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Críticas

Cineplayers

Um desequilibrado retrato de parte obscura da história do Holocausto.

5,0

Sendo o Holocausto um tema bastante saturado em livros, cinema ou qualquer outra mídia, este Os Falsários apresentava-se como uma oportunidade de redimensionar o assunto a partir de um contexto praticamente inédito: a utilização de especialistas em falsificação judeus por parte dos nazistas para desenvolverem moedas e documentos falsos de dentro de um campo de concentração, a fim de utilizá-los como sobressaliência no confronto direto contra os ingleses e seus parceiros. O objetivo principal era provocar abalo na economia dos Aliados, e diante do sucesso da empreitada os inúmeros judeus que participavam da operação começam a se questionar sobre a responsabilidade de estarem jogando contra seu próprio povo, gerando em si mesmos um incontornável conflito moral.

O que pode-se concluir de imediato é que Os Falsários é um filme pra lá de confuso e desequilibrado, provavelmente por ter sido construído sobre conflitos de interesse ou pela falta de habilidade em conseguir unificar os objetivos díspares de produtores e do diretor em questão, o alemão Stefan Ruzouwitzky. Existe acima de tudo o desejo de utilizar o filme como veículo de reconstituição histórica, e justamente por isso a ideia amplamente comercializada por Ruzouwitzky à época de divulgação do filme (que como de costume em produções deste porte chega dois anos atrasado aos cinemas brasileiros) de que este é um filme de entretenimento cai por terra, já que o despojamento pretendido – e realmente atingido em algumas seqüencias sem que com isso fosse rompida a barreira do politicamente correto,  uma preocupação habitual e até compreensível em filmes do estilo - é constantemente enterrado em prol deste ideal de documentação histórica.

Com isso, a cada boa sacada de Ruzouwitzky – como na cena em que os nazistas presenteiam os falsificadores com uma mesa de pingue-pongue, quando o diretor consegue ao mesmo tempo encontrar-se em sua ideia de cinema e transmitir a sensação de dubiedade gerada pela ação em questão, construíndo dentro do campo de concentração uma espécie de novo mundo cercado por uma sofisticação suja e de moral duvidosa – somos subsequentemente arremessados a um filme que parece não compartilhar desta delicadeza de discurso, voltando-se ao didatismo para retransmitir ideias que são naturalmente expostas em momentos como o descrito acima, só que de modo banal, explícito e compromissado com o quanto a cena transmite de confiabilidade na veracidade dos fatos.

Nestes momentos, que infelizmente são a regra, Os Falsários perde força e parece soar como um mero veículo de viés histórico, prendendo-se a questões que pareceriam-me muito mais importantes se trabalhadas implicitamente debaixo da ideia de farsa utilizada nos momentos mais interessantes do filme. O roteiro demonstra uma necessidade de registrar em cerca de uma hora e meia de material todas as conseqüências que a ação pode exercer sobre aqueles homens, mas atropela tudo em um filme que em virtude desta polivalência de emoções acaba se desvirtuando de sua linha de condução - e fazendo com que cenas como a de quando um dos integrantes do grupo encontra fotos de familiares dentro de um arquivo de execuções de Auschwitz não tenham tempo suficiente para exercerem sua força dramática.

Como não poderia deixar de acontecer em uma obra tão politicamente correta e exageradamente compromissada com a história há também o problema de que pelo menos um terço de filme é disponibilizado à questão moral refletida pelo trabalho judeu à serviço dos alemães, que termina por deixar mais bagunçado um filme que já não conseguia equilibrar suas diferenças de intenções. Aliando-se a isso a besta estética made in Sundance Festival (câmera sempre suspensa, à mão, com enquadramentos desajeitados e zoons esquisitos) que incompreensívelmente perdura durante o filme todo, mesmo quando decide-se tomar por objetivo principal o que há de mais dramático na situação, temos em Os Falsários uma esquizofrenia murcha que só não se transforma em desastre completo pelo interesse que esta inusitada dupla-realidade, ainda que mal aproveitada, apresenta.

Comentários (2)

Conrado | sábado, 28 de Janeiro de 2017 - 06:20

Essa foi a pior coluna que eu já li sobre algum filme. Não só por discordar de praticamente tudo que foi falado, mas por observar uma certa contradição: o autor da crítica se esforça pra elaborar um texto extremamente prolixo para citar cenas que referencialmente foram mencionadas como "boas sacadas", e se enrolando ("confiabilidade da veracidade") pra reclamar do filme não ter se focado em nada.
Veja bem, a minha opinião é de que o que você apresentou de construtivo não daria um parágrafo, e seria bom para evitar as vírgulas em excesso. Em tempo, há de se concordar em algo. O filme, de fato, não dá tempo para os atores desenvolverem seu potencial dramático como na cena que você citou da morte da esposa de Burger.
Achei interessante a abordagem do filme, que poporciona um viés diferente, uma visão inclusive econômica sobre a guerra, uma personagem forte, como Solomon, além de pincelar com sofisticações como o som dos pássaros e o olhar pro horizonte.
Os Falsários, como nome.
Nota 9,0

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