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Críticas

Cineplayers

Um clima sinistramente perturbador e simbólico para continuar a história da fita que mata.

6,5

Quando, em 1998, Hideo Nakata, diretor japonês, concluiu as filmagens de Ringu, o público mal sabia o que estava por vir. Com efeito, o título foi um sucesso na terra do sol nascente, elevando a reputação de Nakata e fazendo do filme um ícone do terror psicológico. Um ano depois, chegou aos cinemas a aguardada continuação.

A história de Ringu 2 acontece pouco tempo depois do desfecho de seu antecessor, quando é encontrado, dentro de um poço, o esqueleto de uma jovem, conhecida como Yamamura Sadako. Enquanto prossegue a investigação de um policial a respeito do esqueleto, Mai Nakano sai à procura de informações acerca da misteriosa morte de Ryuji Takayama, de quem tanto gostava. As buscas os levarão até um hospital psiquiátrico, onde está internada a jovem Masami. Lá, eles descobrem que tudo está interligado.

À medida que a história de Ringu 2 avança, mais personagens e novos atores vão aparecendo. Ainda assim, são os que também estiveram no primeiro filme que merecem destaque - mesmo que desta vez tenham aparecido em poucas cenas. Nanako Matsushima continua desempenhando um ótimo trabalho no papel da jornalista Reiko, enquanto o garoto Yoichi, interpretado por Rikiya Otaka, ainda chama a atenção por sua expressão. Mas quem merece maior destaque é, certamente, o ator Hiroyuki Sanada, que faz o papel de Ryuji Takayama. Aparecendo apenas em flashbacks e visões, é incrível como Sanada executa com perfeição o seu trabalho de ator, sustentando com naturalidade o clima das cenas em que aparece.

Assim como em seu antecessor, Ringu 2 estabelece uma atmosfera de tensão que apenas Hideo Nakata consegue criar. Mesmo assim, alguns espectadores, ao terem saído dos cinemas, disseram que o enredo do filme é "mais explicativo que assustador" - o que não deixa de ser verdade. São muitas as cenas em que se gasta tempo justificando os acontecimentos sobrenaturais do primeiro filme (como a origem da fita amaldiçoada, por exemplo). Entretanto, é inegável que muitas cenas são de gelar a espinha, sem apelarem para sangue e vísceras saindo de um corpo. Nakata sugere um terror diferente, que aposta em visões, mediunidade e distúrbios psicológicos. Diferentemente de muitos filmes americanos do gênero, o diretor japonês expõe o medo, e não os sustos; expõe a tensão, e não a violência. Pelo visto, esta é verdadeiramente a fórmula que funciona.

Talvez uma das mais sábias escolhas de Hideo Nakata, quanto à produção técnica de Ringu 2, foi a de ter Kenji Kawai assinando a trilha sonora. Não só as músicas ajudam a manter o clima de tensão, mas também os efeitos sonoros contribuem muito para isso. Quando algo estranho está para acontecer, já vêm aqueles barulhinhos característicos... Outro fato interessante, que merece ser destacado, é a quase total ausência de efeitos especiais. Aqui, o terror brota naturalmente, sem ajuda da tecnologia - o que colaborou muito para um orçamento modesto. O cenário escolhido por Nakata é trivial: o Japão cotidiano, com suas estações de metrô, as casas tradicionais, os hospitais. O curioso é que o diretor transforma tudo isso, absolutamente usual, em alvo de mais pura tensão.

Provas disto são as cenas envolvendo a estalagem Yamamura, que pode parecer comum aos olhos de qualquer um. O problema é quando lá se desenrola uma série de fatores, resultando num acontecimento de puro horror - acontecimento este, vale lembrar, que não passa de alucinação de uma das personagens, mas, mesmo assim, acaba por criar o auge do medo.

O que provavelmente deixou muitos espectadores insatisfeitos foi o roteiro. Talvez com a intenção de deixar interpretarem eles mesmos o enredo, o roteirista deixou quase tudo em aberto. O esclarecido foi feito de maneira extremamente metafórica: leva um tempo para se entenderem alguns diálogos e cenas. Neste ponto, deve-se admitir que a equipe de Nakata fez um ótimo trabalho. Na verdade, toda a história de Ringu é baseada num livro - que foi baseado numa lenda urbana e na história de uma médium. Assim, sendo fruto de um suposto mito criado pelo povo, é perfeitamente normal que cada um tenha um final diferente para ele. Afinal, "quem conta um conto aumenta um ponto", e a história que eu contarei a você não necessariamente será igual a que você contará a mais alguém.

Assim, em todo o seu clima sinistramente perturbador e simbólico, Ringu 2 leva o espectador a uma jornada inquestionavelmente complexa. E, sem que ninguém perceba, imporá seu indestrutível clima de tensão, que permanece desde o seu arrepiante começo até seu intrigante final.

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