Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Glee of Ages.

4,5

O musical Rock of Ages é, originalmente, uma produção teatral (lançada juntamente a um livro) de 2005 que permanece como um sucesso de público na Broadway até hoje, tendo recebido como mais importante reconhecimento crítico as cinco indicações ao Tony Awards no ano de 2009. Sua trama, no entanto, é muito simples, até batida: a sonhadora Sherrie (Amy Spanger) é uma típica jovem do interior que, em busca do sonho de tornar-se cantora profissional, vai a Los Angeles e conhece um rapaz com objetivo semelhante, Drew (Constantine Maroulis), que deseja tornar-se um astro de Rock do tamanho do ídolo Stacee Jaxx (James Carpinello). Em torno da paixão em comum dos protagonistas pela música, além de uma caracterização espontânea e carismática, construiu-se o sucesso da empolgante peça teatral, aspecto esse que ficava evidente pela caracterização e interpretação dos grandes clássicos do Rock dos anos 80. Como todo produto de considerável alcance e popularidade, Hollywood tratou logo de adaptá-lo para as telas do cinema, atraindo fãs de "rock farofa" de todo mundo.

Responsável pela adaptação, a Warner Bros. começou a pavimentar o sucesso cinematográfico do projeto contratando o autor do espetáculo, Chris D'Arienzo, como roteirista. Ao seu lado, os experientes Justin Theroux e Allan Loeb. A escalação de Adam Shankman foi igualmente certeira, uma vez que ele foi o diretor responsável pela bem-sucedida adaptação de Hairspray - Em Busca da Fama (Hairspray, 2007), produção indicada ao Globo de Ouro que trazia como formidável ideia a escalação de um elenco respeitável em torno de uma desconhecida, embora muito competente atriz de musical, Nikki Blonsky - fórmula que é uma das marcas de Rock of Ages - O Filme (Rock of Ages, 2012). Infelizmente, porém, a boa expectativa em torno do novo musical de Shankman é logo frustrada quando se percebe o investimento técnico e humano foi mal utilizado numa obra que privilegiou exagerada "limpeza", escalação de astros e outros artifícios que o tornassem mais popular que interessante.

Julianne Hough (Sherrie) surge na primeira cena liderando um grupo numa música pop-country, enquanto a voz de adolescente de Diego Boneta (Drew) convida o espectador para o show: "Are you ready to rock"? O coro e a convocação funcionam muito bem, como não ocorre no resto da projeção, quando a vencedora do programa Dancing with The Stars e o ex-Rebelde transformam um rock que devia ser apenas melódico numa versão teen que deve incomodar boa parte dos verdadeiros fãs do querido rock farofa. Os rostos lisos de Hough e Boneta também não geram no público a mesma identificação que a face marcante de Spranger e a barbada de Maroulis, que têm a cara do Rock. Longe de serem grandes atores, os protagonistas do filme também são prejudicados por terem de cantar músicas que se não se adequam a seus perfis vocais. Se Boneta ainda alcança razoável êxito em suas apresentações, Hough é sofrível em todos os aspectos, seja por reproduzir o texto decorado de uma personagem oca (na montagem teatral ela é muito mais interessante), seja pelo incômodo que sua voz desperta em algumas canções (quando Mary J. Blidge [Justice Charlier] divide a tela com a loirinha, a voz estupenda da cantora de R&B desperta certa vergonha alheia).

A produção ganha contornos de questionamento ao observarmos as posições que ocupam os atores mais conhecidos do elenco. Tom Cruise rouba a cena por sua caracterização de Stacee Jaxx - aqui direção e roteiro marcam um gol de placa, alimentando o mito do vocalista do Arsenal antes de sua aparição -, mas a potência vocal do ator jamais alcança o nível necessário para cantar, por exemplo, Wanted Dead or Alive, do Bon Jovi. Catherine Zeta-Jones (Patricia Whitmore) volta a mostrar seu enorme talento em musicais e estrela a sequência mais eficaz do filme, quando, dura e desajeitada (como ela não é naturalmente), comanda um grupo de puritanas protestantes ao som da contagiante Hit Me With Your Best Shot, de Pat Benatar. Pena que sua personagem, caricatura dos detratores do Rock na década em questão, é pouco e superficialmente aproveitada, além de "brindada" com um desfecho que a torna quase tão dispensável à trama quanto seu marido, o prefeito Mike Whitmore (pobre Bryan Cranston). Espantoso é pensar que ambos foram criados especialmente para a adaptação ao cinema.

O roteiro multicolaborativo do musical mostra-se igualmente inconsistente quando Paul Giamatti entra em cena. Ele vive o empresário Paul Gill, um vilão que decreta o fim do Rock e lança seu cliente numa patética boy band, sátira que não procede nesse contexto. Isso porque o trio de roteiristas não percebeu quão próximo o visual de Drew já estava do tipo de grupo que ridiculariza; quão próximas as interpretações pop das músicas (More Than Words cairia como uma luva num álbum do N'Sync) estão do discurso de Gill, o que invalida a posição de vilão do Rock à qual o personagem é alçado após sua declaração enfática. Sem falar que um musical que se propõe a homenagear um segmento musical deveria apresentá-lo como ele é.

Rock of Ages não é marcante como se propunha a ser, mas tampouco é um total desastre. Alec Baldwin (Dennis Dupree) confirma sua veia cômica ao lado de Russel Brand (Lonny), que finalmente surge engraçado como uma figura toda montada que representa bem os roqueiros posers, maquiados e embalados a vácuo em calças de stretch que marcaram a época. Entretanto, o produto é irregular ao ponto de não apresentar momentos inspirados (o mais próximo disso é quando Tom Cruise e Malin Akerman cantam I Wanna Know What Love Is olhando para as partes íntimas um do outro) que relevassem suas muitas limitações, como é o fato de Shankman não ter conectado os números musicais à (simplória) história de modo eficaz, como foi seu trabalho em Hairspray. O resultado é uma colagem de videoclipes transformada em longa-metragem.

Por fim, acrescento uma nota pessoal: como fã do período musical abordado, não nego a frustração diante da ausência de uma pegada mais Rock nas canções, o que transformou a expectativa por um Guitar Hero no cinema num longo episódio de Glee - o que não seria de todo ruim se a qualidade (principalmente vocal) das versões se equiparassem ao que é apresentado no seriado da Fox.

Comentários (14)

Rodrigo Torres | quinta-feira, 06 de Setembro de 2012 - 11:48

Pessoal, um pequeno spoiler que não acrescentei ao texto (que já estava grande):

Na peça teatral, a protagonista tem mesmo um caso com Stacee Jaxx, ao contrário daquela alternativa infantil encontrada por D'Arienzo e cia. para essa adaptação ao cinema. Isso revela uma personagem mais complexa e torna mais plausível sua "virada" na "trama", quando acaba aceitando o trabalho de stripper.

jorge lucas | quinta-feira, 06 de Setembro de 2012 - 15:09

Tentei assistir Glee, mas como disseram ali embaixo, só os musicais eram interessantes, para uma série me prender os personagens devem ser bons, e sinceramente, não vi graça em nenhum. Um dos maiores desfiles de personagens sem carisma que eu ja vi. Fora que cada episódio ficar homenageando um artista diferente eh um pé no saco, a impressão eh q apenas daí tiram o sucesso da série: a custa das músicas já conhecidas por todos. Uma série mais interessante eh Smash.

Tiago Costa | quinta-feira, 06 de Setembro de 2012 - 17:39

Nada consegue ser mais gay que HSM.

O último grande musical que eu me lembro foi Chicago.

jorge lucas | sexta-feira, 07 de Setembro de 2012 - 15:33

O último grande musical que eu me lembro foi Chicago. [2]

Faça login para comentar.