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Críticas

Cineplayers

Um filme da velha Hollywood envelhecido e sentimental.

7,0

O Sol É Para Todos é um típico filme do Oscar: longo, enfadonho em várias passagens, departamento técnico pesado e que frequentemente chama mais atenção que o enredo, atores conhecidos – não necessariamente bons no ofício –, com um diretor apenas correto dirigindo uma história com alguns traços de originalidade de maneira açucarada, acadêmica e rebaixada, entulhando o filme de clichês. De Quem Quer Ser um Milionário? a O Curioso Caso de Benjamin Button, ou mesmo esse To Kill a Mockingbird, a praga do Oscar atinge a todos.

Gregory Peck venceu como melhor ator tanto em Cannes como no Oscar pela sua atuação do advogado carola que defende um negro da acusação de estupro de uma branca no sul racista dos EUA na década de 1930. Foi um dos poucos prêmios que o filme conseguiu amealhar (afora roteiro e fotografia em preto-e-branco) no ano em que Lawrence da Arábia triturou os demais adversários em 1962, entre eles O Que Teria Acontecido a Baby Jane?, Doce Pássaro da Juventude e Longa Jornada Noite Adentro.

Ou seja, Gregory Peck venceu Peter O’Toole, que no filme de David Lean fez um o militar gay defendendo o império britânico na África enquanto tinha um caso com um muçulmano entre uma tempestade de areia e outra no deserto do Saara. O’Toole tentou o resto da vida botar a mão na estatueta (foi indicado mais quatro vezes), mas nunca conseguiu (na última, em 2005, perdeu para Forest Whitaker, este em O Último Rei da Escócia). Mas conseguiu um honorário em 2003.

Boa parte do sucesso (a maior parte dele) de O Sol É Para Todos (título abominável no Brasil) se deve ao livro de Harper Lee, a mais amada das vencedoras do prêmio Pulitzer. Adotando as técnicas hoje consideradas ultrapassadas do new journalism, com forte influência literária no texto jornalístico para relatar histórias investigativas, Lee teve sua visão do racismo sulista reduzida a alguns estereótipos e clichês nas mãos do diretor Robert Mulligan, diretor sem talento nem estofo intelectual para levar a história a contento.

O filme conta toda a disputa judicial na visão de três crianças: Dill, o menino feio e antipático, é baseado em Truman Capote, companheiro de infância da escritora Lee durante os verões. A menina da turma é uma intragável proto-feminista (no filme, terrivelmente falsa) que, juntos com o indefectível irmão mais velho, vivem a fazer travessuras (perdoem-me o clichê, é para combinar com o filme) no quintal de um temido vizinho, que nunca aparece. Enquanto isso, o advogado sensaborão, destruído pela morte da esposa, tenta educar sozinho os dois filhos enquanto enfrentando a cidade inteira, que queria a condenação do negro antes mesmo da apresentação de sua defesa.

Corre a piada que Gregory Peck fez, no filme, a melhor interpretaçao do Clark Kent do cinema – realmente, está a cara do caipira abobalhado que era o disfarce do Superman. As cenas do tribunal chegam a ser tolas de tão ingênuas, com longos discursos, cheios de pausas de efeitos, enquanto os negros do local endeusam o advogado branco que defendia  "um dos seus". Tanto que o reverendo diz à menina: "Levante-se, seu pai está passando".

O American Institut of Film ja considerou To Kill a Mockingbird o vigésimo quinto melhor filme da história e o melhor drama de tribunal já feito – um evidente exagero. Vendo hoje, o filme parece envelhecido e sentimental, com um roteiro que deixa explícita toda a manipulação e um time de crianças nada animador. Enfim, uma obra menor da velha Hollywood, que come a poeira da história. Mas nos EUA, O Sol É para Todos ainda continua imbatível e goza de uma reputação enorme.

Comentários (2)

Guilherme Rodrigues | quinta-feira, 22 de Dezembro de 2016 - 03:58

Aqui o Caesar incorporou um Saccomani as avessas: "O filme é bem fraco, infantilóide, besta... mas hoje a nota é 7,0"

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