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Críticas

Cineplayers

Cinema do amnéstico e do indefinível.

1,0

A saída mais fácil encontrada por quem assiste a este Plastic City - Cidade de Plástico tem sido chamá-lo de filme experimental ou surrealista, mas a principal questão que suscita parece ser como definir um filme que busca a todo momento forçar sua própria indefinição sob qualquer hipótese e independente de qualquer questão, esteja ela ligada a ações passadas, nas que acontecem ou nas que irão acontecer ao longo do filme. Poderia afirmar ser este na verdade um filme esquizofrênico, mas novamente cairia numa definição genérica e que, assim como as outras, não assume o juízo de valor desejado (afinal, a esquizofrenia muitas vezes faz um bem danado aos filmes).

Sendo assim, esta obra de Nelson Yu Lik-Wai somente pode mesmo ser definida como amnéstica, e é exatamente esta a sensação que se afronta quando, após 95 minutos de filme, nos damos conta de que em torno de todas as reviravoltas e seqüências estrambóticas que se passaram não há absolutamente nada de palpável que possa ser carregado como representatividade do filme, seja uma ideia de discurso ou projeto estético, como se o próprio filme esquecesse a que veio incontáveis vezes durante seu decorrer.

Plastic City se passa no subúrbio de São Paulo, submundo da pirataria. Inicia como um registro realista e denunciatório de uma prática ilegal, no caso a compra e venda de mercadorias falsificadas, mas aos poucos se rende ao prazer da falsidade com suas constantes alternâncias de texturas de cores, luzes e utilização de recursos de câmera estilizados – cortes frenéticos, câmera lenta etc (utilizados sempre de um jeito absolutamente desconjuntado). Ensaia uma discussão política sobre o assunto, mas a esquece. Promove uma reflexão levemente existencial através de um ou outro personagem, mas a ignora. Posteriormente, busca se assumir como um thriller, mas a amnésia – ou insanidade mesmo, vai saber - ataca novamente e aos poucos o filme se transforma em uma caricatura filmada de desenho animado para, finalmente, mergulhar no universo das imagens a la Apichatpong Weerasethakul – mas que de tão vazias promovem mesmo é um mergulho profundo no tédio.

A bagunça é tão grande que se forem selecionadas cinco seqüências específicas – nem precisa escolher muito, vale aleatoriamente mesmo – elas não farão sentido algum tanto individualmente quanto coletivamente. As imagens não somam, nem sequer diminuem nada das anteriores. Elas simplesmente existem, surgem em um fluxo descontínuo, acelerado, indecifrável, e nem mesmo a plasticidade, para a qual nitidamente foi desperdiçado um tempo especial – afinal de contas, e por incrível que pareça, o diretor é responsável pela fotografia de diretores conceituados como Jia Zhang-ke – funciona: esteticamente, Plastic City fracassa tanto nos minimalismos (a conversa entre a prostituta e o marido depois que ele descobre a prisão do chefão, na qual o homem permanece na penumbra do início ao fim) quanto na sua busca eventual por grandiloqüência (a luta com a cidade e o céu alaranjado ao fundo é um carnaval do grotesco).

No final das contas, saímos desnorteados de um filme que não possui tempo, espaço, direção e nem mesmo qualquer habilidade em jogar com o abstratismo – e, pra falar bem a verdade, não poderia chamar de abstratismo e colocar Plastic City ao lado de filmes como Império dos Sonhos, isto aqui é baderna mesmo. A experiência, por conta disso, é desafiadora, mas dificilmente alguém sairá menos inerte, a não ser que encontre uma linha para se guiar por entre esta avalanche de imagens estranhas e incompletas. Eu, sinceramente, não consegui.

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