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Críticas

Cineplayers

Cansativo, mas interessante.

5,5

Vez ou outra o mapa cinematográfico nos apresenta a um país que parecia estar obscuro e agora é o lugar da moda, principalmente nos festivais e nos circuitos de arte. A Palma de Ouro em Cannes de 4 meses, 3 semanas e 2 dias impulsionou a atual “leva romena”, que atingiu até os cinemas brasileiros. Um desses novos cineastas a serem descobertos foi Corneliu Porumboiu que em sua estréia À Leste de Bucareste, realizou uma inteligentíssima comédia, provavelmente o melhor desta leva de filmes.

Este ano ele retornou a Cannes, e novamente saiu premiado. Polícia, adjetivo papou o prêmio do júri na mostra Un Certain Regard e foi escolhido o melhor filme pelos jornalistas. É difícil, porém, entender o porquê. No seu filme anterior, Porumboiu se utilizava prioritariamente de diálogos para mostrar um pouco como os romenos enxergam sua sociedade pós-Ceausescu; aqui, o diretor prefere ficar parado observando suas personagens e como elas agem em um país recém-admitido na União Européia, mas ainda relutante em adentrar o mundo ocidental.

Neste seu segundo longa, o cineasta prefere se ater ao significado da palavra e não em seu uso. Durante todo o longa-metragem, as personagens discutem o uso da lei e suas semânticas. Na trama, Cristi (Dragos Bucur) é um policial da cidade de Brasov que deve vigiar um rapaz acusado de traficar drogas, mas não passa de um jovem que usa haxixe com alguns amigos. O problema é que na Romênia ainda é crime o consumo de drogas, e a lei é muito clara na ordem de prisão. Cristi, porém, acha injusto estragar a vida de um jovem por conta de um crime tão pequeno, enquanto seus superiores ordenam o cumprimento literal da lei, não sendo válidas interpretações subjetivas.

Em ambos os filmes de Porumboiu os planos são fixos, com pouquíssima movimentação de câmera e cortes pontuais. Mas enquanto no primeiro o diretor desenvolvia diante das telas uma sucessão de acontecimentos hilariantes e indagadores, aqui ele foca seu olhar diante de Cristi, enquanto este vigia os garotos. A insistência então é no tédio da espera, em um tempo morto que respira a todo o momento, fórmula perfeita para um sucesso no circuito de artes. A palavra aqui sai de cena como objeto, mas vira o cerne principal do filme, pois a partir dela é que toda a ação se desenvolve.

Nas discussões sobre o significado de certas expressões, frases e modos, brotam as cenas mais interessantes do filme, em especial aquela em que participa a esposa de Cristi numa discussão engraçadíssima envolvendo vídeos do You Tube. Porém, em outras cenas, o filme perde o caminho, como na bem encenada seqüência final, mas que peca ao tentar falar tin tin por tin tin tudo o que o filme tratava, culminando num plano final totalmente anticinematográfico e que põe em xeque todo o significado da obra.

Mesmo perdendo o impacto com o anti-clímax do plano final, e a ideia de que no final toda aquela estrutura era apenas uma “isca” para atrair festivais e públicos atrás de um filme de arte, o longa-metragem ainda possui algumas cenas interessantes, e consegue levar com força seu tema importantíssimo na Romênia (e no mundo) atual, conseguindo fazer o espectador pensar, mesmo se acabar tirando uns cochilos durante o filme.

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