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Críticas

Cineplayers

De forma leve e descompromissada, como uma boa sátira, Obrigado Por Fumar atira em direção à indústria tabagista e outras potências dos EUA.

7,0

Filmes políticos e sociais estão em alta nos últimos anos. Com a impopularidade de Bush e companhia mundo afora, nada mais fácil do que falar mal da administração e dos costumes norte-americanos. Obrigado por Fumar é uma espécie de sátira à indústria de tabaco, e aproveita para tirar sarro também da indústria da bebida e das armas, além de tirar casquinha de Hollywood. Quatro potências estadunidenses. E o filme faz isso de forma despretensiosa, nunca se levando muito a sério. É, no final das contas, uma agradável comédia social com toques de documentário, bem dirigida e que sabe apontar nas direções corretas quando realiza suas críticas.

Sim, cigarro mata! Mas não há um só culpado. A indústria é vilã; o governo também. Mas quem compra o cigarro tem mais culpa ainda. Creio que esse seja o melhor ponto de todo o filme. Em meio a sátiras, cenas familiares, conflitos e piadas governamentais, essa é a mensagem que deveria ser captada pelas audiências. Afinal ninguém é um robozinho sem opinião própria, embora a grande massa se comporte como tal. A mensagem é óbvia e direta, e apresentada de forma bastante feliz pelo diretor Jason Reitman, que não havia feito nada interessante até o momento (que tivemos a chance de conferir, ao menos).

Também é um veículo perfeito para um ator como Aaron Eckhart, que sempre ficou renegado a segundo plano em um número enorme de filmes que já fez, como O Pagamento e O Núcleo (onde ele era o mocinho, porém o filme é tão ruim que fez mais queimar o ator do que promovê-lo). Sua interpretação de lobista da indústria tabagista é cara-de-pau e correta, como o personagem exigia que fosse. É um bom personagem pois, mesmo sabendo que é um canalha, faz a audiência torcer por ele, pelo carisma e habilidade de conversar e convencer. Feliz também foi a decisão de manter toda a parte pessoal de sua vida – família e filho – em um plano de não muito destaque dentro do filme, deixando demagogias e cenas sentimentais totalmente de lado – e o filme poderia render muitas delas. Crash que o diga!

Mas não é só para a indústria do cigarro que o filme se volta. Hollywood também é alvo de sátira (algo que adoram fazer, Hollywood gozando de si mesma), e para quem curte cinema clássico há um bom apanhado de referências que tornam tudo ainda mais aprazível. É claro que o público maior não vai se interessar, bem pelo contrário, este é um trabalho menor que não vai despertar a atenção em meio a tantos filmes mais fáceis e menos sofisticados. E mesmo assim Obrigado Por Fumar não pode ser visto como nada de novo ou ousado demais. Todo o conteúdo apresentado não pode ser considerado novidade, e as principais informações que o filme passa não podem ser consideradas bombásticas. Tudo graças à própria Hollywood, que vem sendo cada vez mais crítica - há sempre cineastas novos dispostos a meter a cara e fazer cinema social, e espero que sempre haja espaço para esse tipo de filme, mesmo que fiquem nas salas menores.

Há ainda que se comentar a montagem interessante que o filme apresenta. Como foi comentado, às vezes ele adquire estética de comentário, até porque sabemos que suas críticas são justas e verdadeiras - isso tudo não é ficção. Mas o ponto negativo é a fotografia, que ficou feia, granulada e suja demais, denunciando o baixo orçamento que a produção teve. Vale destacar que isso, de forma alguma, elimina qualquer mérito artístico do filme, até porque o elenco é muito bom, mas infelizmente Maria Bello, Robert Duvall e William H. Macy têm uma participação pífia, servindo apenas como coadjuvantes com tempo em tela muito pequeno.

Não é um trabalho tão forte nem especialmente bom. É bom sim, mas de uma forma totalmente descompromissada. Para uma análise mais aprofundada e séria sobre o assunto, assista a O Informante, da época em que o diretor Michael Mann ainda não era fantoche da indústria. Há algumas cenas muito boas e não há realmente nenhum fator muito negativo que mereça ser citado. Vale, sem ressalvas, a recomendação para o público que gosta de filmes político-sociais. Apenas duvido que convença alguém a parar de fumar.

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