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Críticas

Cineplayers

Filme de colégio do início da década de 1980 não é muito melhor do que trabalhos similares recentes. Um novato Sean Penn é o que há de melhor.

5,0

Os anos 1980 não estão exatamente entre os mais respeitados pelos amantes do cinema. E parte da culpa dessa imagem negativa é o surgimento em larga escala dos filmes de colégio. Picardias Estudantis faz parte do final de uma primeira geração desses filmes (excluindo alguns clássicos, como Juventude Transviada, com James Dean). Nesta geração, encontram-se também Os Embalos de Sábado a Noite, Grease - Nos Tempos da Brilhantina, Porky's - A Casa do Amor e do Riso e, claro, Loucuras de Verão, de George Lucas. Nem todos são dessa década, mas esse gênero estourou definitivamente ali. Daí pra frente, o sucesso dessas obras, digamos, de espírito avacalhado, garantiriam que esses anos, pelo menos para o cinema norte-americano, fossem dominados por cópias e variações que viriam a fazer parte das matinês da televisão aberta brasileira na década de 1990. Para ficarmos apenas com um exemplo: Curtindo a Vida Adoidado, de 1986.

Até recentemente o século XXI foi bastante infeliz com o gênero, tanto que um dos últimos reconhecidos sucessos de crítica e de público foi American Pie, que nem sequer é deste século, tendo sido lançado em 1999 (e as sequências, muito inferiores, pouco contam). Há alguns anos, Judd Apatow voltou a ressuscitar o tópico, com sucessos que lembram os grandes momentos da comédia de colégio. O maior desafio dos realizadores é o de manter o nível de entretenimento nas alturas, para garantir boas bilheterias (algo que Apatow vem conseguindo). Quando as piadas são muito recicladas, os filmes fazem pouco sucesso e muitas vezes são lançados diretamente em formatos caseiros.

Então, como criar, dentro do gênero comédia colegial, personagens que fujam de estereótipos? Será que na vida real dos colégios norte-americanos só há estudantes como os da Ridgemont High, cenário de Picardias Estudantis? Esse também é o grande desafio de diretores e roteiristas, e aqui Cameron Crowe – o roteirista – e Amy Heckerling – a diretora – não fizeram um grande esforço para fugir desses estereótipos. A maior parte deles está nesse seu trabalho. Vale lembrar que Crowe escreveu o roteiro baseado em suas próprias experiências como estudante do colegial, então acredita-se que haja pelo menos um pouco de realismo no mundo descrito por ele.

Mundo esse que não apresenta exatamente uma história: conhecemos as aventuras sexuais de alguns formandos no que parece ser o típico cenário dos jovens norte-americanos. Basicamente o que encontramos neste filme de 1982 é quase a mesma coisa que encontramos em similares recentes, mas há algumas diferenças notáveis. Picardias Estudantis é de uma época onde a figura do nerd não era tão contestada: aqui eles são bem-vistos pelas garotas bonitas e acabam por conquistá-las, e não há rivalidades evidentes entre os alunos arruaceiros e os estudiosos. As drogas acabaram ficando de fora do roteiro, mas a degradação juvenil vem em forma de sexo inseguro. O principal tema do filme é mostrado sempre como uma brincadeira passageira, sem proteção alguma e, caso aconteça algum imprevisto, este pode ser eliminado rapidamente durante uma tarde qualquer em uma clínica de abortos do seu bairro. A moral disso tudo cada espectador deve julgar por si mesmo.

Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora inclui muito rock'n'roll adolescente – e a velha cena do baile, no ato final, também tem vez. Entre um roteiro tão limitado e o mesmo espírito pseudorrebelde (porque o filme não deve chocar demais, já que é feito para o público jovem), a principal atração de Picardias acaba sendo mesmo o trabalho do então novato Sean Penn. O ator, demonstrando preocupação em fazer um trabalho bem feito desde o início de sua carreira, incorporou profundamente o personagem Spicoli – aquele típico sujeito que nunca abre um livro e sempre tira risadas de seus colegas de classe. Durante as filmagens, ele solicitou que somente lhe tratassem por esse nome, além de improvisar durante boa parte de suas cenas e até continuar as discussões com o seu professor (Ray Waltson) após a câmera ter parado de rodar. Embora não haja muito espaço para brilhantismo artístico em uma obra desse quilate, Penn acaba sendo o melhor motivo pelo qual o filme poderia ser revisitado nos dias atuais.

Picardias Estudantis guarda um pouco de importância por possuir, além de Sean Penn, algumas curiosidades absolutamente inúteis, mas que os cinéfilos adoram. O roteiro do filme, por exemplo, foi oferecido a David Lynch, que acabou não aceitando o trabalho pois este “não fazia seu estilo”. De fato! O ator Nicolas Cage aparece brevemente, sob o nome de Nicolas Coppola, seu nome verdadeiro. Enfim... são informações que não adicionam ao filme em si, apenas servem para motivar rapidamente a alguém assistir esta que, no final das contas, não passa de uma comédia colegial bastante ordinária, de risadas não muito volumosas e personagens estereotipados e sem profundidade alguma, a não ser pelo estudo dos motivos masturbatórios de espécimes com tesão interminável.

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