Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

De igual para igual.

8,0
Fábio Bittar tem uma característica que talvez o aproxime do Adam McKay de outrora. Aproximado da comédia, desenvolveu uma maneira delicada de rastrear os lugares de relevo nos universos a que se dedica, portanto elevando além do seu potencial cômico, que já será o foco. Garantindo o humor  como amarra principal, seja através do seu elenco ou de uma prerrogativa de roteiro, Bittar parte para apoiar novas curvaturas dentro do material. No caso aqui é o terror, e não necessariamente o terror apenas, banal e corriqueiro; assim como fez com a sátira/homenagem às comédias escolares na colaboração anterior com o infame Danilo Gentilli - Como Ser o Pior Aluno da Escola - os anos 80 voltam a ser o alvo, mesmo que a base agora seja outra.

Dessa forma, Bittar vai além do que oferece os diretores de comédias comerciais nacionais das últimas décadas. Ele não apenas tem talento na condução das cenas, repletas de camadas imagéticas, planos bem compostos e de construção criativa, como também tem um conceito a seguir, uma diretriz de como montar um modelo de filmografia particular, investigando as matrizes do cinema de larga escala norte-americano da década de 80, e reimaginando essa paleta em narrativa nossa, que não apenas faça sentido aqui como principalmente seja verosímil ao nosso olhar. Acaba adaptando a nossa realidade, nossas lendas urbanas, para expandir um universo moderno e jovem, de interesse expandido. Seu talento chega a dar conta também de traduzir um ambiente tipicamente estrangeiro para cá, injetando vitalidade a um olhar que poderia se perder na transferência de tempo e de espaço.

O filme então, que abre da forma mais descompromissada possível, aos poucos revela não apenas sua própria natureza como abre esse olhar para a construção que Bittar está fazendo do próprio lugar enquanto cineasta. O que parecia uma sátira mordaz acaba tomando pra si elementos do 'gore' e do 'slasher' por excelência, não apenas como uma homenagem a uma década ou a uma subdivisão do terror, mas incorporando elementos definidores do mesmo, e se metamorfoseando num exemplar típico da categoria. O filme capta pra si então a atmosfera lúgubre, passa a apresentar quantidades cada vez maiores de sangue derramado (até literalmente chover!), abusa das cenas grotescas de embrulhar o estômago, e termina por conseguir reproduzir até mesmo alguns bons 'jump scares'. Tudo isso embalado em uma produção de primeira linha, com maquiagem e efeitos especiais capazes de impressionar.

Lógico que um filme estrelado por Danilo Gentilli e Dani Calabresa, com participações de figuras como o apresentador Ratinho, não seria necessariamente um filme de terror (ou comédia) comum. Aliás, se tem algo que o público pode fazer é tentar sublimar a presença de Gentilli, uma figura por quem muitos nutrem profunda e justa antipatia. Pode ser difícil (já que se trata de um dos protagonistas), mas tente centrar a atenção no melhor do elenco, o surpreendente Murilo Couto, uma revelação no cinema esse ano do quilate de Daniel Furlan ano passado, em atuação hilariante. A própria Dani como sempre demonstra a grande atriz que é, e só do filme trazer de volta a ótima Bárbara Bruno aos holofotes, poderíamos considerar o trabalho da produção como sendo bastante acima da média, não tivesse o próprio filme apresentado material de sobra pra elogios.

A história, mesmo que pareça um remix de tantas experiências gringas no cinema, marca o circuito não por chegar de mansinho e pedindo licença para existir. Há uma ousadia arregaçada em Os Exterminadores do Além..., uma vontade de brigar com os gigantes sem medo de ser inferior, até porque não o é mesmo. Essa coragem de se colocar no patamar igual e buscar o mesmo lugar ao sol que a concorrência conquista o espectador cena a cena, e fica claro que para o cinema nacional não basta mais o mérito de realizar, ou a qualidade das ferramentas mostradas; tudo isso já é uma realidade. O próximo público é o público se dar conta que nós não devemos mais nada a ninguém, em área nenhuma, pelo que podemos ver. 

Comentários (3)

Walter Sampaio | sábado, 08 de Dezembro de 2018 - 19:24

concordo plenamente com o comentario anterior

Robson Oliveira | sexta-feira, 01 de Fevereiro de 2019 - 11:25

uma surpresa agradável, com personagens caricatos o que já é de costume no gênero, muito gore, e que tem seus momentos cômicos, se deixem levar pelo filme sem muita exigência e irão curtir. Gostei e também achei acima da média!
excelente analise Carbone!

Walter Prado | sexta-feira, 01 de Fevereiro de 2019 - 16:48

"se deixem levar pelo filme sem muita exigência e irão curtir."

Anos que eu ando por estes fóruns e ainda não consigo entender o que significa este tipo de frase...

Faça login para comentar.