Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

O filme tem seu ponto forte nos bons diálogos e conflitos entre os personagens.

7,0

Neste ano, Sam Garbarski recebeu muitos elogios por seu novo filme, Irina Palm, que foi ovacionado no Festival de Berlim, e era considerado, por muitos, o favorito ao Urso de Ouro. Porém, quatro anos antes de fazer sucesso no festival alemão, Garbarski lançou O Tango de Rashevski, produção que ficou engavetada por algum tempo e só agora chega aos cinemas nacionais. 

O filme - uma co-produção entre França, Bélgica e Luxemburgo – conta a história da família Rashevski. Tudo começa com a morte de Rosa, a avó, uma judia que odiava a religião judaica e seus rabinos. Com o falecimento da avó, os Rashevski ficam perdidos. Eles não sabem como agir, nem como enterrar Rosa, que mesmo odiando a religião, já havia comprado um jazigo em um cemitério judaico. Sem ela, os Rashevski iniciam uma nova vida, pois percebem que não conhecem direito um ao outro, já que a avó era considerada o elo da família (um personagem chega a dizer isso no começo do longa). 

O Tango de Rashevski é lento, mas não cansa. O filme é um grande passeio pela religião judaica e seus costumes, mostrando-nos dos judeus ortodoxos aos liberais. Os Rashevski são uma família com integrantes que divergem em suas opiniões sobre a religião. Nina (Tania Garbarski), por exemplo, percebe com a morte da avó que, para ela, a religião deve fazer parte da vida. Ela passa a fazer questão de ter um marido judeu, mas não um judeu qualquer. Nina quer que ele seja praticante e que tenha sido criado em meio aos costumes da religião. Já, como contraponto, um outro personagem, integrante da família, chega à conclusão de que não quer seguir os costumes da religião, talvez, por ter passado a vida sem se sentir inserido na comunidade judaica, como ele mesmo afirma em um determinado ponto do filme, ao dizer que, no enterro de Rosa, sentiu-se, pela primeira vez, um judeu de verdade.

O filme coloca seus persongens em situações de conflitos, ou de dúvidas, mas que de alguma forma acabam se solucionando. Com a morte da avó, os Rashevski começam a conhecer e a entender melhor o modo de pensar e agir de seus parentes. Cada qual encara a vida de um jeito, mas todos sabem que, não importa o que pense cada um, não há uma maneira certa ou errada de se viver. No fundo todos têm sua pitada de razão. O necessário é que as pessoas consigam viver de uma maneira feliz. E se algo na vida não der certo, se a saudade apertar, não tem problema, basta dançar um belo tango, nem que para isso, a música e a parceira estejam apenas na imaginação. 

O novo trabalho de Sam Garbarski se mostra um filme agradável, sem exageros. Se o filme não alça grandes vôos, também não há do que reclamar. Garbarski é diretor e roteirista – divide os créditos com Philippe Blasband – de O Tango de Rashevski, e ele não decepciona nas funções que desempenha. O roteiro escrito a quatro mãos tem como ponto forte a qualidade dos diálogos os quais proporcionam discussões interessantes entre os personagens. Há frases inesquecíveis, que a todo tempo parecem estar concluindo um ponto da trama, como forma de chegar à solução dos contratempos da família. A velocidade lenta do filme – reafirmo que não cansa – é proposital, e causada pela forma como Garbarski resolveu filmar. Ele optou por mais momentos em que a câmera está imóvel, ou se move vagarosamente, como se dessa maneira ele estivesse fazendo constantes retratos da família.  O trabalho de fotografia ficou por conta de Virginie Saint-Martin, que optou por usar tons escuros de cores, deixando os ambientes sombreados. 

A liberal família Rashevski, com seus diversos integrantes, acaba nos apresentando a histórias de amor, amizade e relacionamentos, por meio de um levemente humorado drama, contado com uma dose de tango, que é uma dança judaica. Se algum personagem não aceitar muito bem sua origem religiosa e preferir, pelo motivo que for, viver afastado da religião, será a dança que o fará relembrar suas origens. Uma homenagem às diferenças – sejam elas quais forem - e à crença judaica. A maneira encontrada para fazer tal homenagem é o que acaba sendo mais interessante: uma família que, apesar de não negar sua origem, vê a religião como um problema.

Comentários (0)

Faça login para comentar.