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Críticas

Cineplayers

Um filme que segue a linha Pulp Fiction de ser, mas sem a mesma violência e a mesma competência.

6,0

Um ano após voltar ao estrelato com Pulp Fiction – Tempo de Violência, John Travolta protagonizou esta comédia que segue a mesma linha da obra-prima de Tarantino, porém com muito menos violência e humor. É uma versão light do longa, dirigido por Barry Sonnenfeld, o mesmo por trás dos dois Homens de Preto. Se o filme foi um estouro, faturando mais de 70 milhões de dólares apenas nos EUA, hoje em dia perdeu um pouco de sua força. Isso porque inúmeros filmes do gênero ‘comédia com situações violentas’ foram lançados após O Nome do Jogo, todos melhores e mais completos.

Conta a história do gângster Chili Palmer (John Travolta), que viaja à Los Angeles para cobrar uma quantia que Leo (David Paymer) deve a seu chefe. Profundo amante da sétima arte, Chili conhece Harry Zimm (Gene Hackman), um produtor de filmes B que diz ter um perfeito roteiro em mãos e quer transformá-lo em filme. Só que Chili aproveita de sua malandragem e tenta fazer com que Zimm produza uma idéia sua sem que perceba, achando que está produzindo tal roteiro, ao mesmo tempo que enfrenta a concorrência para a produção do longa e o furioso chefe que vem atrás de seu dinheiro roubado.

Um dos grandes problemas do longa é que ele não aproveita bem os seus personagens. Abre um grande eixo para eles se desenvolverem e, na hora de concluir suas histórias, tudo é muito insatisfatório. A comédia, que seria um contrapeso importante para a diversão, não é suficiente e, excetuando-se apenas alguns momentos, não consegue fazer rir. A graça nesse tipo de filme é justamente ver o absurdo, o exagero, e tudo aqui está muito mais para a verossimilhança do que para um mundo fantasioso, pois a complicada história necessita ser explicada, deixando pouco tempo para as passagens cômicas. Há alguns personagens que parecem estar na história simplesmente para fazer com que tudo saia perfeito para Chili, como por exemplo Bo Catlett (Delroy Lindo). Seu maior defeito, no entanto, é a estranha sensação constante que fica de estar faltando alguma coisa.

John Travolta parece estar no piloto automático do ano anterior e traz muito de Vincent Vega para Chili Palmer, porém o deixa mais sério e confiante no seu potencial. Isso acaba por fazer parecê-lo intocável, uma pessoa fria, calculista, que nunca erra – o que não é bom. Seu ponto forte é fazer com que tudo seja muito fácil em Hollywood quando se tem dinheiro. Aliás, a metalinguagem utilizada no longa é sua melhor qualidade, pois a todo momento estamos tendo um interessante diálogo entre o próprio conteúdo do filme que nos faz pensar para entender melhor tudo o que está acontecendo, mesmo que a complicada e desinteressante trama financeira quase ponha tudo a perder.

Algumas homenagens não podem passar despercebidas por conhecedores mais ávidos do cinema. A mais clara delas vai para A Marca da Maldade, de Orson Welles, que tem algumas passagens importantes de sua trama mostradas quando Chili está no cinema. Outro ponto forte do longa é a sátira ao perigoso mundo da máfia. Se a comédia em Pulp Fiction é utilizada a partir do humor negro, aqui os poucos acertos nesse sentido provém da ridicularização do meio, onde tudo parece ser muito fácil para uns e difícil para outros. Uma das melhores cenas do filme, porém, vem do estilo Tarantino de ser, o modo como Chili expulsa Barboni de seu escritório.

Há ainda um Danny DeVito praticamente sumido, que aparece em alguns raros momentos do longa sem muito destaque, como um ator de sucesso que Chili quer em seu filme. Vai ver foi para dar uma força ao longa, já que ele também é produtor da obra e obviamente tinha interesse que ela fosse comercialmente bem sucedida. Rene Russo interpreta Karen Flores, uma atriz de sucesso que embarca na confusão toda porque, adivinhem, se apaixonou por Chili (ó, que surpresa). Dennis Farina como Barboni possui as características mais marcantes, como sua cicatriz na testa e o nariz inchado, porém é inexplicável o fato dele ser todo frouxo na primeira metade do longa e, do nada, se tornar um cara durão em sua segunda metade.

Apesar de todos os defeitos, O Nome do Jogo não é de todo ruim por causa de alguns poucos momentos e de uma trilha sonora bastante divertida. É um filme leve, que não chega a ficar insuportável em nenhum momento, e tem alguns raros momentos realmente engraçados, que garantem a diversão. Tem pretensões, mas acaba sendo apenas um bom passatempo para aqueles que já esgotaram suas opções do gênero. Para quem ama cinema, uma curiosidade a mais. Uma interessante reflexão sobre os bastidores de Hollywood, que patina em diversos pontos escorregadios, mas que pelo menos consegue parar em pé no final.

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