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Críticas

Cineplayers

Cinema gay que evita o panfletarismo e acerta na sobriedade.

7,0

O argumento de Pecado da Carne é um tanto controverso. Apresentar o relacionamento homossexual entre dois judeus ortodoxos poderia, à primeira vista, ser chamariz de um público que cada vez mais quer e se vê representado pelo cinema. Por outro lado, é fácil pensar que este mesmo cinema poderia se construir de forma a potencializar uma polêmica e não trazer qualquer discussão a respeito, tornando-se mais um exemplar da gay exploitation que tem aparecido aos montes.

Lembro, por exemplo, de um filme também israelense que entrou em cartaz no Brasil há alguns anos, Delicada Relação, de Eytan Fox – que posteriormente seria melhor sucedido em Bubble -, que abordava o relacionamento amoroso entre dois oficiais do exército. Apesar do borburinho, em nada acrescia à discussão e, para piorar, nem bom cinema era.

Por sorte, o filme de Haim Tabakman demonstra ser sóbrio demais para fugir de armadilhas, como os excessos do erotismo ou do melodrama. Se a condução de Tabkman não apresenta arroubos criativos como os de John Cameron Mitchell ou a sensibilidade de um Christophe Honoré, ela tem um rigor na elaboração dos planos que permite que o filme consiga narrar com desenvoltura aquilo que se propõe, dentro de suas possibilidades, exaltando até um certo conservadorismo que seria difícil de prever.

Tabakman, em sua estreia em longas-metragens, se apropriou de um roteiro alheio, de Merav Doster, para criar um cinema de delicadezas. As limitações do texto são bastante óbvias, já que conjuga uma certa combinação de elementos já pertinentes à cartilha dos amores proibidos, mas o cineasta consegue imprimir um olhar bastante preciso na construção das imagens de forma ao que seria básico se transforme em algo instigante.

Obviamente, ele precisou da competência de seus dois intérpretes principais, Zohar Shtrauss e Ran Danker, que se predispusessem não só a embarcar em seus papéis, mas que conseguissem um entrosamento suficiente para que a verossimilhança da situação se satisfaça, já que o roteiro, equivocadamente, se esquiva de tornar plausível a aproximação entre os dois homens. O jogo de olhares funciona, aqui, melhor do que dúzias de linhas de diálogos.

Outro acerto foi que as forças externas que agem contra ao romance sejam tratadas de forma bastante superficial, mas o suficiente para deixarem claras suas intenções. Um aprofundamento nestas questões poderia não só enfraquecer a dinâmica da relação, como também torná-lo panfletário. E, disso, o filme não pode ser acusado de forma alguma.

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