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Críticas

Cineplayers

O cinema nacional tenta criar uma obra-prima, mas o resultado é um drama romântico forçado.

4,0

Não há dúvida que o cinema nacional já engatou uma segunda e está acelerado para a popularidade. Já é maior que uma dúzia o número de sucessos no último ano, e isso permite cada vez mais a realização de produções mais e mais ousadas. Olga é uma delas. É um filme milionário da nova safra do cinema brasileiro. Foi promovido largamente nos meses que antecederam seu lançamento. É o principal lançamento do ano por aqui. Olga é um exemplo que o nosso mercado já está maduro e solidificado. Pois é apenas em um mercado solidificado que um filme medíocre como este poderia obter o sucesso que está recebendo e continuará recebendo por mais algum tempo, e também em seu lançamento em vídeo e DVD.

Filmes assim são necessários para um mercado que quer ser grande. Filmes assim pagam produções menores e que realmente têm algum valor como cinema. Enfim, por mais injusto que seja o sucesso de Olga, ele é importante. O mercado funciona desse jeito. Na bem da verdade, esse filme deveria ter sido lançado na televisão, onde seu formato se encaixaria mais coerentemente. Mais uma vez, a vilã é a Globo Filmes, que possui um quase monopólio sobre as bilheterias de filmes brasileiros e pode lançar o que bem entender que o público vai assistir como um carneirinho segue seu pastor. A Globo entende do que o povo gosta, sem dúvida. É fácil para ela lançar filmes que emocionam o espectador menos acostumado com cinema de verdade – o espectador de suas novelas.

Olga é, simplificando tudo, um dramalhão muito mal dirigido pelo estreiante em cinema Jayme Monjardim. Adaptado de um romance, que é a novelização de um caso real, conta a história da alemã Olga Benário, comunista que acabou se envolvendo com o grande líder também comunista Luís Carlos Prestes. Durante o governo de Getúlio Vargas, Olga foi presa e deportada para sua terra natal, indo parar na mão dos nazistas. Enfim, à princípio pode parecer um filme de teor político, mas todos os elementos históricos transcorrem muito superficialmente na tela. Monjardim quer é mostrar o romance entre Olga e Prestes, algo totalmente desinteressante e clichê, embora possa vir a chamar a atenção do – como já foi mencionado – espectador menos vivido em cinema (e a popularização do cinema nacional traz milhares desses espectadores para assistirem a um filme como este).

A direção de Monjardim é incrivelmente tola. O filme simplesmente não funciona efetivamente como cinema. O diretor demonstra sua falta de experiência ao não saber aproveitar o dinheiro para o qual foi confiado, desperdiçando a chance de pelo menos criar uma obra bonita. A fotografia é bonita sim, mas é extremamente mal aproveitada. Cenas inteiras do romance entre Olga e Prestes poderiam muito bem ter ficado de fora da edição final para, quem sabe, serem lançadas apenas posteriormente em DVD. Todo o processo de mostrar os dois se apaixonando é extremamente irritante e usual – você já viu isso antes. Cenas como as de sexo, ou a da separação entre os dois são novelescas ao extremo – extremo mal gosto. Os personagens, então, são vistos como bobos, pois seus idealismos perdem-se em meio a palavras de amor sofríveis. Tudo é mostrado como em uma grande novela, e por isso pode-se dizer que foi perdida uma chance de se criar um pequeno clássico no cinema nacional.

Retifico-me: não creio que mesmo na mão de um bom diretor de cinema o filme poderia se tornar um clássico. Mesmo que retirassem ou dessem menos espaço para o romance, a história de Olga Benário não tem muita relevância no cenário nacional. É apenas uma entre milhões que sofreram perseguição na primeira metade do século passado. Não chegou a realizar grandes feitos, mesmo sendo uma mulher de garra. Enfim, não é fácil encontrar alguém que tenha conhecido a pessoa de Olga antes da realização desse filme. A interpretação irregular (às vezes irritante, às vezes intensa, embora na maioria delas forçada) da atriz Camila Morgado pode ser perdoada, então, pela fraqueza de sua personagem. Mesmo o momento clímax de sua interpretação (referente a um bebê) soa forçado e desnecessário para a trama. Ah sim, a partir da deportação de Olga para a Alemanha, nada de realmente interessante mais acontece: Prestes e Olga estão separados e o filme torna-se ainda mais vazio de conteúdo.

Todos os coadjuvantes aparecem e saem da tela sem brilho algum: mesmo Osmar Prado como Getúlio Vargas possui um papel rápido e sem destaque. Fernanda Montenegro, embora interprete bem seu papel, não tem utilidade maior na trama – mais um corte que poderia ser feito. Prestes, interpretado por Caco Ciocler, não tem também destaque algum com seu personagem visivelmente também enfraquecido pelas cenas de romance. O filme, além de tudo, tem uma edição confusa, seu início, na tentativa de criar maior emoção, mostra Olga como criança, artifício totalmente desnecessário que não consegue dar profundidade maior nem justificar a personificação de Olga como uma idealista. Outra passagem que poderia ficar de fora é referente a Olga e seus pais. O roteiro, juntando-se tudo isso, se mostra bem primário e inocente, merecedor de várias revisões que, obviamente, acabaram não acontecendo.

Outro ponto irritante do filme é o seu manipulismo. Típico de televisão, esse artifício é uma grande e negativa cara-de-pau se levado ao cinema de forma tão evidente. Closes em rostos tristes; choro incessante de bebê; câmera lenta quando a protagonista apanha dos nazistas; música melosa nos momentos tristes e cenas de romance... exemplos não faltam pra ilustrar a manipulação que Monjardim tenta executar em seus espectadores. Finalmente, outro dos pontos irritantes é a insistência em misturar as línguas no filme. Uma hora Olga fala alemão para em seguida falar português. Não há problema em ambientar, mesmo que o filme se passe na Alemanha, todas as falas para o português, desde que se mantenha um padrão. Não há justificativa para as idas e vindas das línguas faladas durante o filme. Outra escolha errônea do diretor.

Os pontos positivos resumem-se à bela fotografia (mas repito: muito mal aproveitada) e, como fator externo, a demonstração da evolução técnica do cinema brasileiro. Em termos de conteúdo estamos passando por uma fase muito irregular. Olga é um filme medíocre, de roteiro ordinário e atuações apenas corretas, quando não são forçadas demais. É torcer para que, a partir de seu sucesso, filmes realmente importantes e com conteúdo sejam produzidos – espera-se apenas que não seja pela Globo Filmes.

Comentários (1)

Kennedy | sábado, 27 de Agosto de 2011 - 00:18

Nunca vi o filme. Só ouvi falar. Em suma, achei essa crítica muito preconceituosa, ou melhor, discriminatória.

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