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Planeta dos Macacos: O Confronto

(Dawn of the Planet of the Apes, 2014)
7,3
Média
382 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Sem buscar as nuances do processo revolucionário no qual se debruça, Planeta dos Macacos: O Confronto cai em conservadorismo político.

5,0

Não quero ser tachado de saudosista, mas adoro os efeitos especiais do primeiro filme da franquia O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968). Aquelas máscaras rústicas e roupas futurísticas humanas conferiam realismo à mise-èn-scene. Dito isso, não deixa de ser impressionante a proeza tecnológica do prequel de 2011 - Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011) - através da captura de movimentos de atores para criar os macacos. Porém, aparentemente se esqueceram de que os macacos, por mais desenvolvidos que sejam, ainda são animais. Quando todo o público alardeia a expressão profunda e supostamente carregada de sentimentos de Cesar (interpretado por Andy Serkis), falam, na verdade, de uma expressão profunda e carregada de sentimentos humanos. É importante não confundir sentimentos com expressões faciais. Não me soa nada natural, por exemplo, o sorriso de Cesar para sua esposa em um momento de dificuldade. No clássico sessentista, os sentimentos semelhantes aos dos humanos eram muito mais atenuados, mas não havia esse distanciamento perante a verdadeira natureza dos personagens.

Além de ser uma necessidade latente de tornar tudo muito realista, recaindo por vezes em excessos, essa humanização dos macacos evidencia muito mais um dispositivo narrativo do filme tão próprio de Hollywood, com o intento de facilitar a identificação do filme pelo espectador. O núcleo humano surge também como uma necessidade de engendrar a obra conforme as convenções dramáticas hollywoodianas. Se no filme anterior havia a trama do personagem de James Franco com seu pai, neste existe a família nuclear clássica, com todos os seus dramas particulares – absolutamente desinteressantes, diga-se. Há uma diferença muito grande entre essa preocupação com a inserção de uma família de humanos - como se não bastassem os próprios macacos - e o sofrimento macro da comunidade autogestionária de sobreviventes humanos, o qual pode explicar certo ódio de alguns humanos em relação aos macacos, ainda que baseado em uma lógica preconceituosa e rasa – o vírus que dizimou a humanidade partiu de soros criados em laboratórios a partir de macacos. Ou seja, a situação coloca o ser humano na mesma condição vivida pelos símios fugitivos, escancarando suas reações diante da necessidade de sobreviver.

Essa situação de emergência na qual os humanos estão presentes parece ser esquecida pelo próprio filme, bem como os problemas vividos por Koba, por exemplo, na obra anterior. Os humanos são facilmente divididos pelo roteiro entre bons e ruins, compreensivos e intolerantes, em um maniqueísmo também presente entre os animais, já que, embora o líder da revolução no filme tenha sofrido bastante na produção anterior da franquia, torna-se aqui um vilão completamente insano e impiedoso, com um ódio pelos humanos tratado como um problema moral pela obra. O protagonista, pintado como o herói que pode salvar o mundo do tirano, dá sermões sobre quão atrasado é o antagonista, chegando a dizer que não o considera “um macaco”. Ignora-se, dessa forma, toda a dor imposta pela espécie humana em Koda, causadora do ranço do personagem, numa visão que encara o “mal” enquanto algo intrínseco ao personagem. No fundo, O Planeta dos Macacos: O Combate é uma ode à moderação revolucionária (leia-se “reformismo” em outro contexto), ou seja, perpetua a velha ideia conservadora de que oprimido e opressor deveriam se abraçar e beijar para haver uma real mudança, como se o mundo fosse dividido apenas entre pessoas boas e ruins e tudo fosse muito simples de se resolver.

Na contramão da dicotomia habitual do filme e da humanização expressiva dos macacos, levantam-se questões sobre o estado ainda animalesco dos personagens, com instintos claros de sobrevivência, sem absorver os vícios das relações humanas, uma vez que não foram nelas inseridos completamente. A hierarquia surgida no grupo, portanto, encontra ecos muito mais fortes na lei do mais forte na natureza do que numa hierarquia de exploração do topo mais alto para o mais baixo. Por outro lado, devido à humanização dos macacos no filme, essa lógica hierárquica pode estabelecer um paralelo (inconsciente, provavelmente) com a realidade humana, ou seja, como se fosse um fator natural – também de nossa espécie - hierarquizar e criar líderes.

Não nego ser realmente divertido observar uns macacos montados a cavalo, atirando para todos os cantos e sorrindo, como numa cena emblemática, tampouco a engenhosidade de todas as sequências de luta entre os animais e guerra, mas não chegam a empolgar o suficiente a ponto de eclipsar todos os problemas políticos de O Planeta dos Macacos: A Origem. E o fato de Koba, o nome do “macaco insano”, ser a forma de Lenin chamar Stalin, diz muito sobre eles...

Comentários (20)

George Fercalli | quarta-feira, 30 de Julho de 2014 - 20:32

Julgar o filme como ruim porque comeram o veado tá por fora!

Luiz Phillipe Lameirão Côrtes | quinta-feira, 31 de Julho de 2014 - 01:49

Visualmente é um filme incrível, com produção e efeitos de primeira qualidade, a caracterização dos macacos é impressionante, mas a história, o roteiro e os diálogos são muito fracos, o que tira o peso do filme, existem muitos blockbusters com conteúdos bem melhores. Um bom passatempo, um pouco melhor que o primeiro, mas bem longe de impactar como o original de 1968, aliás, nem dá pra comparar. Minha nota foi 6,5.

Joel Machado Júnior | sábado, 20 de Dezembro de 2014 - 22:42

Para crítico, o filme só teria uma nota melhor se o macacos vivessem em uma sociedade sem classes e passassem a tarde em cima de seus galhos fumando maconha. 😋
O texto dá saltos lógicos que não teria tempo e nem paciência para comentá-los. Mas me parece que você, crítico, tenta não apenas justificar a atitudes de Koba, mas de torná-las heroicas. Aí eu te pergunto: os humanos que sofreram por causa de Koba agora têm a sua justificativa para revidar nos outros macacos?
É evidente que o filme é conservador. É um discurso contra a luta de classes. Existem seres bons e maus em todas as raças, segundo o filme e qualquer pessoa sensata.
O erro do filme foi o exagero na "humanização" de Caesar e na sua relação com Malcolm, além do principal erro que foi uma das frases finais: "você não é macaco", quando Caesar larga Koba, contradizendo a ideia do filme.
De qualquer forma é um bom para qualquer um que não queira um panfleto progressista.

Alexandre Marcello de Figueiredo | domingo, 28 de Dezembro de 2014 - 20:21

A sociedade luta uns contra os outros, sempre foi e sempre será assim, desde que o mundo é mundo, independentemente se for entre homens e macacos. O filme é melhor que o primeiro.

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