Mais uma animação genérica chega aos nossos cinemas. Por Água Abaixo não somente não traz absolutamente nada de novo para crianças ou adultos, como revisita as mesmas piadas de sempre em um roteiro frágil e insosso demais. Não possui personagens ricos – nem mocinhos nem bandidos – e tampouco animação de boa qualidade. O filme é absolutamente previsível e entediante. Ainda assim, seus produtores conseguiram o milagre de gastar aproximadamente US$ 150 milhões em sua criação, mais do que qualquer episódio da nova trilogia de Star Wars ou O Senhor dos Anéis.

Mas nem tudo está perdido, alguma coisa se salva. Há uns animaizinhos muito engraçadinhos: as lesmas proporcionam as melhores tiradas em piadas paralelas à trama principal, e no final das contas elas salvam o filme da total mediocridade. São elas as responsáveis pela boa trilha sonora do longa-metragem, com músicas pop bem conhecidas interpretadas por elas. Suas performances musicais dão ritmo à epopéia meio sem sentido do casal de ratinhos principal do filme, que deve fugir a qualquer custo de um sapão que tem um plano para acabar com todos os ratos do esgoto.

Os roteiristas foram tão descuidados que deram aos candidatos a mocinhos idas e vindas pra lá e pra cá e no final pouco ou nada realmente acontece de interessante. O filme é recheado de cenas bem movimentadas, cheias de ação, mas absolutamente vazias (algo como aconteceu no recente Os Sem Floresta). No início todos correm atrás de uma jóia; logo depois o objetivo de todos é uma espécie de cabo de eletricidade. As motivações dos personagens são sempre frágeis e a sensação é de que, por mais que os mocinhos fujam e se escondam, os vilões sempre os acham de forma fácil demais. As crianças obviamente não notaram o quão superficial é o roteiro, mas também não receberão nenhuma lição relevante dele. No final das contas, parece um episódio de um desenho qualquer da televisão matutina.

O filme é uma co-produção entre os estúdios Aardman Animations e a Dreamworks. Esse primeiro estúdio já fez inúmeras animações em stop-motion, e esta foi sua primeira produção em computação gráfica. Porém, estranhamente, resolveram manter o visual de massinha nos personagens. É muito mais fácil produzir animação com o computador, ainda que os custos sejam exorbitantes. Então não se justifica muito o visual ultrapassado (estiloso sim, mas ultrapassado), que é bem mais feio do que o que realmente poderia ser produzido com tal soma de dinheiro nessa tecnologia (e vários estúdios já provaram isso). Sim, Por Água Abaixo é um trabalho feio e sem muita vida. Embora não seja isso que determine a qualidade de um filme, certamente ajuda em não melhorá-la.

Bastante dispensável, o filme só não é um desperdício completo por causa do carisma das tais lesminhas e por algumas poucas piadinhas mais adultas (que obviamente as crianças não entenderão por completo), como a disputa futebol versus futebol americano, protagonizada pelo casal de ratinhos turistas perto do final. Muito pouco para salvar um projeto tão caro, e a competição não ajuda. Há pelo menos uma dúzia de outras animações melhores e ainda relativamente frescas nas salas de cinema ou nas locadoras. O humor é inglês, mas a qualidade é de um pipocão banal de Hollywood.