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Críticas

Cineplayers

Sem glamour, com violência, mas também com princípios.

7,0

Os Infratores (Lawless, 2012) traz de volta um assunto bastante explorado pelo cinema norte-americano: os gângsters que agiam na época da Lei Seca, entre 1920 e 1933. A única diferença é a abordagem mais real - do dinheiro via sangue - e muito menos glamourizada pela qual Hollywood construiu o imaginário sobre os fora-da-lei. A história é sobre os irmãos Bondurant, comandados por Forrest, o segundo em idade do trio, mas o cabeça do grupo. Ele era a ponte entre a paixão do caçula Jack e a virulência do mais velho.

O grupo agia como contrabandista de bebida em uma pequena cidade da Virgínia. Naquela época, a fabricação, o transporte e o consomo de álcool estavam proibidos pela Constituição. Nos treze anos em que vigorou a restrição, o país assistiu à ascensão de gângsters, a exemplo de Al Capone. Os irmãos Bondurant, entretanto, levavam uma pacata vida, tendo a favor deles apenas a lenda urbana da imortalidade. Forrest já havia sobrevivido a situações improváveis e isso alimentava a crença popular.

Os problemas para o bando começam com a nomeação para agente especial de Charlie Rakes, interpretado de maneira afetada, mas correta, por Guy Pearce. Antes da chegada do novo homem da lei, tudo era tranquilo para os contrabandistas. A polícia local dava suporte ao tráfico de álcool em troca do benefício de comprar uísque a baixo custo. Assim, a população também se servia do produto sem maiores problemas e os irmãos ganhavam a vida.

Naquela época, a Lei Seca ia perdendo gradativo apoio da sociedade. Aliás, a proibição fora fruto de dois fatores: primeiro uma pressão moral de lideranças políticas e religiosas iniciada ainda no século XIX e depois pela necessidade de economizar alimentos como consequência do período da 1ª Guerra Mundial. Ingredientes usados para a fabricação de cerveja, por exemplo, deveriam ser destinados apenas à alimentação.

Assim, o agente Rakes surge como inimigo geral. A polícia da cidade é obrigada a ajudá-lo, apesar de seus métodos controversos na caça aos criminosos. Os irmãos não aderem a um acordo feito pelos demais contraventores e se recusam a pagar mais taxa (propina) para continuar o comércio ilegal. Desse modo, a guerra está declarada.  

Em meio a isso, Jack investe em uma destilaria ilegal, escondida das autoridades, e passa a faturar alto também com a produção da bebida, além da distribuição que faziam anteriormente. Os irmãos e as pessoas à sua volta parecem sentir o risco da situação, a ponto de ele ser alertado de que não precisaria ser igual aos irmãos. Jack, sempre mais humano, era incapaz, ao contrário dos outros dois, de fazer mal até mesmo a um porco, como mostra a cena inicial.

Enquanto os irmãos usavam o uísque como forma de sobrevivência, Jack encarava a bebida como oportunidade de viver o glamour de ícones da contravenção. No fundo, tudo parecia ter o objetivo de atender aos desejos de seu coração. Com o dinheiro do novo negócio, comprava os carros do momento, vestidos para presentear a mulher desejada e adotava um visual mais adulto e formal. Vivia as benesses da grana. Mas o dinheiro sujo cobrava um preço que ele não estava habituado a pagar.

Os Infratores é, no todo, a antiglamourização dos gângsters. Neste contexto todo, os irmãos enfrentam um derramamento de sangue causado exclusivamente pelo dinheiro. A Lei, na realidade, em nenhum momento foi causa da briga com os homens do estado e com outros criminosos, apenas elemento para viabilizá-la.

John Hillcoat, em geral, acerta na abordagem, no estilo da câmara que busca os detalhes, fundamental para construir as lendas, e na direção de atores, com Tom Hardy muito bem como Forrest Bondurant, o irmão-cabeça. O filme sugere punição aos que, independente do que fazem, deixam a ética de lado e reforça a mitificação da família principal mesmo que no fundo sejam pessoas comuns. As cenas finais ilustram bem. 

Comentários (3)

Alan Principe | quinta-feira, 13 de Junho de 2013 - 19:26

É uma ótica diferente e interessante. Contudo, os personagens, realmente, foram subaproveitados. História com um potencial tremendo, mas...

Renato Coelho | quarta-feira, 30 de Outubro de 2013 - 15:56

Gostei do filme, simples, objetivo e sem enrolação.

MARCO ANTONIO ZANLORENSI | segunda-feira, 07 de Julho de 2014 - 11:51

A história é interessantíssima, merecia mais tempo, faltam amarrações, temos várias pontas soltas, uma pena pois visualmente achei o filme muito bom, ficamos o tempo todo no campo, onde a produção ocorria, diferente da maioria dos filmes sobre o assunto que são urbanos.

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