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Críticas

Cineplayers

Dos quadrinhos para a televisão, para a televisão, para o cinema.

7,5
Já não podemos dizer, com a mesma simplicidade de antes, que os produtos vinculados ao gênero de super-herói são adaptações de histórias em quadrinhos. De fato, o vasto material hoje presente no cinema e na televisão tem as HQs como um ponto comum de origem, mas no cenário atual de consumo e produção do gênero a relação entre essas mídias é bem mais complicada que uma entre material original e material adaptado. Os Jovens Titãs em Ação! (Teen Titans Go! To the Movies, 2018) é um exemplo conveniente desse cenário: adaptado de uma série televisiva, que é, por sua vez, adaptada de outra série televisiva, esta adaptada dos quadrinhos, o filme demonstra — e não apenas por continuar esse imbricado ciclo criativo — as implicações da expansão do gênero.

Os Jovens Titãs em Ação!, a série, recria os personagens da série anterior, um clássico dos anos 2000, em uma leitura mais infantil da narrativa. Para dar um exemplo, o seu primeiro episódio mostra uma das heroínas, Ravena, interessada em ficar na torre da equipe assistindo uma série sobre pôneis, e por isso manda seus companheiros em aventuras isoladas para encontrarem os ingredientes do sanduíche perfeito. O ritmo cômico do material, como o do filme que agora originou, é geralmente bom e há episódios particularmente bem escritos, mas o texto negligencia o desenvolvimento dos personagens, seu potencial dramático e suas características mais complexas.

No filme, Robin, Ravena, Estelar, Ciborgue e Mutano são confrontados pela Liga da Justiça justamente por sua falta de seriedade. Por serem super-heróis menores, desconhecidos ou coadjuvantes das histórias de personagens mais notórios, os Jovens Titãs são confrontados com uma indústria cinematográfica que os ignora ou simplesmente não está interessada em fazer um filme sobre eles. Dentro desse contexto, o filme se divide em esquetes muito parecidas, no tom e na estrutura narrativa, com os episódios da série que ainda está no ar.

Era de se esperar que, desse modo, o filme funcionasse como um episódio especial e prolongado da série, mas ele vai um pouco além disso. Os Jovens Titãs em Ação! levam ao cinema uma consideração muito interessante sobre a fronteira entre as duas mídias e o desafio posto à indústria de superá-la. Vale lembrar que essa fronteira da televisão para o cinema da DC/Warner é ainda habitada por uma produção contínua de bons longas-metragens animados lançados em VoD (Video on Demand). O público para esse tipo de produção, quando comparado ao que os mesmos personagens encontram nos cinemas, é mesmo consideravelmente reduzido. Há um entendimento, e um que não se restringe às produções da DC, do que seria um material apropriado para o cinema e o que seria apropriado para o vídeo ou a televisão.

Essa é a conta do risco: com quatro temporadas completas e mais uma em andamento, torna-se seguro levar um projeto mais cômico e infantil como Os Jovens Titãs em Ação! a um lançamento cinematográfico. Os personagens do filme, nesse caso, experimentam esse processo fora e dentro da narrativa — e, sendo assim, o humor metalinguístico está evidentemente presente. É possível dizer que o filme se aproveita de uma tendência ao autorreconhecimento nas comédias de super-herói como Deadpool e LEGO: Batman. Mas, enquanto o primeiro se apoia num discurso de superioridade em relação à indústria e o segundo não é nada mais que uma sequência de gags desesperadas por apreciação, Os Jovens Titãs em Ação! brinca com a própria posição efêmera que o filme ocupa em um gênero que tomou dimensões até pouco tempo inimagináveis na indústria de entretenimento.

Os Jovens Titãs em Ação!, mesmo que não alcance o potencial dos personagens e do cinema como linguagem, é uma vírgula necessária ao gênero, abrindo caminho para se especular (e, por que não, apreciar?) o que ele permite. O filme, com todas suas limitações, traz adiante as tensões midiáticas e formais entre as diferentes leituras produzidas. Dos quadrinhos ao cinema, passando pela televisão e o vídeo, há muitos espaços que esses personagens e universos habitam simultaneamente (e a cena pós-créditos de Jovens Titãs ressalta esse aspecto em uma surpresa particularmente espantosa). Que se permita buscar, de cada mídia, sua especificidade estética e criativa — desse modo, para além de um conjunto de franquias, talvez encontremos um gênero sólido, enfim.

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