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Críticas

Cineplayers

Embora seja bastante divertido, é excessivamente manipulador e irritantemente piegas.

3,0

Espécie de versão juvenil do pequeno sucesso Divinos Segredos (se você não conhece não se culpe, o filme é ruim), Quatro Amigas e um Jeans Viajante é mais uma tentativa frustrada de Hollywood de criar um filme super-sentimental a partir de situações corriqueiras, aqui explorando a vida de quatro jovens do sexo feminino, que possuem distintas personalidades entre si e no mundo real dificilmente poderiam ser amigas. Mas, claro, no mundo da imaginação do cinema isso é não só possível, como provável, principalmente quando encontram um jeans aparentemente mágico que serve em todas elas com o mesmo caimento, ainda que seus pesos e alturas sejam bastante diferentes.

O que o jeans representa é óbvio e altamente pretensioso: a amizade e a união entre as quatro inseparáveis amigas que terão que se separar pela primeira vez – todas de uma só vez; um elo entre as quatro enquanto estas estiverem vivendo diferentes aventuras em um verão qualquer. Ainda que seja forçado o fato de as amigas, tão diferentes em caráter e em gostos, serem inseparáveis, isso acaba criando quatro mundos distintos, e quatro histórias desigualmente interessantes.

Vejam só: temos duas amigas vagabundas e mimadas, cujos problemas limitam-se a conseguirem ou não um novo namorado (embora haja um mau disfarce existencialista nisso tudo); e duas outras com problemas mais maduros e complexos: uma delas vê em uma garotinha com leucemia a chance de se transformar em uma pessoa melhor; a outra finalmente tem a chance de enfrentar discussões com seu querido pai assim que passa por uma crise de ciúme quando este apresenta-lhe sua nova esposa e seus filhos. Essas quatro histórias altamente tendenciosas e manipuladoras são deveras divertidas; embora a história das duas amigas vagabundas (na Grécia e no acampamento feminino) sejam infinitamente mais previsíveis e desinteressantes.

O acerto do roteiro foi intercalar essas quatro histórias ritmicamente de forma que, assim que alguma deles comece a ficar enfadonha, ela seja cortada para um novo ponto na aventura de outra das amigas. Essa montagem, embora convencional e uma solução previsível para o roteiro, dá energia ao longa e faz com que sua duração acima da média não seja ponto negativo. O filme começa absolutamente desastroso ao mostrar uma historinha totalmente piegas de amizade na adolescência, mas logo ganha qualidade ao saber dosar clichês com cenas divertidas na medida certa.

Infelizmente, perto do final as soluções tornam-se óbvias demais, além de irritantemente desprezíveis (como o cão que sente o namorado de Bridget - Blake Lively - chegando e entrega-lhe o jeans no meio da rua, de forma quase mágica), numa tentativa de satisfazer o seu óbvio público-alvo: mocinhas adolescentes. É bem verdade que as intenções foram boas (assim como aconteceu no também desprezível Um Amor para Recordar), mas o filme é tão manipulador que não se pode ignorar esse fato como uma forte negativa.

Todas as mensagens e lições que Quatro Amigas tenta passar já foram colocadas tantas vezes, de formas melhores, piores, ou mesmo das mesmas formas, que fica difícil também ignorar a falta de coragem do filme em ir um passo além. O filme cria um ar de auto-importância tentando lidar com assuntos como a morte e a separação, porém as soluções são, como já foi comentado, óbvias ou mágicas, que fica impossível não rir e desmerecer suas intenções. No final é apenas um conto-de-fadas e nada mais. Um conto-de-fadas para um público bem restrito, diga-se de passagem.

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