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Críticas

Cineplayers

Testosterona é como vinho.

7,0

“Nada supera um clássico”, decreta Jason Statham antes do embate final do filme. É justamente essa a tônica de Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012): por mais que seja perfeitamente possível assisti-lo sem grande conhecimento sobre o cinema de ação brucutu dos anos oitenta, conhecer os clássicos fará do programa algo muito mais nostálgico. Ao lado do diretor Simon West, o criador da cinessérie e protagonista Sylvester Stallone reuniu um elenco formado quase exclusivamente por caras conhecidas pelos fãs do filão e, ainda mais que da outra vez, criou um filme que embarca ainda mais na proposta – e na fanfarronice que lhe era exigida.

Visto que em uma história arquetípica do cinema – o do confronto de duas forças – não era especialmente memorável em Os Mercenários (The Expendables, 2010) devido à falta de carisma e presença do General Garza e da história não tão amarrada, esse detalhe é especialmente reformulado dessa vez: de igual para igual com os eleitos heróis do filme está um astro de grande magnitude, Jean-Claude Van Damme no papel do absurdo vilão Villain - e quem achar que essa é a única piada cretina do filme, vá se preparando.

Villain, ao gosto dos apreciadores de vilões brutais que surgem como nêmesis para heróis tão brutais quanto, é tão desumano, sádico e cruel quanto antagonistas feito Richard Lynch em Invasão USA (Invasion USA, 1985) ou Vernom Wells em Comando Para Matar (Commando, 1985). Egresso das cinzas após o renascimento em JCVD (Idem, 2008), Van Damme mostra que aprendeu um truque ou dois ao compôr uma atuação posada e consciente da figura que seu personagem representa. Em poucas palavras, Villain escraviza uma pequena vila do Leste Europeu com o objetivo de desencavar cinco toneladas de plutônio para vender por uma soma considerável. Mesmo sabendo do perigo que mesmo pouca quantidade de plutônio possa causar para o planeta, Villain, fazendo jus ao nome, está mais preocupado com o dinheiro.

Stallone continua a se preocupar em escrever para si um personagem com conflitos internos – Barney Ross é um mercenário cansado, que considera mais de uma vez seriamente em largar essa vida suicida de invasões, tiroteios e explosões. Fora Jason Statham, nenhum dos seus outros personagens é aprofundado – Terry Crews (talvez o novo Fred Williamson?), Dolph Lundgren (hilário como um mercenário psicótico e com conhecimentos de química) e o lutador de UFC Randy Couture pouco falam e muito atiram, preenchendo o quesito “filme de macho” como homens fiéis a seu comandante.

O conflito pessoal e moral de Barney com Villain acontece quando o mesmo mata de forma cruel o jovem Billy “The Kid”, um garoto que tinha há pouco tempo se juntado ao grupo com a esperança de ganhar o dinheiro que não ganhou servindo o exército, já pensando em abandonar essa vida. Quando aquele que representava tudo que Barney queria ter sido é despachado de forma cruel, vem aí a motivação principal do filme: vingança, quente, real e imediata.

Salvando a direção apenas comum de West (diretor de alguns blockbusters ativo desde 1997 que substitui Stallone na cadeira da direção), que não abusa e faz o dever de casa com planos abertos para explosões, câmeras esquizofrênicas para cenas de grande velocidade e adrenalina e capricha nos filtros e na pós-produção, com uma narrativa ágil, esquemática e digerível, o roteiro é no final das contas uma grande piada metalingüística que faz jus aos papéis cuidadosamente escritos para seus astros: também fazem parte da jogada Jet Li, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger e, é claro, o talismã do time: Chuck Norris. Cada aparição é uma piada nova, e sobrem referências a O Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), Duro de Matar (Die Hard, 1988) e McQuade – O Lobo Solitário (Lone Wolf McQuade, 1983) – prepare-se para rolar de rir cada vez que Chuck entrar em cena.

No final das contas, a piada até que funciona e algumas das suas camadas, ainda que não muito bem desenvolvidas, acabam salvando o filme do esquema de cenas de transição entre cenas de ação, ao tentar humanizar seus personagens com vidas fora daquela carreira suicida – não só nas cenas de Statham falando no celular com a namorada enquanto vasculha um terreno perigoso, há também o par romântico de Barney – Maggie Chang, uma chinesa habilidosa e mortal que, ao contrário das suas contrapartes oitentistas é uma personagem feminina forte e com voz entre aquele monte de músculos e testosterona.

Nesse jogo precisamente orquestrado de expectativa e tensão seguimos até um duelo de fato empolgante de verdade entre Barney e Villain (o melhor do cinema brucutu em anos) e uma posterior reflexão sobre a idade – que termina num final à la faroeste com o “caubói” vendo que o mundo convencional não é o seu lugar. Os Mercenários 2 mostra que os dinossauros ainda pisam firme e fortes na terra do cinema comercial – já é líder de bilheteria há duas semanas nos EUA. Uma sensação reconfortante saber que em tempos de limpeza estética, um filme com músculos exagerados, veias pulsando e carrancas amarradas que não nega fogo em matéria de sangue e gore – não chega a competir com pérolas da brutalidade como Comando Para Matar, mas ainda assim nada mal – ainda tenha seu espaço. As rugas aparecem, os cabelos caem e o colágeno não está mais tão firme. Mas se o assunto é testosterona, pode ter certeza que Stallone ainda pode chutar alguns traseiros politicamente corretos de volta para a casa de suas mamãezinhas.

Comentários (19)

jorge lucas | terça-feira, 04 de Setembro de 2012 - 03:01

Chamar a rapaziada pra ver esse épico. Vou gritar q nem um alucinado quando cada personagem aparecer pela primeira vez no filme kkkkkkkkkkkkkkkkk

Marcos Paulo Ferreira | terça-feira, 04 de Setembro de 2012 - 17:56

É sensacional! Explosivamente envolvente, engraçado e faz pular as veias. 😈
Penso que seja o melhor de ação dos últimos tempos. Há de tudo, até Chuck Norris, e este simplesmente fantástico. Com certeza, no cinema, ainda o assistirei mais algumas duas vezes. 😁

Alexandre Marcello de Figueiredo | quarta-feira, 28 de Novembro de 2012 - 19:58

Pancadaria, tiros e explosões para delírio dos fãs desses brucutus, que apesar da idade de alguns, ainda estão em plena forma. JCVD está ótimo como um vilão impiedoso e as aparições de Chuck Norris é garantia de riso. É sem dúvida o melhor filme de ação do ano. Já estou na expectativa do 3º filme.

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