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Infiltrados, Os

(Departed, The, 2006)
8,3
Média
1475 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Uma aula de cinema em todos os aspectos.

7,0

Desde a colonização dos Estados Unidos mostrada em Gangues de Nova York até o choque contemporâneo entre duas esferas opostas neste Os Infiltrados, a longa carreira de Martin Scorsese, com raras exceções, tem a enraizada violência na sociedade americana como objeto de estudo. E é retratando a marginalidade, com a qual ele cresceu no bairro novaiorquino do Queens, que ele sente-se mais à vontade, vide os exemplares Os Bons Companheiros e Cassino, este último sua última investida em tal microcosmo, há mais de dez anos atrás. 

É sempre um prazer absoluto assistir a um ás do cinema, indiscutivelmente um dos cineastas mais importantes e influentes da história, de volta à sua boa forma. Após dois filmes falhos (Vivendo no Limite e o já citado Gangues de Nova York), Scorsese mostrou que ainda tinha muito a colaborar com o cinema com a biografia de Howard Hughes, O Aviador, um ótimo exercício de estilo, mas que ainda estava um degrau abaixo de seus melhores trabalhos. Nesta refilmagem de um cultuado policial de Hong Kong, Conflitos Internos (disponível em DVD no Brasil), que Scorsese volta ao mundo da máfia e acaba por entregar algo visceral, tecnicamente perfeito e digno de estar no mesmo patamar de seus melhores trabalhos.

Os Infiltrados é um filme que versa basicamente sobre renúncias - dois personagens que largam mão de suas existências em prol de uma causa maior (o título original, muito mais poético que o nacional, traduz bem isso – "the departed", algo como aqueles que partiram, que deixaram a vida para trás): Billy Costigan (Leonardo DiCaprio, sensacional) é um policial de raízes nebulosas que, prestes a conseguir uma promoção, aceita voltar às origens para tentar desbaratar uma quadrilha de imigrantes irlandeses de traficantes de drogas, comandada pelo experiente Frank Costello (Jack Nicholson). Em seu oposto, há Colin Sullivan (Matt Damon), menino que cresceu sob as asas do próprio Costello e acaba se tornando um bem-sucedido policial estadual, auxiliando os negócios de seu "padrinho".

Quando um fica sabendo da existência do outro, inicia-se um jogo de gato e rato, cada qual tentando dar um passo à frente na tentativa de identificar o inimigo. Enquanto Billy se vê ás voltas com assassinos da pior estirpe, pessoas com as quais ele tentou a vida inteira se afastar, esperando a oportunidade para terminar a missão, Colin não mede esforços, muitos dos mais sujos, para exterminar o oponente.

É nesse embate muito mais psicológico do que físico que Scorsese conta a sua história. De forma muito mais contida que em seus trabalhos anteriores, ele usa uma câmera inquieta, mas ao mesmo tempo suave, deslizando entre extremos, mas nunca perdendo o foco narrativo. É uma delícia ver uma história linear e tão complexa ser contada quase que com tamanha precisão e talento, e sem nunca subestimar a inteligência do espectador (um trabalho fascinante da montadora Thelma Schoonmaker, colaboradora habitual do diretor e uma artesã na arte de editar). 

Os Infiltados é uma aula de cinema em todos os aspectos. O roteiro, de William Monahan (que tinha estreado com Cruzada) é de um desenvolvimento ímpar (só não gostei mesmo da subtrama envolvendo a psicóloga, a ótima Vera Farmiga); a trilha de Howard Shore mescla uma música forte e canções famosas do rock and roll; o elenco é quase formidável (exceto o policial brutamonte de Mark Wahlberg), com destaque para a sóbria atuação de Martin Sheen.

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