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Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar

(Gake no ue no Ponyo, 2008)
7,8
Média
272 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Diretor de A Viagem de Chihiro traz uma nova delirante fantasia infantil, para todas as idades.

8,0

Após a bela mas enrolada adaptação do romance da inglesa Diana Wynne Jones em O Castelo Animado, e da decepcionante estréia de seu filho na direção com Contos de Terramar, Ponyo é exatamente o que Hayao Miyazaki e seu estúdio Ghibli precisavam, um novo roteiro original do mestre, no espírito do clássico Meu Vizinho Totoro. Indo mais além, Miyazaki resolveu diminuir o uso de computadores apenas ao mínimo necessário, uma manobra de marketing talvez, mas que faz sentido e ajuda a destacar a obra dentre as inúmeras animações em computação gráfica que chegam todo ano ao cinema.
 
O esforço impressiona logo na sequência de abertura, uma complicadísima sequência com centenas de águas-vivas se movimentando na tela, talvez uma citação proposital a uma cena parecida de Procurando Nemo só que totalmente feita à mão. Mas todo mundo vai estar mais ocupado se divertindo com a adorável peixinha Ponyo, enquanto tenta escapar do feiticeiro Fujimoto e é encontrada numa praia pelo menino Sosuke, de cinco anos. Os dois estabelecem uma imediata conexão, que acaba levando Ponyo (que também tem poderes mágicos) a quase destruir toda cidade para ficar com o amigo.
 
Inspirado pela Pequena Sereia de Andersen, Miyazaki conta a mesma história de uma sereia que quer virar gente por causa de um amor impossível, mas a torna pessoal o bastante para ter uma identidade própria. Ele já tinha feito algo semelhante com o clássico Castle in the Sky (de 1986, inédito no Brasil), se inspirando em uma passagem da obra Viagens de Gulliver do Jonathan Swiff, e nos dois casos foi bem sucedido criando um conto repleto de imaginação, aventura e personagens cativantes.
 
O enredo de Ponyo é simples, divertido e por sua leveza, crianças deverão assisti-lo com mais facilidade que o sombrio e estranho Chihiro, mesmo assim o filme não deixa de lidar com temas que farão os pais mais atentos pensarem. É um filme sobre famílias, o pai de Ponyo é superprotetor, ele despreza tanto os humanos que quer manter sua família o mais longe possível e acaba não conseguindo compreender o espírito livre dela, que acaba se rebelando. Já Sosuke tem pais jovens e irresponsáveis, sua mãe é enfermeira de um asilo e seu pai é pescador e está sempre longe, uma coisa que chama atenção é o fato de que ele trata os pais pelo primeiro nome, apesar de parecer desrespeitoso, acredito que a idéia do autor foi mostrar Sosuke como um menino precocemente maduro, isso se torna mais evidente em contraste com as reações infantis de sua mãe, especialmente em uma cena onde o pai avisa que não vai chegar para o jantar e é Sosuke quem resolve a situação, ele cuida da mãe quase tanto quanto ela cuida dele.
 
Talvez minha única decepção tenha sido a falta de uma resolução mais marcante, assim como em todos os seus filmes não existem personagens totalmente bons ou maus, o que é ótimo, mas ainda assim ele conseguiu criar momentos de maior emoção e tensão em Chihiro que adotava a mesma linha. Há de se destacar também mais uma trilha sonora perfeita de Joe Hisaishi, que cita até as Valquírias de Wagner na cena da tempestade, e a arte dos cenários que abandona o estilo rebuscado e design realista de carros e outras máquinas por um mais solto e lúdico, e a delirante imaginação do autor pra criar visuais como que saídos de um sonho, por exemplo os peixes pré-históricos flutuando sobre rodovias.
 
Ponyo foi um grande sucesso de bilheteria no seu país de origem e acredito que isso pode se repetir no resto do mundo, Miyazaki retirou o filme de festivais de cinema (incluindo os nossos) alegando que a obra foi feita para crianças. Não me importo que ele ignore a nós cinéfilos, desde que continue adiando sua aposentadoria. Termino esta crítica cantarolando a musiquinha dos créditos finais, é daquelas que instantaneamente gruda nos ouvidos. Ponyo, Ponyo, Po-nyoooo!

Comentários (3)

Karlos Fragoso | segunda-feira, 06 de Julho de 2015 - 09:05

No começo achei um pouco estranha a animação, porém, aos poucos você vai entrando no clima e tirando vários lições de vida, como família, cuidado aos animais ect.

Boa animação!

Luiz F. Vila Nova | segunda-feira, 06 de Julho de 2015 - 10:51

Esta tmabém foi a animação do Miyazaki que demorei a gostar, dado o estilo infantil sem o mesmo apelo de Totoro (sua grande obra-prima). Mas hoje, depois de algumas revisitadas, gosto bem mais e já o considero um de seus melhores trabalhos. A trilha e o visual são de um sensibilidade exemplar. 😉

Gustavo de Souza Silva | segunda-feira, 06 de Julho de 2015 - 15:48

Eu o considero um trabalho muito bonito, como todos da Ghibli, mas este me encantou menos do que os outros infantis dele. Embora... a cena das ondas seja uma das mais belas do estúdio. Talvez com algumas revistas ele cresça no meu conceito.

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