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Críticas

Cineplayers

Um filme bastante divertido que deve agradar as crianças. Infelizmente, fora isso, não há nada de novo aqui.

6,0

Robôs chega para mostrar uma coisa: o mercado de animações tridimensionais está cada vez mais amplo. Já foi o tempo em que a Pixar o dominava sozinha. Aliás, isso já não ocorre desde 2001, quando Shrek veio ao mundo pelas mãos da Dreamworks. A Blue Sky lançou o sucesso A Era do Gelo um ano depois e, mesmo que não tenha sido um arrasa-quarteirão (mas deu pra ganhar um bom $$$, sem dúvida), mostrou ainda outra empresa de qualidade para o mundo. Agora, três anos depois, a mesma Blue Sky consegue ficar no mesmo nível da Pixar, que lançou ano passado sua animação Os Incríveis. Este aqui é muito mais bem elaborado e inteligente que aquele, sem dúvida, mesmo que não seja ainda também um ótimo filme, e sim apenas uma movimentada (às vezes, de tirar o fôlego) aventura.

Tecnicamente, Robôs é belíssimo. Mostra uma evolução drástica com relação aos modelos simples (que naquele caso foram propositalmente simples) de A Era do Gelo. Robôs é mais bonito que Os Incríveis, por exemplo, embora modelar lata seja mais simples do que modelar humanos. Mas para o espectador comum isso não interessa, o que vale mesmo é o resultado final, e é isso que está sendo avaliado aqui. De qualquer forma, este filme não precisa de comparações para sobreviver e aparecer. É bem divertido e deve agradar às crianças. Não é tão colorido pois todo o mundo criado é de metal, o que limita a paleta de cores. Mas seus personagens são bem carismáticos. Para quem gosta e entende de cinema, o filme possui algumas ótimas referências (tão óbvias que nem vou citá-las aqui), sem necessariamente depender delas para ser interessante, algo que de certa forma Shrek faz.

A história não apresenta realmente nada novo. Aliás, voltando um pouco aqui nas comparações, todas as histórias dos filmes da Pixar também sempre são clichês vencidos, então não se pode culpar muito os produtores de falta de originalidade. Robôs é mais um conto de superação e força-de-vontade, onde os fracos e oprimidos devem combater os fortes e suas injustiças. Rodney é um robô feito de sucata reaproveitada – assim como milhões de outros. Inventor, seu sonho é conhecer outro inventor, o mais famoso de todos: o gentil, simpático e motivador Bigweld. Para isso, ele deve viajar sozinho para a grande metrópole dos robôs, Robópolis. O problema é que, quando ele lá chega, encontra uma cidade dominada pela tirania de um novo robô, que aparentemente deu fim a Bigweld e quer tirar de circulação todos os robôs feitos de sucata velha. A partir daí, Rodney junta-se com seus novos amigos para tentar reaver a paz à cidade.

A vilã do filme, que é a mãe de tal tirano (assim como em muitos filmes da Disney, o “tirano” é na verdade alguém frágil, manipulado por uma mente diabólica por trás) consegue ser muito, muito assustadora, tanto em visual quanto nos seus métodos. É a típica vilã das animações, estereótipo já encontrado desde os tempos de Branca de Neve e os Sete Anões, mesmo assim consegue ter uma presença muito forte na tela. Todos os personagens, sem exceção alguma, também são velhos estereótipos do gênero, e esse sem dúvida é o ponto mais fraco de todo o filme. O filme anterior da produtora já sofria desse problema: sem ponto mais fraco também era a falta de originalidade dos personagens. Aqui não é diferente. Não é algo desastroso, mas um filme assim dificilmente poderia ser considerado uma obra-prima. De qualquer forma, não creio que tenha sido esse o objetivo dos produtores. Apenas uma curiosidade: para mim, o personagem mais engraçado, de longe, foi o pequeno guarda da entrada da corporação. Mesmo que seja um dos vilões!

A cidade dos robôs é uma recriação das grandes cidades reais. Algo que já foi feito várias vezes anteriormente, mas não deixa de continuar sendo divertido, ver nossa sociedade sendo transportada para outro tipo de contexto. Em Procurando Nemo e O Espanta Tubarões conhecemos como seria nossa sociedade caso fosse no fundo do mar; em Vida de Inseto e Formiguinhaz vimos ela transportada para o mundo dos insetos; em Monstros S/A... enfim, as produtoras de animações sempre utilizam esse artifício, o que pode ser divertido, mas temos que ter cuidado ao chamar qualquer desses filmes de “original”. Robôs consegue ter algumas sacadas inteligentes sobre como seria um mundo de metal, mas em nenhum momento o trabalho é original.

O elenco do filme é formado por atores muito interessantes. O dublador de Rodney é o cada vez mais dinâmico Ewan McGregor, já a mocinha, Cappy, é feita por Halle Berry, em seu primeiro trabalho depois do vexame que foi Mulher-Gato (que ela, pelo menos, parece ter levado com muita esportiva). Infelizmente, pra variar, o filme pode ser visto por aqui quase somente em versões dubladas, ou seja, quer ouvir as vozes originais? Pegue um avião para fora do país ou espere o DVD. Na versão nacional, dublam Reynaldo Gianechinni, Marina Person, André Matos e “grande elenco” (isso segundo o site oficial em português). Embora seja uma dublagem competente (não se engane, não é ótima, apenas decente) não é a mesma coisa que ouvir as vozes originais. Isso não vale para as crianças, claro, afinal elas não ligam para esses detalhes.

Em Robôs, o diretor Chris Wedge e o co-diretor Carlos Saldanha (os mesmos de A Era do Gelo) tentaram colocar um pouco de tudo. Drama, comédia, musical, ação, aventura. É um filme que tenta agradar a todos os gostos. O ritmo dele tem algo de irregular (alguns momentos são simplesmente desinteressantes), porém seu clímax é de tirar o fôlego. Movimentado, rápido, desconcertante. É a melhor parte de todo o filme. Uma montanha-russa, lembrando animações recentes como O Expresso Polar e Monstros S/A, que também tinham esses momentos de tirar o fôlego. Tudo isso, claro, apenas possível pelo uso da animação tridimensional, que pode colocar o espectador onde quiser sem maiores dificuldades. O resultado, como sempre, é um visual magnífico.

Em suma, esta é mais uma animação belíssima (elas ficam cada vez mais belas, não é verdade?), bastante divertida, mas que como quase sempre acontece peca pela originalidade. As crianças não dão muita bola para isso, e para elas é um filme “obrigatório”, pode-se dizer. A Blue Sky junta-se à Pixar e à Dreamworks como estando no primeiro time da animação tridimensional. Não fez uma obra-prima como a Pixar o fez (os dois Toy Story são os mais originais e melhores da empresa), ou um enorme, mega arrasa-quarteirão como a Dreamworks fez com Shrek 2, mas já tem dois bons trabalhos no currículo, e A Era do Gelo 2 promete arrebentar. Vale como uma bela sessão vespertina.

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