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Críticas

Cineplayers

Movimentado e com um tema interessante, pode agradar o público jovem. Pena que o roteiro decepcione.

5,5

Milhões de crianças e adolescentes de todo o mundo estão prestes a ficar órfãos. Com a saga Harry Potter nos cinemas chegando ao fim, um lugar ficará vago no coração dos fãs para ser ocupado por alguma outra série juvenil de fantasia. Ainda que a jornada do bruxinho seja bastante irregular em termos de qualidade, em geral ela está acima de qualquer outra tentativa do gênero, como, por exemplo, As Crônicas de Nárnia  e A Bússola de Ouro. Curiosamente, o mais novo exemplar dessa linha chega agora às telas comandado pelo mesmo Chris Columbus responsável pelos dois primeiros filmes de Harry Potter. Infelizmente, o resultado não é nada empolgante.

Baseado no primeiro volume da série de livros escrita por Rick Riordan, Percy Jackson e o Ladrão de Raios conta a história de um garoto que descobre ser filho de um Deus grego, mais especificamente, Poseidon. Após essa revelação, Percy fica sabendo que os deuses acreditam que ele roubou os raios do Olimpo e, por essa razão, estão prestes a entrar em guerra. Ao mesmo tempo, a mãe do garoto é sequestrada por Hades, que exige a entrega dos raios para devolvê-la. Assim, cabe a Percy Jackson, com a ajuda da filha de Atena e de um Sáfiro, descobrir o responsável pelo roubo e resgatar os raios para evitar a iminente guerra.

Em comparação aos dois primeiros Harry Potter, Chris Columbus demonstra avanço na condução de uma história. O ritmo de Percy Jackson e o Ladrão de Raios é mais ágil e o equilíbrio entre as cenas de ação e o bom-humor é realizado de forma precisa. O cineasta adota uma estrutura típica do cinemão adolescente norte-americano, intercalando diversas sequências mais movimentadas com momentos nos quais tenta desenvolver a história e os personagens. Porém, enquanto é bem-sucedido no primeiro quesito, Columbus falha no segundo, principalmente devido ao roteiro repleto de problemas de Craig Titley (cujo currículo traz uma série de filmes sem qualquer resquício de inteligência, como Scooby-Doo e Doze é Demais).

A grande sacada da história não vem de Titley, mas de Rick Riordan, o autor do livro. Trazer a fascinante mitologia grega para a vida de um adolescente comum é, inevitavelmente, uma ideia bacana e com forte apelo junto ao público juvenil. É sobre esse pilar que o filme inteiro se apoia e, surpreendentemente, ele consegue sustentar a produção até o final, mesmo que enredo não explore a ideia de forma totalmente satisfatória. Além disso, Percy Jackson e o Ladrão de Raios ainda desempenha um papel relativamente importante junto ao seu público, sendo capaz de despertar nele o interesse pela mitologia: garanto que boa parte dos adolescentes que lêem o livro ou assistem o filme irá procurar mais informações sobre Zeus, Poseidon, Atena e toda a gangue do Olimpo.

Por outro lado, o texto é incrivelmente superficial em todos os demais aspectos, como se apenas a ideia principal e a quantidade de cenas de ação fossem suficientes para sustentar a plateia durante duas horas. Por exemplo, os acontecimentos apresentados pela trama parecem não possuir consequência nos personagens e na história: após testemunhar a morte de uma pessoa extremamente próxima a si, Percy não parece abalado, logo entrando no treinamento como se nada tivesse acontecido. Da mesma maneira, o roteiro apela para a conveniência, com os fatos acontecendo não de forma gradual, mas sempre que a história precisa. Ou seja, quando Percy precisa lutar, ele aprende; quando precisa curar feridas, descobre que a água faz isso em seu corpo; quando precisa de uma ajuda, consegue ter poder sobre a água. Tudo é rápido, surgindo do nada e sem desenvolvimento apropriado.

Da mesma maneira, o roteiro de Titley ainda apresenta uma série de furos ou, pelo menos, perguntas que ficam sem resposta. Na mitologia, o raio é um instrumento de Zeus, mas em momento algum isso é citado no filme, como se a plateia precisasse saber disso de antemão. Além disso, jamais é explicado por que razão os deuses pensaram que Percy teria roubado o raio. É algo sem sentido, especialmente pelo fato de o garoto nem saber que era um semideus. E por que, sem os raios, Zeus e Poseidon teriam que entrar em guerra? Estas são apenas algumas das incongruências do roteiro, que comprovam como o riquíssimo conceito do mundo mitológico foi apenas parcialmente aproveitado.

No entanto, este não é o maior problema da história. O grande defeito de Percy Jackson e O Ladrão de Raios (provavelmente presente no livro também) é que o enredo se apoia totalmente em uma linha narrativa errônea. Vejamos: o principal conflito do filme é a necessidade de se encontrar o raio de Zeus para que a guerra seja evitada. A jornada dos protagonistas, porém, jamais tem como objetivo resolver este problema; pelo contrário, eles partem com a intenção única de resgatar a mãe de Percy. Quando o raio finalmente é encontrado, isso ocorre graças a um momento de sorte. O pior é que o roteiro ainda tenta fazer a plateia acreditar que eles estão em busca do objeto roubado: em certo momento, em uma lanchonete, os personagens vêem as notícias sobre a iminente destruição e dizem: “Temos que correr”. Eles correm, mas não para encontrar o raio e sim para salvar a mãe de Percy.

Como o desenvolvimento da história e as relações entre os personagens não funcionam, sobra a Percy Jackson e o Ladrão de Raios se sustentar com o ritmo ágil e as cenas movimentadas, repletas de efeitos especiais. Estes, aliás, são do mais alto nível: o Inferno apresentado no filme é absolutamente fantástico, por exemplo. Columbus sabe como agradar seu público e espalha diversas cenas de ação curtas em momentos específicos da produção. Nenhuma delas chega a empolgar, mas são eficientes e bem realizadas, “mascarando” bem a falta de um roteiro mais bem-amarrado. Há, inclusive, algumas brincadeiras divertidas com o tema da mitologia, como o encontro com Caronte, mas outras cenas são apenas embaraçosas – toda a visita a Las Vegas, por exemplo.

Encarnando Percy Jackson com um bem-vindo grau de irreverência, Logan Lerman demonstra capacidade para carregar um filme do gênero (não à toa, ele está sendo cotado para o papel de Peter Parker no novo Homem-Aranha). Embora não possua físico adequado para o papel, o ator tem boa presença em cena e entrega suas falas de maneira muito eficiente, inclusive as descontraídas. O mesmo vale para Brandon T. Jackson, que consegue a rara façanha de ser um alívio cômico bastante eficaz (sua fala sobre Mick Jagger é a mais engraçada do filme). Aliás, Uma Thurman também aborda sua Medusa pelo lado da comédia, como se estivesse levando tudo na brincadeira, e é o destaque entre os nomes famosos do elenco – ainda que Rosario Dawson esteja simplesmente deslumbrante.

Percy Jackson e o Ladrão de Raios adota uma estrutura que simplesmente não dá tempo para o espectador pensar, tentando fazer com que ele saia do cinema com a sensação de que assistiu a um bom filme. No entanto, o fraco desenvolvimento e a falta de lógica do roteiro fazem deste mais um exemplar decepcionante em um gênero que ainda não conseguiu entregar uma grande obra. Pelos efeitos, pela movimentação e por algumas boas cenas, Percy Jackson e o Ladrão de Raios provavelmente vai agradar seu público. Mas, em termos de qualidade, deixa muito a desejar. Assim o seu primo rico, um certo bruxinho com um raio na testa.

Comentários (4)

bazzingal | sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011 - 13:35

Olha amigo, qualquer pessoa com o mínimo de noção tem uma idéia de que a arma de Zeus é o Raio Mestre, de qualquer forma, eu vi esse filme ontem e eles deixam isso claro. E é claro que eles explicam por que o Percy é suspeito de rouba-lo. É por culpa do pai dele, Zeus acredita que Poseidon quer tomar seu lugar no Olimpo, etc, por isso fez seu filho rouba-lo. Zeus e Poseidon entrariam em guerra pelo simples fato de Zeus querer seu raio de volta, e ganhando a guerra com Poseidon o teria de volta. Eu não havia lido o livro quando vi o filme e entendi perfeitamente. Me pareceu também muito óbvio, no filme, que o que Percy foi fazer não era resgatar o Raio e sim ir para o Mundo Inferior negociar com Hades, ele queria sua mãe, não o Raio. No livro é a mesma coisa, a missão de Percy é resgatar o Raio, mas o que ele planeja fazer é ir para o Mundo Inferior resgatar sua mãe. Concordo com você que diante da morte da mãe, Percy não pareceu muito abalado, é um erro do filme, pois no livro +

bazzingal | sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011 - 13:42

+ entendemos que Percy logo que chega ao Acampamento Meio-Sangue tem a esperança de encontra-la no Mundo Inferior. Eu acho que você deveria deletar essa crítica, ler o livro e voltar depois. A cena 'embaraçosa' da visita de Las Vegas é uma das poucas coisas que constam no livro. Os maiores erros desse filme são as más adaptações, o pior deles é não citarem Cronos, o verdadeiro vilão (não o Luke) em nenhum momento. Leia esse comentário: http://cineplayers.com/comentario.php?id=30501 , ele aponta os verdadeiros erros do filme.

Bianca Melo | segunda-feira, 02 de Janeiro de 2012 - 12:17

Veja, eu concordo plenamente que o filme não é bem "essa coca-cola toda". Os personagens não são bem explorados, e a Annabeth de Alexandra Daddario é o pior exemplo disso. Logan Lerman fez um bom Percy, mas foi uma versão "rasa" do personagem do livro. Entretanto, se pode afirmar que o livro é mal-estruturado como o filme. O fato de Percy sair para salvar a mãe é um traço do personagem, que se repete nos 5 livros: ele realmente leva a situação pessoalmente. Mas isso não impede o desenvolvimento dos fatos. Além disso, está tudo ok, ótima crítica.

Yuri Mariano | quarta-feira, 09 de Outubro de 2013 - 11:33

Este filme é uma completa perda de tempo. Uma imitação mal feita de Harry Potter. Uma hora e meia da minha vida foram para o lixo.😈

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