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Críticas

Cineplayers

Refilmagem de clássico homônimo atualiza a história do homem-lobo sem apelar para o excesso de CGI.

8,0

Filmes com estreia adiada sempre causam desconforto geral na crítica especializada. O que terá acontecido? Quais motivos comerciais teriam dissuadido os produtores a lançá-lo? Em tempos de Avatar e novos rumos para o cinema comercial com aposta forte em 3D, a refilmagem de O Lobisomem poderia ser facilmente engolida nas bilheterias, partindo daí direto para o limbo do esquecimento. 

Tudo porque Joe Johnston (diretor, entre outros, de Querida, Encolhi as Crianças e Jurassic Park III) manteve a visualidade do filme fiel a aspectos do cinema de terror das décadas de 1930/40, período em que foi produzida a versão de George Waggner para a história do lobisomem na qual ele se baseou. Se a versão de 1941 é vista hoje como datada devido a questões técnicas há muito ultrapassadas, Johnston resgata a essência desse cinema de horror e atualiza o clássico utilizando efeitos digitais com precisão para sustentar a estética retrô de seu filme.

Todo um clima lúgrebre de uma Inglaterra que estava abandonando os campos em troca da vida nas cidades, que nasciam da indústria movida à carvão e fuligem, coroam a história do filho pródigo que retorna à casa do pai diante da morte do irmão mais velho. Construindo a psicologia de Lawrence Talbot (Benicio Del Toro) entre o rancor que guarda do pai, Sir John (Anthony Hopkins), e a idéia das multi-personalidades de um ator teatral, num tempo em que a profissão ainda sofria muitos preconceitos ligados à loucura e à afetação, Johston fundamenta o retorno deste personagem a um cenário já cheio de conflitos, antes mesmo que a maldição das luas-cheias se apresentasse à ele. 

Investigando a morte do irmão, sob a perspectiva de um brutal assassinato que poderia estar ligado a uma comunidade de ciganos que vive nas redondezas da cidade, Lawrence entra em contato com os elementos desconhecidos, e portanto, não totalmente compreendidos de uma história que desafia a razão de sua época. Ao ser atacado por um animal feroz e salvo pela curandeira cigana, o protagonista passa a sofrer perturbações de ordem psico-física que afloram na presença da bela noiva de seu irmão, Gwen (Emilly Blant). 

Interessante como a perspectiva mostrada pelo filme ligue a ideia do desconforto da fera em contraponto à presença feminina, sendo Gwen o elo que desperta em pai e filho à lembrança da antiga tragédia da morte da mãe, situação que os afastou definitivamente. Na clássica história de A Bela e a Fera vemos a docilidade da mocinha transformar o coração do monstro, enquanto em O Lobisomem a bestialidade da fera impede qualquer possibilidade de aproximação entre os dois que não seja trágica.

Nesse tom de maldição de família e tragédia anunciada, Lawrence passa a ser perseguido e é internado num sanatório em que se acredita poder dissuadi-lo da idéia de ter se tornado um monstro. Aqui o diretor aproveita o circo montado para expôr Lawrence como louco, e produz uma  cena de transformação de homem em lobo na qual é possível sentir o desconforto das mudanças físicas que tomam conta do personagem. E esta é uma cena de aposta, é conquistar ou perder o espectador, que hoje tem os olhos acostumados a efeitos digitais e não se satisfaz com pouco. 

Benicio Del Toro e Anthony Hopkins marcam o duelo final de seus personagens com uma cena que resume a estética do filme: num cômodo da casa decadente, à luz da lareira que ajudará a provocar o incêncio que vai enterrar a maldição dos Talbot, dois homens transformados em animais lutam para decretar que apenas um deles pode continuar. E Hopkins rasgando a camisa e mostrando o peito ao adversário pode soar engraçado, e ter sido pensado apenas como efeito para ajudar o espectador a reconhecer quem é quem debaixo das máscaras e maquiagens, mas resume também uma moral masculina ligada à animalidade que nos filmes indies e fofos de hoje não haveria motivo para expressar.

Sujo, escuro, com vísceras expostas e sangue por todo lado, O Lobisomem faz com que, através do cinema, façamos uma viagem a um passado estético que nossa ansiedade pelo futuro tem nos impedido de aproveitar desde que nos ensinaram a estar atentos e prontos a apontar o dedo a tudo que não seja atual ou virtual.

Comentários (2)

Amaral Milhomem da Conceicao | domingo, 29 de Setembro de 2013 - 10:16

Eu tinha muita expectativa.sobre esse filme, mas ficou só na expectativa mesmo. O remake segue fidedignamente um fator do original: de ser um filme ruim. O semblante cansado de Del Toro e a sem gracice de Blunt deram um tom novelesco completamente desnecessário a uma estória que deveria ser de terror. Aliás, o gênero desse filme posso ser qualquer um, menos terror. Jonston, autor da bomba Jurassic Park 3, sinceramente não possui os macetes de incutir medo nos telespectadores. Já a transformação, momento mais esperado dos filmes de licantropos, estava mais para o incrível Hulk do que para obras do tema. A tentativa de impulsionar inteligência no roteiro sujerindo terror pscológico soou frustrante e sem justificativa. Por respeito a.gênero revi Hora do Espanto( o original), Lobsomem Americano em Londres, Bad Moon e Cães de Caça, estes s certo desconforto e facínio pela mística da lua cheia, não O Lobsomem, tanto o de Lugosi quanto o de Del Toro e Hopkins: dispensáveis.

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 29 de Novembro de 2013 - 13:49

Eu achei o filme bem interessante, sem deturpar a imagem do clássico.

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