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Críticas

Cineplayers

Um suspense com uma montagem inteligente e boas interpretações.

7,0

Um homem seqüestrado sente que as horas que está vivendo poderão ser as últimas horas de sua vida, tempo suficiente para repensar suas ações e seu comportamento em relação à sua família, carreira e amantes. Seria aquele homem rico realmente feliz? Ter construído uma vida de sucesso o fez chegar àquele momento completo? O filme coloca essas perguntas para seu personagem principal, fazendo-as ecoar para seu público. Ao mesmo tempo consegue ser um suspense tenso, de fazer ficar grudado na poltrona. Por tudo isso, e mais um pouco, Refém de uma Vida não é um filme original, mas é um thriller acima da média.

O ponto mais interessante de tudo é a sua montagem. Logo após o seqüestro de nosso personagem principal, ele divide-se em duas linhas do tempo: uma praticamente em tempo real, com a vítima (Robert Redford) sendo carregada mata adentro pelo seu seqüestrador (Williem Dafoe), enquanto conversam sobre vários assuntos; na outra, acompanhamos o desenrolar do seqüestro com a família e o trabalho do FBI, porém em tempo acelerado, ou seja, eventualmente pulando de um dia para o próximo, enquanto as investigações prosseguem. A pergunta que logo surgirá na cabeça do espectador é o que torna o filme tão envolvente, fazendo com que queiramos conhecer logo o final: estaria Wayne Haynes morto?

Não é um filme exatamente original, mesmo com esse detalhe inteligente na montagem. Aliás, esse tipo de montagem pode parecer óbvio ao seu final, mas se você realmente forçar sua mente, não se lembrará de muita coisa parecida nos últimos anos no cinema. O relacionamento entre seqüestrador e seqüestrado é recheado de diálogos existenciais, às vezes quase pretensiosos demais, mas nunca querendo fazer do filme mais do que ele é: um divertido suspense. Eles fomentam de forma eficiente o interesse do espectador. Quando voltamos à segunda linha do tempo o filme torna-se trivial. Mesmo que a bela atuação de Helen Mirren como a esposa de Wayne traga força a essas partes do filme, não é o suficiente para colocá-lo no mesmo nível de dezenas de outros suspenses sobre seqüestro. Então, toda vez que o filme volta para a mata, para o confronto entre os dois personagens (e ótimos atores) o filme adquire uma quase-profundidade deliciosa de se assistir.

E é esse confronto entre Redford e Dafoe que está o ponto mais interessante do filme. Ambos os atores, já maduros na carreira, podem parecer que fazem aqui apenas mais um trabalho de fim-de-semana, o que pode não deixar de ser verdade. Ainda assim fica fácil ver como eles estão em um nível acima da média dos atores atuais – senão muito acima – pois conseguem manter um clima tenso entre si, e sempre demonstram habilidade artística, isso sem muito esforço aparente. O estreante na cadeira de diretor Pieter Jan Brugge não teve muito trabalho e, com o elenco profissional, conseguiu dirigir um thriller que prendesse a atenção somente pelas atuações. A direção em si é burocrática e não se apresenta como destaque, embora seja boa o suficiente para não estragar o trabalho dos atores.

Refém de Uma Vida (título nacional bem exagerado) não é um grande filme, mas sem dúvida é uma grande diversão. É agradável de acompanhar, tem bons atores, uma parte técnica adequada e uma montagem que no mínimo faz valer sua curiosidade, mesmo que você seja um cinéfilo mais experiente. Creio que não valha a pena gastar mais palavras com o filme, senão com a tradicional recomendação final para trabalhos decentes. Está bem aprovado.

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