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Críticas

Cineplayers

Sequência de [REC] retoma projeto estético com câmeras subjetivas e mantém a tensão do primeiro filme.

7,5

[REC] 2 – Possuídos ([REC] 2, 2009) retoma inteiramente o projeto do primeiro filme: contar a história de um grupo de pessoas presas em um prédio assombrado a partir de uma câmera subjetiva, que filma do ponto de vista das personagens. Um dos maiores méritos do filme é o de apostar no tempo real dos seus acontecimentos e nos efeitos de realismo da gravação.

Do primeiro filme para a sequência não se passaram mais do que 15 minutos. O edifício em que fenômenos estranhos se manifestam continua cercado em quarentena: ninguém está autorizado a entrar ou sair. Uma única exceção é dada a um especialista, que será escoltado por uma equipe de quatro policiais da SWAT espanhola. Dentre eles, um dos homens é responsável por registrar toda a missão – os outros três também possuem câmeras integradas aos seus uniformes. A medida que exploram os andares do prédio, a equipe policial descobre que está em uma missão mais macabra do que imaginava: sendo atacados por zumbis de todas as idades, eles se distanciam cada vez mais da possibilidade de cumprir seu objetivo e sair do prédio com vida. Há ainda um inesperado encontro com alguns adolescentes curiosos que entraram sorrateiramente na área em quarentena em busca de boas imagens amadoras.

Dessa premissa temos o dispositivo que torna o filme possível: pela câmera-olho dos policiais e dos adolescentes curiosos acompanharemos toda a ação. Em [REC] 2, o mistério do primeiro filme está explicito desde o título: o problema no prédio em quarentena diz respeito a uma possessão demoníaca. Os diversos zumbis são na verdade pessoas possuídas por um demônio. E a missão do especialista, que não passa de um padre, é encontrar a cura para este fenômeno. Justamente, o excesso de didatismo nas explicações religiosas, que beiram muitas vezes a um cientificismo exagerado, atrapalha em alguns momentos o clima de tensão do filme. Nesse sentido, as explicações lacunares do filme anterior parecem muito mais interessantes.

Ainda assim, estamos definitivamente no reino do terror. As imagens não reconhecem limites: de suicídios a execuções sumárias, passando por adolescentes matando pessoas por engano. O horror não apenas pela sugestão, mas pela superexposição da violência. A tensão só aumenta a medida que percebemos o inevitável fracasso da missão. Mais uma vez, um filme que não poupa nenhuma das suas personagens.

[REC] faz parte de certa tendência de filmes atuais, como A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) e Cloverfield - Monstro (Cloverfield, 2008), que apostam em um dispositivo paradoxal: o de filmar um tema fantástico com uma câmera subjetiva, quase testemunhal, que provoca um grande efeito de realismo. Nesse filme, as câmeras se multiplicaram e diversificaram: para além do registro jornalístico do primeiro filme, agora estamos diante de uma necessidade de documentação quase cientifica da missão e do registro amador.

O efeito de realismo é aumentado pela questão temporal. Talvez o ponto alto e que justifica a multiplicação das câmeras. Estamos no limiar do tempo real. A distância temporal de um filme para outro é de 15 minutos, o que dá uma sensação de vitalidade a história, como se ela se passasse naquele momento em que assistimos. Efeito ampliado pela subjetividade da câmera: nós, espectadores, saberemos de tudo ao mesmo tempo em que as personagens. As câmeras diversas operam simultaneamente em núcleos diferentes, mas compondo um mosaico com um sentido total. Essas potencialidades dos registros são usadas com bastante inventividade pelo filme. Em vários momentos as câmeras caem no chão e perdem o foco da ação. Não se sabe, por exemplo, qual foi de fato o destino dos adolescentes após serem trancados em um quarto sem a sua câmera em mãos.

Esse tipo de truque de roteiro possibilita que os personagens reapareçam inesperadamente na trama. Ao condenar, cedo ou tarde, todos que entram no prédio a uma morte brutal pelos zumbis possuídos ou a possessão é como se o único personagem realmente importante fosse o demônio encarnado. Nesse sentido, o reaparecimento da jornalista exibicionista do primeiro filme coroa o final surpreendente.

O filme promete uma continuação. Mas, ao que parece, fora do prédio. Considerando que os melhores momentos não são os de sangue jorrando e sim os de grande tensão dentro do edifício, é de se pensar como isso será resolvido para não diluir a força da câmera na mão e dos olhares subjetivos.

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