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Críticas

Cineplayers

Filme familiar apresenta o Jim Carrey comediante que aprendemos a amar.

5,0

Quem acompanha a carreira de Jim Carrey, pelo menos desde seu início nos cinemas, sabe que uma das principais aspirações dele como ator era a de fazer papéis dramáticos relevantes. Chegou a fazer O Mundo de Andy (Man on the Moon, 1999), sobre o comediante Andy Kaufmann, e recebeu ovações da crítica e esnobismo do público. Em um sistema onde o dinheiro manda, ele estaria fadado a reviver o mesmo personagem até o fim de sua carreira? Alguém que conquistou fama e respeito pelas suas expressões faciais, movimentos corporais, timing cômico apurado, deveria ver isso como uma benção ou uma maldição?

A pergunta acima somente mesmo Carrey poderia responder. Em Sim Senhor! (Yes Man, 2008), porém, filme recente e extremamente burocrático do ator, havia sentido ele um tanto cansado ao fazer o mesmo papel de sempre. Mas o filme funcionou bem, obteve um sucesso razoável. Independentemente do fato de ter importância nula para o cinema, Carrey estava lá com suas caras e bocas, um tanto envelhecido, é verdade, mas satisfez ao fã médio do ator, pelo menos posteriormente em home vídeo (formato mais adequado para o filme).

Chegamos a Os Pinguins do Papai (Mr. Popper's Penguins, 2011). Carrey mais uma vez é o Carrey de sempre. De caras e bocas, de trejeitos e palhaçadas. Ele praticamente brinca em cena – algumas brincadeiras que normalmente ficariam de fora na ilha de edição e entrariam em extras da versão caseira ficaram na montagem final do longa-metragem. Carrey está um pouco mais enérgico, nota-se. Não é o mesmo de antigamente – talvez nunca mais o vejamos daquela forma dentro desse gênero, mas sua atuação funciona e, por isso, talvez o filme funcione. Trata-se de um filme de matinê, sem tirar nem pôr, tem o arco dramático esperado, lição de moral, piadas engraçadas, é todo voltado para a família, sem sexo ou violência.

O que traz certo diferencial à obra é um clima delicioso do cinema da Era de Ouro de Hollywood – das décadas de 1940 e 1950 –, daquelas comédias onde o casal passava discutindo o tempo todo, envolvendo situações embaraçosas (principalmente para o marido) e assistir a algo assim era uma atividade de inocência, a qual o espectador sabia ser limitada, mas não se importava, pois era tudo pelo prazer de ver atores divertidos interagindo durante 90 minutos. O set de Nova York só faz ajudar essa sensação. Na realidade, possivelmente ela deriva justamente por causa dele. Faz lembrar obras deliciosas (e com o mesmo clima) daquele cinema antigo, como Um Casal do Barulho (Mr. & Mrs. Smith, 1941) e Lar, Meu Tormento (Mr. Blandings Builds His Dream House, 1948).

O diretor Mark Waters acertou totalmente no tom, em meio a efeitos digitais e clichês quase centenários – e tantos outros problemas óbvios desse tipo de cinema, de forma que citá-los seria redundância – até porque eles estão lá quase que propositalmente. No final das contas, é uma obra mais do diretor e do roteiro do que de Carrey, que faz o que sempre fez, com certo vigor que a sua cansada carreira ainda lhe proporciona. Acabou que ambos se encaixaram bem. Não é um filme para arrasar quarteirões, é uma atividade de entretenimento menor em meio a gigantes de orçamentos e efeitos especiais.

É irrelevante comentar o aspecto do animal do filme, o pinguim. Poderiam muito bem ser macacos, ou mesmo vespas. Bem como é irrelevante citar a importância (ou irrelevância) da mensagem do filme – uma quase adoração subliminar à entidade da família e ao controle de natalidade, algo que Hollywood ama fazer. De fato, Os Pinguins do Papai poderia ser visualizado por essas perspectivas – e não seria incorreto fazer isso – mas isso seria inseri-lo no mesmo contexto de centenas de comédias escapistas e ruins a que fomos bombardeados nos últimos anos. O filme é escapista sim, mas, somada a essa “aura” especial, esta é sua principal qualidade. Em um caso raro, isso funcionou. Com Carrey ou sem Carrey, esta é uma experiência divertida e estimulante, embora ele ajude um bocado.

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