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Críticas

Cineplayers

Pessoal, mas sem ressonância.

4,5

Fazer cinema na Palestina não é tarefa das mais fáceis. O diretor deve ter uma posição muito clara sobre quais imagens de seu (não-)país ele quer levar para as telas estrangeiras, e ao mesmo tempo dialogar com seu próprio povo, seja os que moram na Palestina ou pertencentes à diáspora. Elia Suleiman parece ser o grande cineasta palestino do momento, mas seu último filme, que estreou no Festival de Cannes 2009, é extremamente decepcionante.

O Que Resta do Tempo não passa de um rascunho de boas intenções, nas quais Suleiman caminha pelo seu próprio passado para nos mostrar a transformação da sociedade palestina desde a invasão de tropas britânicas e a subsequente criação de Israel, e consequentemente o início do calvário de seu povo. Porém, uma coisa importantíssima que deve ser ressaltada é que em nenhum momento Suleiman defende a extinção de Israel ou vai contra o país vizinho / ocupador, mesmo ao demonstrar o incrível ódio que a população tem. Por sua vez, demonstra como a invasão e sucessiva ocupação cada vez mais opressora afetou de forma impactante os palestinos.

O foco do filme é nos pequenos detalhes, nas confusões em família, nas memórias escolares, nos bares com os amigos. Depois de retornar da França, um homem (o próprio cineasta) pega um táxi no aeroporto em direção ao desconhecido. Acaba sendo transportado para a casa aonde cresceu, onde testemunha as mesmas brigas entre seus pais, um vizinho que fica ameaçando se matar, entre outras coisas.

Nota-se claramente que foi um filme realizado do coração de Suleiman, mais pessoal impossível. Mas ele falha ao tentar passar todos os sentimentos que o permeiam para o espectador através de seus planos. Qualquer emoção (ou falta de) ali impregnada não atinge quem está do lado de cá da tela, como deve ter atingido e muito o diretor, criando assim um grande elefante branco na sala de cinema, em que se imagina o significado que aquelas imagens deveriam provocar, mas o que toma lugar é um grande sentimento de imunidade.

Sozinhas, até que as imagens possuem o lugar de divertidas esquetes, como aquela que acontece numa apresentação de coral, mas depois de um tempo causa fatiga. Outro problema é a falta de coesão entre as diferentes histórias, e é importante ressaltar que aqui coesão não significa exatamente uma relação entre as diferentes lembranças e sim um caminho que o diretor pretende seguir com seu trilho de pensamentos.

Ao invés de compor um panorama, seja da sociedade como um todo ou da experiência individual em crescer e viver na Palestina, Suleiman simplesmente cria algumas cenas engraçadas que não conseguem se infiltrar em um contexto maior, causando uma sensação frustrante no espectador, e imagina-se no diretor também.

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