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Críticas

Cineplayers

Filme francês pequeno, mas interessante e honesto.

7,0

Até que Propriedade Privada não é tão mal assim. Tem ótimos momentos, atores muito bem digiridos (claro, Isabelle Huppert é sempre muito boa), roteiro inteligente e bem amarrado, belas imagens; a falação francesa está lá, claro, mas num bom ponto, que não chega a incomodar. Sim, há vigor nesse filme de Joachin Lafosse.

Huppert faz a mãe divorciada de dois gêmeos. O pai endinheirado está presente sempre a dar dinheiro aos filhos, dinheiro esse que a mãe nunca tem, pois trabalha em um emprego ruim e não tem muito controle com as despesas. Justamente por isso, decide mudar a vida e, para começar seu novo negócio, resolver vender a casa, o único bem que tem, pois recebeu do divórcio do marido.

Aos poucos, o cotidiano da família, até então respeitoso e tranqüilo, muda completamente. A mãe é carinhosa com os filhos, toma banho na frente deles, mostra suas fragilidades. Eles retribuem na maneira dos adolescentes, fazendo gracinhas e pedindo carinho. Uma família qualquer de classe média. 

Até aqui, os filhos fingem não se importar com o amante da mãe, um flamengo vizinho deles, pois os meninos também começam a dar seus primeiros passos rumo à vida sexual – ou pelo menos um deles; o outro, mais apegado à mãe, vai demorar mais. Com os novos planos da mãe, que incluem o amante, começam o desrespeito, os preconceitos, as brigas, a intolerância, cobranças, acusações, até terminar em tragédia.

Lafosse filma bem a família, seus afazeres, seu dia a dia. Huppert passa roupa, os meninos ajudam a pintar as portas, discutem sobre a vida, em especial no momento de passagem da adolescência para a vida adulta, quer dizer, assumir novas e definitivas responsabilidades. A harmonia se desfaz pelo mais mesquinho dos motivos, o dinheiro.

Huppert poderia simplesmente fazer a mãe racional e vender a casa (afinal, é dela), dar a volta por cima e posar de feminista. Seria uma saída interessante, mas não é o que acontece. O diretor e roteirista não se atém a facilidades. A personagem hesita, não consegue tomar decisões, não defende o namorado na frente dos filhos, tem medo da reação deles. Quando começa a guerra familiar, simplesmente dá no pé e, pela ausência, o pior vai acontecer.

Huppert consegue passar a seu personagem todas as nuances necessárias, nenhuma delas necessariamente positivas, apenas demasiado humanas. Dessa fragilidade o filme começa a ganhar terreno. A atriz parece não se esforçar muito para conseguir emocionar, tudo nela é natural ao atuar, é a impressão que temos, é bom observá-la mesmo nos mínimos detalhes. Como o diretor faz uso dos planos-seqüência, podemos ver Isabelle não só atuar como também improvisar. 

Tampouco o diretor faz planos-seqüência firmes e impenetráveis. Ele tem domínio da câmera, mas essa não está a favor do maneirismo, mas da fluência do filme, fato que só ajuda Propriedade Privada.

Se Nue Proprieté não é um grande filme talvez porque seu tema é por demais pequeno para que seja um grande filme. Tanto melhor, portanto, que não seja um "grande filme": esse terreno do pequeno o cinema sabe explorar com perfeição e dos detalhes temos um filme bem interessante, honesto, bem feito, eficiente.

Belo exemplar do cinema de qualidade francês, nicho de mercado da qual parte da crítica, inclusive esse mirrado escriba, detestamos.

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