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Críticas

Cineplayers

Perfume é um belo filme que desafia o espectador.

9,0

Esse novo filme do alemão Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra), baseado num romance de Patrick Suskind, é uma fantasia sensual e desconcertante sobre obsessões, bem ao gosto do diretor que possui um apreço por histórias em que os personagens se envolvem em situações onde o acaso e a magia alteram seus destinos. O trailer ou o subtítulo podem levar a crer que esse é um thriller de época no estilo de Jack, O Estripador como Do Inferno (From Hell), mas Perfume: A História de um Assassino não é um filme comercial e deverá encontrar seu público mais entre fãs de cinema.

Jean-Baptiste Grenouille nasce em meio a um pútrido mercado de peixe na decadente Paris do século 18 e são os odores terríveis do local que o fazem chorar, acordando para a vida da maneira mais estranha possível, o que dá o tom do resto do filme. Ele possui um olfato apuradíssimo, algo que o afasta do resto da humanidade e que também o mantém vivo durante sua difícil e solitária existência, mas o diabo dá um dom e cobra um preço: Essa habilidade o leva ao seu primeiro crime. Ao ficar fascinado pelo cheiro de uma mulher ele acaba matando-a acidentalmente e a medida que o perfume dela se esvai com sua vida, ele encontra um objetivo que é descobrir como capturar a essência das coisas para sempre. É o ponto de partida de sua jornada, levado literalmente pelo nariz.

É um filme longo mas sempre surpreendente, dividido em diversos segmentos que contam com a participações especialíssimas de Dustin Hoffman, como o divertido mestre perfumeiro Baldini, mentor de Grenouille e Alan Rickman como o astuto Antoine Richis, que se torna seu principal rival. Aliás, o único momento em que o filme parece tomar um rumo mais clichê é durante a investigação que Richis inicia, mas a conclusão dela é totalmente imprevisível e surrealista, bem ao modo do início da trama. A escolha do desconhecido Ben Whishaw para o papel principal foi acertada, ele vai de insignificante e repulsivo como um inseto a fascinante, misterioso e inocente com apenas olhares e gestos, numa interpretação com poucas falas que, apesar dos atos imorais de assassinato que ele executa com frieza, o tornam um anti-herói cativante.

O livro de Suskind, considerado infilmável, já havia passado nas mãos de diretores do calibre de Stanley Kubrick e Martin Scorsese, mas acredito que Tykwer fez um excelente trabalho colocando todo o seu estilo a serviço da história, com montagem ágil e câmeras em super-close, ele consegue transmitir ao espectador o mundo de sensações vividas por Grenouille, além de manter intactas as metáforas e temas presentes.  Visualmente belíssimo, a primorosa direção de arte recria a imundície da Paris do século 18, em contraste com a bucólica região de Grasse, a Meca dos perfumes. Notável também a trilha sonora composta por Tykwer e mais dois músicos, complementando as cenas sem se tornar onipresente.

Após uma primeira metade que considerei quase perfeita, o filme dá uma queda na estada de Grenouille em Grasse, a execução de seu plano e sua relação com os patrões da fazenda é tratada com uma certa pressa, o que quebra o ritmo fluido do começo do filme. A atuação de Dustin Hoffman também é um tanto caricata, mas o que vai certamente dividir opiniões é o final, não vou me estender, apenas repito que achei inesperado mas dentro do tom do resto do filme, carregado de simbolismo e arrebatador como fechamento.

Ultimamente vários filmes tem tentado ser "contos de fadas para adultos" e esse sem dúvida é um deles, da narração de John Hurt ao realismo-mágico da história, é um trabalho difícil de categorizar e deverá ser largamente incompreendido por quem espera ver um filme de serial killer convencional. Perfume é tudo menos convencional, é cinema na melhor forma.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 17:56

Eu não lembro direito, mas acho que o final é bem diferente no livro.....

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