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Críticas

Cineplayers

Literalmente um filme catástrofe.

2,0

Pastiche de filme apocalíptico que mais parece uma episódio de Arquivo X produzido pelo Monty Phyton. Não que eu esperasse muito deste novo filme de Alex Proyas (Eu, Robô é um eficiente presságio do terrível momento pelo qual atravessa a carreira do diretor – que de qualquer forma nunca foi boa) mas é impressionante sua capacidade de fazer você rever conceitos sobre o próprio fracasso do filme em questão de minutos. Há um inesgotável número de equívocos que desde o princípio parecem bastante evidentes – basta ver a cena inicial com a garota escrevendo a tal profecia num papel, cheia de velhos cacoetes como trilha tensa no volume máximo, efeitos sonoros com sussurros e fotografia esquizofrênica para saber que se trata de uma bomba incontornável – e à medida que a história evolui precebe-se que o que em um primeiro momento soava como a coisa mais ridícula do mundo era barbada diante do que estava por vir.

Presságio reúne alguns dos mais constrangedores momentos do cinema catástrofe contemporâneo e não é exagero. Por maiores que sejam as bobagens constantemente lançadas por Hollywood dentro dessa linha de cinema (que parece não ter mais para onde correr em busca de novas e ao mesmo tempo aproveitáveis ideias – para desenhar um pouco do tom do desastre que é este Presságio basta dizer que o filme bebe ao mesmo tempo de filmes quebra-cabeça, de alienígenas, suspenses sobrenaturais, ficções científicas sobre o fim do mundo e até mesmo da Bíblia e histórias como a Arca de Noé) há uma superação infinita neste filme sobre um professor que descobre em uma “cápsula do tempo” com desenhos infantis de 50 anos atrás uma série de códigos escritos por uma das crianças e que representavam as datas, localizações geográficas e número de mortos de cada uma das tragédias ocorridas desde aquele ano – e algumas que ainda estariam por vir.

A primeira hora de filme, quando Proyas vai preparando terreno para a revelação do mistério, é um convite ao tédio – ainda que o ponto de partida de Presságio seja por si só interessante o suficiente pra alimentar curiosidade sobre o que será armado a partir daquilo. Com exceção do verdadeiramente belo plano-seqüência com que Proyas capta a reação de Nicolas Cage - apático como normalmente é, mas que consegue em muitos momentos superar as próprias expectativas acerca de sua falta de expressividade – ao primeiro desastre que presencia (a queda de um avião em meio a uma rodovia) não há sequer um momento de interesse, bastando ao diretor fazer o feijão-com-arroz mais sem tempero possível para transformar em imagens o falacioso roteiro escrito por Ryne Douglas Pearson, Juliet Snowden e Stiles Whit. As soluções visuais sempre  ineficientes – a montagem que mostra Cage desvendando os números provavelmente seria a opção de 9 entre 10 alunos de segundo grau que decidissem filmar uma cena como esta – apenas ajudam a afundar ainda mais o naturalmente fracassado material (personagens, situações, enfim, não há nada interessante em Presságio).

Mas um filme como este poderia até passar batido mesmo com essa imensa coleção de equívocos, não fosse o fato de Proyas e sua turma parecerem reunir todos seus esforços para transformar este em memorável filme catástrofe, ou melhor dizendo, em uma catástrofe memorável de filme. A tragédia já era anunciada desde o início e em nenhum momento Presságio chega a ser um bom trabalho, mas a partir do momento em que Cage se faz a pergunta chave (“Como eu poderia salvar o mundo?”) a coisa descamba de maneira inacreditável. São dezenas das mais absurdas ideias arremessadas sem qualquer pudor em meio a um já caótico universo. Impossível levar a sério coisas como a despedida dele e de seu filho, de longe uma das seqüências mais constrangedoras de sempre.

O mesmo pode-se dizer da forma com que Cage se perde da criança, do encontro com seu pai, do plano final, enfim, qualquer outra cena que faça parte do terceiro ato de Presságio. Há uma impressionante falta de habilidade em construir e conectar situações, e tanto o roteiro quanto a decupagem de Proyas encontram as soluções menos acertadas a cada momento. Em grande parte do tempo parece mesmo sátira de algum grupo de comédia às cabulosas histórias sobre apocalípse e fim do mundo, com a diferença de que neste caso tudo é levado muito a sério. Mas talvez seja justamente essa falta de pretensão cômica que faça do filme algo tão engraçado - e ao final de tudo é realmente impossível conter o riso.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 03 de Dezembro de 2013 - 21:44

Confesso que, sim, os furos do roteiro e algumas escolhas me incomodaram muito. Mas acho que os dois maiores problemas do filme são:
1) Alex Proyas nunca foi bom diretor. Apenas teve alguns lampejos em sua carreira.
2) A preparação para um final, ridículo, ao meu ver. A credito que uma coisa mais localizada, de menores proporções (tipo Cage impedindo ou salvando pessoas de uma terrível tragédia) ao invés do fim do mundo, as coisas sairiam melhor. Acho que tentar explicar tudo também foi errado. Manter o mistério sobre como a menina profetizou tudo seria mais bacana. Aliens foi muito forçado.....

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