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Críticas

Cineplayers

Diversão vagabunda classe A.

7,0

O filme de estreia de Joe Dante, cineasta de essência politizada que transbordou seus filmes de baixo-orçamento com observações incisivas sobre assuntos relevantes do mundo, sofreu de uma interpretação equivocada quando lançado comercialmente nos cinemas, lá no final da década de 1970. O filme em questão é Piranha (idem, 1978), uma sátira de horror que muitos pensaram ser ao blockbuster Tubarão (Jaws, 1976), de Steven Spielberg, mas que era mesmo ao governo norte-americano e sua intervenção estapafúrdia no conflito do Vietnã. Nasceu então um filme de fama torta, descontextualizada de sua realidade, que até hoje anda na contramão do próprio filme.

Alexandre Aja parece catalogar todas as acusações sofridas ao longo dos anos pelo filme de Dante e, com esta refilmagem intitulada Piranha 3D (Piranha 3-D, 2010), fazer questão de apresentar ao mundo como seria o filme original caso estas acusações realmente fossem coerentes. Aqui o contexto político de Dante desaparece por completo, e o que resta para Aja é a mais pura e consciente delinquência cinematográfica, o que gera um filme porra-louca e superficial que a todo o momento faz questão de chocar, de impressionar e de avacalhar a todos e a si sem concessões.

Estamos, em Piranha 3D, novamente no terreno do exploitation, e ao contrário do filme original este terreno não conta com a adição de qualquer outra camada de valores; é um filme exclusivamente feito de prazeres fáceis e de cenas insanas que se bastam sozinhas, que não acrescentam praticamente nada umas às outras, de modo que não soaria absurdo algum se Piranha fosse montado junto de Planeta Terror (Planet Terror, 2007) e À Prova de Morte (Death Proof, 2007) no projeto Grindhouse - comparação que já diz muito sobre qual será seu público alvo e, principalmente, sobre a recepção que deverá ter fora deste grupo específico.

E convenhamos, é um filme que deverá realmente incomodar muita gente. Diversão picareta, assumidamente vagabunda, porém talentosa. Aja simplifica absolutamente tudo ao máximo: há uma explosão interminável de clichês sendo trabalhados e a história se justifica meramente como um embuste (há uma festa louca à beira da praia e uns malucos fazendo filme erótico num barco e uma policial tentando evitar que a galera vire guisado – e é só isso) qualquer jogado em tela para montar uma narrativa que conecte as diversas cenas e imagens-chave, que vão desde as criativas e bem maquiadas mortes, cheias de sangue, triturações e desmembramentos, até nudez; pornografia; beijos lésbicos debaixo do mar; brincadeiras envolvendo bebidas derramadas em barriguinhas saradas em alto mar; beijos lésbicos em alto mar; personagens fazendo filmes pornôs enquanto bebem e se drogam ao redor de um monte de mulheres semi-nuas e bêbadas; festas a beira-mar; tragédias a beira-mar; beijos lésbicos a beira-mar; e um romance mais picareta que o próprio filme.

Tirando tudo isso, é verdade, não sobra nada. E nem precisava. Piranha 3D assume-se como um genuíno filme trash e Aja é extremamente habilidoso em lidar com todos estes elementos, fazendo um filme objetivo e dinâmico e que consegue divertir com facilidade àqueles que embarcarem na brincadeira. Não alça vôos maiores justamente por se minar de tantos elementos cômodos do cinema trash, mas faz justiça contra aqueles que sempre enxergaram o original como sendo um produto superficial de segunda linha. Pois o filme de superfície sobre piranhas assassinas (que brigam até pelo pênis de um dos caras numa das cenas mais toscas vistas no cinema comercial de Hollywood em muitos anos – “They took my Dick!” é a frase do ano) que tira sarro de Tubarão e outros filmes sobre animais assassinos finalmente pode ser visto, 32 anos depois. 

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 03 de Dezembro de 2013 - 16:03

MUUUUUUUIIIIIIIIIIITTTTTTTTTTTOOOOOOOOO ruim....................

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