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Críticas

Cineplayers

Um filme perdido na superfície.

4,0

Impressiona como o cinema norte americano investe em produtos de consumo fácil, de retorno financeiro quase garantido, comprometendo sua qualidade no que diz respeito à arte em si. O adicional que faz com que Santuário (Sanctum, 2011) se “destaque” nesse meio é, naturalmente, o nome de James Cameron na produção executiva. O cineasta possui o chamado “toque mágico” que tanto agrada Hollywood; suas produções fazem parte do cinema das massas, aquele que detém facilmente as multidões e arrasa quarteirões. Isso ficou evidente com o sucesso descomunal de Titanic (idem, 1997), que por muito tempo manteve-se como a maior bilheteria da história, sendo barrado, mais de dez anos depois, por Avatar (idem, 2009), outra produção de Cameron que legitima de vez sua habilidade em realizar trabalhos plenamente comerciais.
 
É fato que Santuário é o tipo de filme que se não contasse com tantos chamarizes, dificilmente se sustentaria de pé. Tanto os roteiristas quanto o próprio diretor são novatos em longas-metragens (embora o cineasta já tenha dirigido uma produção pouco conhecida em 2006), o que permite que caiam em armadilhas com maior facilidade, ou mesmo se comprometam na hora de livrarem-se delas. Além de beber da fonte de vários projetos tematicamente semelhantes, o filme não consegue se libertar dos vícios que tanto atrapalham a condução desse subgênero. Por razão da morte de um ou outro personagem, a narrativa estaciona em lamentos inúteis e lágrimas aborrecidas, mesmo que se trate de um claro jogo de sobrevivência, onde naturalmente pouquíssimos sobreviverão. É claro que a frieza não auxiliaria em nada a trama, contudo falta a noção de onde e quando descarregar o apelo dramático.
 
Para falar a verdade, não me incomodaria tanto se os personagens despencassem ao pranto, ou à tristeza profunda, quando um companheiro não resistisse ou mesmo quando o fardo daquela situação estivesse pesado demais, desde que compreendessem a dimensão do problema. Mas é nítido que eles não possuem a mínima consciência de suas condições e da proporção do evento - fato evidenciado pelos constantes desentendimentos e discussões superficiais. Josh, filho do líder da expedição, por exemplo, mesmo sabendo do estado emocional precário de seu pai e dos demais membros da equipe, não hesita em se portar como um garoto mimado e insuportável, que mais parece estar num acampamento que numa caverna obscura com a vida posta em risco. E isso não é característica somente do rapaz, mas também de outros que, a todo instante, se incomodam com as ações e medidas tomadas pelo protagonista.
 
Tudo isso para construir um arco dramático para a trajetória daquela equipe de mergulho. O que os roteiristas parecem não compreender é que a potência da situação a qual os personagens se encontram não necessitava de um ou outro conflito artificial para assegurar sua força dramática, bastava somente trabalhar melhor com as nuances daquele episódio registrado como real. Ao invés disso, a morte iminente que assombra os personagens presos naquele sistema de cavernas e grutas tido como menos acessível da Terra é aproveitada somente como recurso visual (apesar de render alguns interessantes momentos de claustrofobia), uma vez que o filme foi convertido à famosa técnica das três dimensões simplesmente como isca para espectadores. Eles precisavam garantir que o produto seria vendido, não é mesmo?
 
Mas não há nada de errado em querer vender seu peixe, o problema está em quais os recursos que se usará para estabelecer a oferta. Aqui a profundidade dramática dos personagens e da própria trama é anulada em prol do exibicionismo estético e do comercialismo barato. Muito disso os realizadores do projeto parecem ter aprendido com o próprio Cameron, já que seu Avatar não se distancia tanto dessas características. O caso é que Santuário muito fez para atrair consumidores, lançando mão da sempre chamativa tecnologia tridimensional e dos demais artifícios visuais que dispunha. Mas no fim de tudo fracassou. E é triste constatar que nem ao menos podemos dizer que ele nadou para morrer na praia, já que, diante de todos os seus equívocos, ele não resistiu nem ao primeiro mergulho.

Comentários (6)

André Sandes | sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011 - 01:30

Um filme fraco que só chamou a atenção, porque o nome de James Cameron está na produção. Olha que eu assisti em Blu-Ray e foi um saco! acho que nem em 3D seria interessante... Esse foi de longe o pior filme do ano.

Danilo Itonaga | sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011 - 11:47

Ufa... Ainda bem que não vi esse filme e não vou ver. 😉 Legal a crítica.

Renata Scholtz | sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011 - 22:18

Que coincidência, acabei de ver esse filme praticamente agora e não gostei muito, bem fraco, mas a crítica está muito bem escrita, concordo em muitas coisas com o Júnior Souza.

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