu Mader, porém evitando ao máximo (e sendo bem sucedido) entrar no vulgar, fugindo do estereótipo de que todo filme brasileiro deve ter sexo para vender. Há sim, sexo, mas você pode assistir com qualquer pessoa sem se constranger muito (bem, pelo menos a maioria das pessoas).
 
Outro tema presente no filme é a alienação que existe entre muitos empresários bem-sucedidos, que tendo conquistado muita coisa na vida (carreira, família, dinheiro), ainda não se vêem satisfeitos. Isso fica muito explícito pelos personagens Ivan e Gilberto, cuja principal prioridade é a de “se dar bem”, doa a quem doer. O filme analisa as conseqüências desse comportamento, traçando destinos interessantes para esses personagens.
 
Talvez o único ponto fraco de O Invasor seja o fato de que em certos pontos a trama envolvendo algumas reviravoltas (como um final que tenta surpreender o espectador) é bastante confusa, obrigando a quem assiste a ficar muito atento para entendê-las. Caso você não consiga entender tais reviravoltas de primeira, tudo bem, o filme não é apoiado aí, e a história, num sentido generalizado, é de fácil entendimento. O final do filme é bem marcante e forte, fazendo o espectador pensar no que viu assim que o filme acaba – característica somente pertencente a filmes de ótima qualidade. Ah, faltou citar a trilha sonora, que é pesada ao extrema, e dá ainda mais força ao roteiro do filme.
 
Com seqüências marcantes, principalmente as envolvendo Miklos, 'O Invasor' é a prova que o cinema brasileiro está em processo de evolução e, embora o filme de Beto Brant não seja uma obra-prima, é bastante poderoso e muito bem dirigido e interpretado. Para o mercado nacional, nos últimos anos, existem apenas alguns poucos títulos superiores.

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