Saltar para o conteúdo

Lobo de Wall Street, O

(Wolf of Wall Street, The, 2013)
8,1
Média
868 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Os lobos Scorsese e DiCaprio explodem na tela no ápice de sua parceria.

9,5

Creio que a coisa mais importante a respeito de O Lobo de Wall Street seja ver Martin Scorsese de volta a forma, ao seu quintal, ao grupo de personagens que domina de longe. Por mais que tenha se gostado de Hugo Cabret e sua homenagem ao cinema, ou visto o exercício narrativo por trás de Ilha do Medo (que ele já tinha visitado 20 anos antes, em Cabo do Medo [Cape of Fear, 1991]). Mas seus perdedores habituais, seu coletivo de 'losers', ganha em Jordan Belfort um novo membro da trupe. E que membro! Alguém chegou a imaginar que a história real desse asqueroso lobista americano, capaz das maiores atrocidades a favor do próprio bolso, fosse fazer companhia direta e perfeita com clássicos como Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1990) e Cassino (Casino, 1995)? E mais: que o público torceria de alguma forma por alguém tão abjeto?

Scorsese conhece esse caminho das pedras, que pra ele nem é mais tortuoso. Já tínhamos simpatizado por Jake LaMotta, por Sam Rothstein, por Travis Bickle e a culpa disso era exclusiva dele, que se afeiçoa de tal maneira por esses pobres diabos e seus universos que acaba por nos conquistar e ressaltar sua humanidade, seja ela qual for. A mágica volta a acontecer pela primeira vez desde Os Infiltrados (The Departed, 2006), quando policiais corruptos de origem irlandesa se enfrentam e deixam vir o pior de si a tona. Jordan herda tudo de pior que essas personalidades tão ricas desenhadas por Scorsese já trouxeram para o cinema, com um adicional de humor negro que não víamos desde os tempos de Depois de Horas (After Hours, 1985) e O Rei da Comédia (The King of Comedy, 1982), outros clássicos do mestre.

Mas quem é Jordan Belfort? Chegar tão jovem a Wall Street, com o sonho de enriquecer que 10 entre 10 americanos tem, certamente não foi positivo para ele. Aos 22 anos ele descobriu um mentor (o 'cara do momento', Matthew McCounaghey) que se encarregaria de incutir nele o espírito de rolo compressor: passando por cima de tudo, ele ainda tratou de construir uma legião de asseclas que no futuro o louvaria como a um deus. Depois da falência inicial da primeira companhia onde trabalhou, Jordan se reergueu graças a táticas sórdidas onde oferecia ações de empresas de quinta a compradores sem nenhuma noção (não a toa, pobres desesperados por qualquer rumo a saída mais próxima do poço onde se encontravam, estes igualmente querendo também uma fatia do milhão do sonho americano - as vítimas iniciais do lobo sem nenhuma pele de cordeiro).

Quatro anos depois, ele era outro em todos os níveis. Milionário, dono de uma mansão cinematográfica, helicóptero, comandando seus parceiros numa empresa de nome pomposo e caráter inexistente, o cara tratou de trocar a esposa manicure por uma estonteante loira de propaganda. Ou seja, uma vida regada a excessos inclusive de dinheiro arremessado a esmo. Junte a lista de excessos prostitutas, orgias diárias na empresa, drogas (quilos delas), desvios ilegais de remessas astronômicas ao exterior, e temos ai um prato cheio para Martin Scorsese construir mais um espetacular libelo pró-safados da América do Norte. Com a ajuda da fiel escudeira Thelma Schoonmaker na montagem, ele nos entrega um caleidoscópio de imagens cada vez mais insanas e surreais, que traduz a atmosfera da ganância e do poder de um dinheiro que entra e sai tão facilmente que parece não ter fim. Mas tem.

Na quinta parceria com Scorsese, Leonardo DiCaprio finalmente produz o homem que deu um rumo inacreditável a sua carreira, e retribui essa confiança mútua com a melhor interpretação de sua carreira, em cenas regadas a brilhantismo. Em momento igualmente notável, Jonah Hill é um partner à altura do protagonista, e ambos protagonizam cenas já antológicas, como a briga pelo telefone, a primeira vez de ambos com drogas e o primeiro encontro com Naomi (a belíssima Margot Robbie), onde um esta estupefato e o outro está... bem, é melhor ver o filme.

Ver o filme e constatar como Terence Winter aprimorou aqui o que já sabia dada a experiência com Família Soprano, com diálogos tão excepcionais como hilários e completamente fora do normal. Um casamento perfeito envolvendo tantos vértices diferentes faz pensar que Scorsese está de volta ao jogo (e o público americano responde a altura, transformando esse filme quase subversivo num blockbuster insuspeito).

Depois de três horas de sexo, palavrões, drogas, mentiras, trapaças (sem trocadilho com a versão açucarada da palavra, igualmente na corrida do Oscar desse ano) e picardias, é difícil encontrar defeitos nessa volta pra casa desse que é um dos maiores cineastas de todos os tempos. E mesmo que aqui e ali pareçamos estar diante de mais um filme da 'franquia Martin Scorsese', a pergunta é: qual o defeito em criar uma franquia, se essa imprimir sua qualidade superlativa acima do bem e do mal?

Comentários (37)

Renato Coelho | sábado, 08 de Fevereiro de 2014 - 22:44

Gostei do filme, divertido e descontraído. Só discordo que tenha sido a melhor interpretação do DiCaprio. Estava melhor em Os Infiltrados.

Reginaldo Almeida | domingo, 09 de Fevereiro de 2014 - 10:38

Martin Scorsese, é o cineasta vivo mais indicado ao oscar, e o 2º da historia ao lado de Billy Wilder. É a sua 8º indicação. O mais indicado é Willian Wyler 12 vezes (dificil de ser batido).

Cristina Tristacci | quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 - 11:34

Um dos melhores filmes que assisti na última temporada! Vida longa ao Scorsese!

Paula Lucatelli | terça-feira, 13 de Janeiro de 2015 - 01:02

Minha análise: https://identidadecinefila.wordpress.com/2014/08/19/analise-profunda-o-lobo-de-wall-street/

Faça login para comentar.