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Críticas

Cineplayers

Scott Pilgrim migra dos quadrinhos para as telas em meio ao paradoxo de agradar fãs e ir mal nas bilheterias.

9,0

Candidato a filme nerd do ano e disputando espaço nesse nicho com o também aguardado A Rede Social (The Social Network, 2010), de David Fincher, Scott Pilgrim Contra o Mundo vem para conquistar os viciados consumidores de música indie e quadrinhos, enquanto seu oponente se ocupará em historicizar a criação do Facebook. Os dois filmes mantêm a rivalidade até na escolha de seus protagonistas, pondo em disputa dois dos atores mais geeks do momento, Michael Cera Vs. Jesse Eseinberg.

No filme dirigido por Edgar Wright, Scott (Michael Cera) é um garoto de 22 anos que não faz muito da vida além de tocar baixo, ensaiar com os amigos, sonhar com o sucesso e se envolver com várias garotas, de preferência ao mesmo tempo. E num esquema 'festa estranha com gente esquisita' ele dá de cara com Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winsted) e se apaixona à primeira vista. Mal sabe ele o tamanho da encrenca em que se meteu.

Scott Pilgrim pode ter estreado nos cinemas em 2010, mas a influência maior de sua banda Sex Bom-Omb é bem anos 90: basta dar uma sacada na canção dos canadenses da Plumtree (clique para ouvir) para entender de onde surgiu o herói dos quadrinhos homônimos criado por Brian Lee O'Malley: tédio, melodias fáceis,  uma garagem para ensaiar e poucas alternativas de diversão.

Unindo diversas referências musicais, que vão desde Rollings Stones a Frank Black, vocalista do Pixies, até a mais recente Broken Social Scene, Wright não nos poupa das inserções pop e nem mesmo de seus lugares-comuns, como na cena em que alguém comenta numa conversa despretensiosa próxima ao protagonista sobre ter achado o quadrinho muito melhor que o filme. Desde as camisetas usadas por Scott até seu completo desleixo com as questões práticas da vida, tudo diz respeito a uma estética grunge que sobreviveu em muitos corações pós-90 e mantêm vivas as expectativas de um bocado de garotos com vontade de emplacar pelo menos um hit de sua banda na internet.

Perdido na capital do Canadá, Pilgrim viverá a maior de todas as aventuras de sua vida sem graça: derrotar a Liga de 7 Ex-Namorados do Mal que perseguem sua garotinha de cabelos roxos/azuis/verdes. Para tanto será preciso apelar para duelos de baixo, muito golpe sujo e algumas vidas extras. Tudo pontuado por uma linguagem claramente retirada de games oldschool, elevando as tiradas e cortes a um ritmo frenético que emula as transições próprias das HQs, um motivo de histeria para os fãs do personagem.

E Wright maneja todos estes elementos muito bem. Tanto ele quanto O'Malley são caras com trinta e poucos anos que ainda se encontram bastante absorvidos pela atmosfera juvenil que a história retrata. Aliás, a idade dos espectadores tem sido apontada como possível causa da fraquíssima bilheteria que o filme conseguiu em sua estréia norte-americana, mesmo com toda a enxurrada de virais e manifestações dos fãs da série. Estes boatos podem até ser exagerados, mas se você for realmente alheio ao que rola no mundo pop pode ficar desconcertado frente à boa convergência do projeto à estética multitasking que a geração de Pilgrim retrata tão bem.

Contando com o apelo de canções ingênuas e na escolha de um elenco bastante conhecido do público alvo, a história desse baixista peregrino não tem como desagradar: Mary Elizabeth Winstead, Anna Kendrick e Jason Schwartzman estão bastante presentes no imaginário dos fãs de Tarantino, Saga Crepúsculo ou Sofia Coppola. Para amealhar ainda mais público, o filme contou com o apoio do músico Beck Hansen - o mesmo que na década de 90 emplacou o hit Loser e definiu uma geração -, que compôs e gravou todos os instrumentos da banda de Pilgrim.

Apoiado por este time, Wright conseguiu uma das mais bacanas transposições de quadrinhos para o cinema, conduzindo uma narrativa que empolga e diverte ao mesmo tempo em que se mantêm fiel ao universo de seu personagem, e de quebra lançando a trilha-sonora mais indie do ano.

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