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Críticas

Cineplayers

Nem Rita Cadillac nem Rita de Cássia são suficientemente interessantes.

5,5

Rita Cadillac também é conhecida pelo apelido de Mulher-Furacão, isso em função da forma sensual pela qual consegue explorar ao longo dos anos o seu próprio corpo, levando ao delírio os homens para os quais se apresenta, principalmente quando esses shows ocorriam em lugares com milhares de marmanjos isolados, como a penitenciária do Carandiru – onde inclusive alertava para a importância da camisinha - e os garimpos de Serra Pelada.

A personagem surgiu como símbolo sexual ao destacar-se das demais chacretes no programa do Chacrinha. Rita conta que percebeu a necessidade de explorar a sua imagem de forma diferente no programa, e assim tornou-se a preferida do apresentador e começou a associar sua imagem à sensualidade.

O documentário mostra como Rita Cadillac foi se reinventando ao longo do tempo, e como continuou a explorar seu corpo, de formas diferentes e cada vez mais intensa, para poder se sustentar. O grande problema é que esse lado já era bastante conhecido e o documentário restringe-se a traduzir em imagens aquilo que o espectador já sabia sobre a ex-chacrete. O diferencial, portanto, fica com o outro lado de Rita Cadillac, seu cotidiano fora da personagem.

Mas o diretor Toni Venturi força a barra ao documentar uma trajetória pessoal que nada tem de brilhante, admirável ou qualquer outro adjetivo que traga ao público qualquer espécie de reflexão ou grandes revelações. O cotidiano de Rita de Cássia, a mulher por trás da personagem, é comum, excessivamente simples e, por vezes, desinteressante. Surge a princípio como um contraponto válido ao estilo de vida que a consagrou, mas Rita pouco tem a contar de realmente interessante ou revelador, algo natural para alguém que assume ser o que é pelo corpo e afirma que o seu cérebro está na bunda.

O documentário erra feio ao fazer de seu registro de uma personagem brasileira uma simples homenagem a sua trajetória. Todos os depoentes fazem elogios a Rita Cadillac, sem que haja espaço para nenhum tipo de contestação seja por parte de um entrevistado ou mesmo pela abordagem narrativa do diretor. Mesmo assim, o público não consegue dividir de forma integral com o cineasta a visão de que Rita é uma artista. A sua arte é saber usar a vulgaridade com talento e seus shows são grandes apresentações pornôs. Fica a impressão de que diversas outras garotas de programa poderiam ser retratadas de forma semelhante e, talvez, com histórias chocantes ou mais reflexivas e importantes, como as das meninas que precisam vender o corpo para conseguir pagar os estudos.

Assim, o documentário pouco traz de enriquecedor sobre a personagem, que se limita a aparecer apenas como uma pessoa verdadeira e extremamente consciente de sua posição. A vida pessoal de Rita de Cássia torna apenas real aquela personagem, mas não serve para complementar a história de Rita Cadillac, uma mulher que começou explorando sua sensualidade, passou a usar o corpo para fazer shows e atuou em filmes pornôs como forma de ganhar dinheiro. Talvez o momento mais marcante seja quando Rita assume para as câmeras que o seu ciclo está perto do fim, o que torna, em paralelo com sua vida pessoal, o seu casamento um ato significativo como a coroação do momento em que ela percebe que um novo rumo deve ser dado para sua vida.

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