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Críticas

Cineplayers

Simples, agradável e divertido. Seu maior problema é ser vítima da expectativa gerada em torno dele.

6,0

A expectativa ao assistir Pequena Miss Sunshine era das maiores. Afinal, fora aclamado como um dos melhores do ano por onde passou, virou quase que unanimidade e deu um inesperado e enorme retorno de bilheteria. Por todo esse currículo, se tornou o filme independente do ano e é, desde já, especulado como um dos favoritos ao Oscar ano que vem.

Ao final da projeção, a decepção: o filme é vítima do próprio hype. Convencional, de temática já explorada à exaustão pelo cinema indie e um roteiro que força a barra algumas vezes, o filme não faz jus à fama. Não é ruim, longe disso, mas se não fosse toda essa histeria sobre ele, talvez funcionasse melhor. 

Os Hoover são os malucos da vez. O chefe de família, Richard (Greg Kinnear, sempre medíocre), é um aspirante a guru de auto-ajuda que vê no futuro lançamento de seu livro de estréia a sua salvação financeira. Sheryl (a excelente atriz Toni Collette, mal aproveitada) é a matriarca, que tenta contornar todos os problemas da família com bom senso. Os filhos também não são lá exemplos de normalidade: Dwayne (Paul Dano) odeia a tudo e a todos e está em voto de silêncio há meses; a fofíssima Olive (a inacreditável Abigail Breslin, sem dúvidas a melhor coisa do filme – é impressionante como cinema americano consegue descobrir esses talentos infantis) é uma garotinha que, mesmo pançudinha e de enormes óculos de grau no rosto, sonha em ser miss, passando boa parte do seu tempo treinando para tal objetivo com o avô paterno Edwin (Alan Arkin, que tem os melhores diálogos), que no final da vida resolveu se entregar aos prazeres mundanos, em especial ao uso de heroína. E, por fim, há a chegada do professor Frank (Steve Carell, mais conhecido como o "virgem de 40 anos", talentoso toda vida), irmão de Sheryl, que é acolhido na família após ter tentado suicídio.

A vida de todos é radicalmente alterada quando eles têm de embarcar em uma viagem desastrada, do Novo México à Califórnia, para que a pequena Olive possa participar de um concurso de miss para garotas da idade dela. Essa espécie de "Férias Frustradas" se torna muito engraçada por conta do veículo utilizado: uma Kombi amarela, daquelas bem velhas, que quebra no meio do caminho e passa então a só funcionar quando empurrada. Cenas realmente hilárias são criadas a partir desse fato, e uma é antológica: quando um membro da família é esquecido em um posto de gasolina.

Pequena Miss Sunshine tem muitos momentos engraçados, e o seu clímax catártico, absolutamente surreal, deixa uma sensação boa. A gente sai do cinema mais leve, como se todas as agruras daquelas pessoas fossem intimamente ligadas às nossas, e aquela desforra deles contra o mundo também fosse a nossa. E nisso o filme funciona: ele consegue fazer uma identificação entre o espectador e personagens.

Minha maior reserva é em relação ao desenvolvimento de sua história, que já foi por demais explorada. Pegue qualquer filme independente recente de temática parecida – "Retratos de Família" (Junebug), por exemplo. Coloque os personagens dentro da Kombi. Pronto: essa é a fórmula aqui utilizada pelos diretores estreantes Jonathan Dayton e Valerie Faris, casal na vida real, que vêm de carreira de grande sucesso em videoclipes e comerciais. A direção deles é precisa, mas esbarra em um roteiro (do também estreante Michael Arndt) que, com todos os problemas já citados, ainda abusa do direito de utilizar coincidências como desencadeador dramático: a do hotel, a do reencontro entre Frank e um antigo aluno, e a descoberta de uma anomalia na visão de Dwayne. Tudo muito falso.

É muito oba-oba por tão pouco. Se de perto ninguém é normal, Pequena Miss Sunshine é, descascado, algo absolutamente dentro dos padrões. Tirando toda a ovação, é um filme simples, agradável e divertido. E é assim que deveria ser lembrado.

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