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Críticas

Cineplayers

Eisenstein e um cinema de experimentos.

7,0
É visível os motivos do descontentamento e do frissom que Que Viva Eisenstein! causou desde suas primeiras exibições no Festival de Berlim do ano passado. Como sugere o subtítulo, 10 Dias que Abalaram o México!, é um recorte do curto período de tempo em que Sergei Eisenstein, tendo alcançado fama e notoriedade no cinema após os lançamentos de A Greve, Outubro e o revolucionário O Encouraçado Potemkin, se muda para a cidade de Guajanato para rodar seu projeto em terras americanas, e que viria a ser intitulado Que Viva México!. 

Que Viva Eisenstein, entretanto, exige um considerável nível de desprendimento do que conhecemos sobre Eisenstein enquanto cineasta, filmólogo e pensador. Há sim a reconstituição de fatos importantes que ocorram durante a estadia de Eisenstein no México, como a briga com os produtores, o excesso no orçamento, o longo tempo exigido pelo cineasta para rodar seu filme e a paixão por seu acompanhante e guia Palomino (Luis Alberti), mas o diretor Peter Greenaway eleva seu filme ao status de sátira biográfica kitsch, mergulhando estes dez dias em uma montagem acelerada, colorida, berrante, circense, extravagante e até mesmo didática, com as inserções de cenas dos filmes de Eisentein em meio a uma tela triplamente divida e também com fotografias reais das figuras que surgem na tela, uma espécie de declaração do próprio em afirmar que seu objetivo não está na fidelidade das semelhanças físicas entre os rostos, mas sim no que aqueles dez dias podem proporcionar a um diretor como Greenaway para trabalhar e brincar com seu estilo.

Pois Que Viva Eisenstein é isso, um filme desprendido. O personagem título, numa composição exuberante e animada de Elmer Bäck (e que nos remete ao Antonio Salieri de F. Murray Abraham em Amadeus), é a própria representação do que Greenaway pretende com sua brincadeira, que é o quebrar convenções, provocar, desafiar a percepção do público sobre transposição e desconstrução de uma imagem enraizada por sua história. Para tanto, o diretor também não mede a exibição de nudez em inesperados closes fechados e uma longa sequencia de penetração anal que, indo para além da simbologia sobre a própria libertação sexual de Eisenstein, surge também como uma representatividade visual jocosa da revolução soviética, o que surge como justificativa para que os russos não se sintam extremamente felizes com Que Viva Eisenstein.

Fato é que essa própria ousadia e ausência de pudores prejudica o filme de Greenaway lá pelas tantas, quando a própria repetição técnica e narrativa brincalhona do diretor alcançam certa redundância. A queda na força da proposta é visível após isso, mas não anula o êxito da obra em se desprender de fatos (quase não se vê o processo das filmagens de Que Viva México, mas sim o que há por trás) e caracterizações fidedignas para se tornar uma brincadeira estilística, anárquica e imaginativa, certamente de difícil digestão para quem esperava ver nas telas a presença marcante de Eisenstein enquanto parte importante de uma história, mas não menos singular enquanto cinema de experimentos.

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