Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

A Alemanha tentando levantar a cabeça em história de redenção.

5,5

Esta é uma análise direcionada a leitores que já tenham visto o filme, pois revela momentos-chave da trama.

Quatro Minutos é, em uma primeira e superficial leitura, mais uma história na qual um talentoso jovem – no caso, uma pianista – que em um momento de extrema adversidade encontra alguém que pode direcionar novamente, ou pela primeira vez, suas habilidades e sua própria vida. Se nos propusermos a acompanhar o filme somente por estes olhos, é bem provável que muito do que ele busca de reflexão se perca.

O seu desfecho é um momento-chave para este entendimento. Quando a referida pianista, em sua grande redenção, abandona o Concerto em Lá Menor de Schumann para apresentar algo transgressor, não é só um instante no qual a bolha de todo o sentimento ocluso se parte dentro da protagonista. Muito menos uma cena gratuita de extrema emoção para comover o espectador. É uma cena-símbolo para entender a própria Alemanha.

Uma Alemanha que, apesar de toda a prosperidade econômica e social, ainda mantém aquela velha cicatriz do nazismo aberta. É comum dizer que, para expulsar seus demônios, nada melhor que encará-lo, e o cinema germânico parece querer fazer isso, em filmes recentes como A Queda: As Últimas Horas de Hitler. Quatro Minutos, ainda que de uma forma completamente diferente, propõe o mesmo exorcismo.  

No momento em que Jenny (Hannah Herzsprung) abandona as matrizes clássicas de Schumann para sua performance pós-moderna, é possível ouvir um grito do próprio país em uma quase súplica de que paremos de encarar a nova Alemanha através dos velhos paradigmas. Assim como o revolucionário Schumann, Jenny quer se livrar dos preconceitos e, acima de tudo, de suas amarras.

É então que merece uma análise o seu contraponto na história, a velha professora de piano do presídio onde Jenny está em cárcere, Traude (Monica Bleibtreu). Ela representa não apenas o país de velhos preceitos, mas também os resquícios de uma nação que teme ainda revelar seus próprios erros. Em plena Segunda Guerra Mundial, Traude abandona a mulher que era o grande amor de sua vida aos nazistas, no afã de preservar sua então promissora carreira. Um erro que ela carrega consigo até a velhice, mas ainda disposta a manter ultrapassadas falsas crenças em prol de um bem-estar com o passado.

Importante observar que Quatro Minutos, ao seu final, apresenta Jenny sendo novamente presa, mas de forma alguma sabemos o que verdadeiramente acontece com Traude. Duas taças de vinho, uma incógnita. Após a ousadia de ajudar Jenny a escapar da prisão (em cena bastante duvidosa), Traude se esquiva de assistir à apresentação da pupila. Seria essa a grande dúvida da própria Alemanha? A insegurança, talvez, de vestir uma nova roupa e perceber que está nua?

Lucubrações à parte, é uma pena que todo esse subtexto seja conduzido de forma tão equivocada pelo diretor Chris Klaus, também roteirista e aqui em seu segundo longa-metragem. A sua insistência em manter a câmera em movimento a todo o momento pode até simbolizar um ambiente instável, mas o excesso de panorâmicas e afins contrasta com o tom sóbrio que apresenta a técnica restante do filme, ainda que em uma cena dentro da igreja uma discutível iluminação sobre Jenny a apresente como um ser “divino”.

Também há de se reclamar de certos aspectos do roteiro que deixa escapar personagens mal desenvolvidos, como o carcereiro e a colega de prisão de Jenny. Os escritos de Klaus também não são claros o suficiente a respeito do passado de Traude, e muita coisa fica apenas no nível da suposição. Até mesmo seu ato final, apesar de todo o simbolismo, resvala-se no clichê dos filmes do gênero. 

De qualquer forma, Quatro Minutos apresenta uma dupla de protagonistas afinadas, com Bleibtreau brilhando na contenção e sob quilos de maquiagem, e a jovem Hannah Herzsprung demonstrando grande talento em um papel bastante difícil.

Comentários (0)

Faça login para comentar.