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Críticas

Cineplayers

Decepção sem expectativa.

1,0

Não que normalmente se espere alguma coisa de um filme com Ashton Kutcher nas mãos de um diretor que se especializou em comédias medíocres ao longo da última década (ainda que Legalmente Loira (Legally Blonde, 2001)  seja simpático). Quando se considera algo completamente despretensioso como Par Perfeito (Killers, 2010), o mínimo que se espera do espectador é que ele tenha o bom senso de deixar de ser xarope e assumir que está assistindo a um filme que se supõe, ele mesmo, imediatamente esquecível. Isso é algo pacificado entre cinéfilos e até entre o público “comum”, mas a explicação é necessária exatamente pra deixar bem claro o quanto Par Perfeito é frustrante, mesmo que não haja nenhuma expectativa envolvida.

A direção de Robert Luketic é tão frágil que se consegue, literalmente, ver o roteiro tal como concebido através dela. Cada tentativa de diálogo inteligente e sacada aparentemente boa no papel se convertendo uma após a outra em uma grande babaquice na tela; isso porque Par Perfeito tem uma vocação clara pra sitcom anos 90, mas sem o timing de uma sitcom, o que faz cada boa piada parecer uma piada ruim pela péssima execução. Quando Bob DeRosa e Ted Griffin (e acho que é a primeira vez que cito os roteiristas em um texto) inserem uma cena em que Kutcher grita para Heigl “abra as pernas!” e tira uma arma enorme de dentro do banco onde ela está sentada, esperam que de alguma forma aquilo se transforme em um momento engraçado. Tanto culpa de Luketic quanto do casal de protagonistas.

Ashton Kutcher tem sérias limitações — assim como tantos outros atores —, mas enquanto um Ben Stiller é consciente quanto à sua maldição de interpretar personagens tapados pelo resto da vida (porque eles funcionam), Kutcher resolveu tentar o completo oposto sem conseguir, no entanto, deixar de ser ele mesmo. O resultado é uma criatura mitológica bizarra parte James Bond parte Cara, Cadê Meu Carro? (Dude, Where's My Car?, 2000) (que eu adoro, aliás). A sorte é que Katherine Heigl é muito, muito pior. E se é pra falar de elenco (estou quebrando precedentes hoje...), o subaproveitamento de Tom Selleck é imperdoável.

Na verdade é a falta de desenvolvimento (dos vizinhos, de Selleck) que anestesia os plot points. Se descrito por um amigo, Par Perfeito vai parecer divertidíssimo. Um ex-matador de aluguel do Governo tem sua cabeça a prêmio e passa a ser perseguido por todos que ele pensava serem seus amigos (vizinhos simpáticos, colegas de trabalho, até o carteiro), mas que na verdade eram assassinos profissionais esperando uma chance para matá-lo.

Não se exige nenhuma proeza da mise-en-scène em uma comédia de verão americano, apenas uma narrativa funcional capaz de divertir o público médio, que por sorte reconhece, vez ou outra, quando é subestimado. Par Perfeito é fracasso de bilheteria, e a conta é de Bob Luketic.

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