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Críticas

Cineplayers

A comédia sensação, a refilmagem, o fim trágico.

3,5

Na edição 2012 do Framboesa de Ouro, Se Beber, Não Case! Parte 2 (The Hangover Part II, 2011) concorreu na categoria pior remake, cópia ou sequência com um curioso adendo: sua indicação valia para pior sequência e remake, tornando a indicação só não tão merecida quanto bem sacada. Afinal, tal qual uma refilmagem transportada para um outro contexto (neste caso, somente espacial), sua única diferença para o divertidíssimo e original Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009) se deve ao fato de a situação ter sido levada para Bangcoc, limitando-se a conferir uma roupagem hardcore às principais situações do filme anterior. Um expositivo "Eu não acredito que está acontecendo tudo de novo"  se torna a melhor ilustração para o nível de mediocridade e preguiça atingido por Todd Phillips nessa sequência.

Nesse sentido, Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover Part III, 2013) não sofre do mesmo mal, tendo seu enredo sensivelmente modificado. Há 6 meses sem tomar remédios, Alan (Galifianakis) continua se metendo em confusão, atormentando a família em níveis inimagináveis, e os amigos Doug (Justin Bartha), Stu (Helms) e Phil (Cooper) são as últimas esperanças de convencê-lo a se internar em uma clínica. Durante a viagem até a instituição, um mafioso (Goodman) intercepta o quarteto e sequestra Doug, que será assassinado em três dias se Phil, Stu e Alan não lhe entregarem de bandeja o imprevisível Mr. Chow (Ken Jeong).

Apesar do esforço, Phillips volta a incorrer num mesmo equívoco da desinteressante continuação. No primeiro filme, as transgressões cometidas pelo trio protagonista encontravam-se apenas um passo além da realidade, gerando junto ao público (principalmente masculino) uma identificação real com eventos absurdos, porém passíveis de acontecer após uma noite de intensa bebedeira. A fim de extrapolar tal limite, o diretor eleva tais confusões a um patamar de crescente violência em suas continuações, o que, evidentemente, não significa torná-las necessariamente mais engraçadas.

A capacidade que Todd Philips demonstrou de conectar uma gag atrás da outra, transformando-as na trama em si, no filme original, não se vê aqui. Além de esporádicas, as piadas estão todas tão soltas que mais parecem cacos de atuação do que algo pensado previamente, com a finalidade de levá-las a algum lugar. E é ainda mais frustrante perceber que, nesse longa-metragem, absolutamente nada leva a lugar algum. A missão de prazo curtíssimo estipulada na premissa se arrasta de modo incompreensivelmente lento e isenta de urgência. Quando, enfim, a busca do bando de lobos os guia num esperado retorno a Las Vegas, os levando de encontro ao tresloucado Mr. Chow numa explosiva combinação de festa de arromba, prostitutas, garotos de programa (apenas anunciados, nunca vistos) e muita bebida, a sequência é abruptamente interrompida, finalizada como toda cena de ação em comédias genéricas.

Tamanha falta de inspiração na constituição de cenas e diálogos se reflete em subaproveitamento de tudo a que se propõe, das referências visuais que utiliza (indiscriminadas, vão de Um Sonho de Liberdade [The Shawshank Redemption, 1994] e o álbum Abbey Road dos Beatles ao pastelão As Branquelas [White Chicks, 2004]) aos ótimos personagens de que dispõe. Pouco resta a Bradley Cooper se Phil não precisa liderar seus amigos para além de uma situação verdadeiramente nonsense. Na maior parte do tempo, Ed Helms está apenas sério como Stu, sem alternar sua personalidade contida e medrosa com os ataques de desespero que o acometem após ser vítima de alguma bizarrice. Alan, definitivamente vertido em protagonista, volta a roubar todas as cenas, mas é sintomático perceber, em dado momento, que Zach Galifianakis se vê na necessidade de apelar para gags físicas. Tão caricato e exótico quanto Alan, Mr. Chow arranca risadas involuntárias sempre que surge, mas o humor fica mais na sugestão do que na materialização de momentos realmente engraçados. E se aos personagens fixos não é dispensada a devida atenção, é triste ver um ator como John Goodman - que, numa das maiores demonstrações de sua veia cômica com os irmãos Coen, deu vida a um aspirante a sociopata igualmente hilariante e intimidador como o Walter Sobchak de O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998) - reduzido a um mafioso condescendente, facilmente ludibriado, um verdadeiro bundão!

Lastimável, portanto, que Todd Phillips tenha se entregado à demanda mercadológica da indústria e transformado uma sequência promissora em refilmagem, o fim de uma trilogia em comédia genérica desnecessária . Assim, a promessa de uma “ópera dividida em três atos” se manifesta em mera dependência de ter assistido aos outros dois para entender esse terceiro filme – que, ao terminar com uma colagem de momentos de seus antecessores ou apresentar o resultado devastador de uma nova ressaca na cena pós-créditos, só acentua junto ao espectador a certeza de que o resultado teria sido muito mais divertido se Todd Phillips tivesse se rendido, novamente, à tentação de refilmar Se Beber, Não Case.

Comentários (21)

Alexandre Carlos Aguiar | terça-feira, 04 de Junho de 2013 - 13:51

Bom, eu consigo rir de algumas piadas (???) do Zorra Total, então, ainda consigo achar alguma graça nessa continuação. Tenho um fígado bom.😁

Rodrigo Torres | quarta-feira, 05 de Junho de 2013 - 05:56

Espero que Todd Philips cumpra ao menos a promessa de que esse é o desfecho da franquia.

Adriano Augusto dos Santos | quinta-feira, 26 de Setembro de 2013 - 09:45

Qual a graça que veem no Alan ? Acho ele tão chato,mas muito mesmo.Muito idiota.

Dos outros adoro.São engraçados naturalmente,sem forçarem.Só no personagem.

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