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Críticas

Cineplayers

Mesmo os bons diálogos não são o suficiente para compensar a fraca trama policial.

4,0

O clã Apatow volta em mais uma comédia com fortes doses de anarquia. Aqui, porém, o roteiro escrito por Seth Rogen e Evan Goldberg, responsáveis também pelo ótimo e divertidíssimo Superbad, resolve tentar alçar voos maiores, transformando o clima avacalhado visto naquele filme em uma comédia policial ordinária. Má decisão: apesar de ter sido um razoável sucesso nos Estados Unidos, Segurando as Pontas é fraquíssimo por ser bagunçado demais e por ter perdido o foco na comédia, como se somente o seu tema – maconha – fosse o suficiente para garantir as risadas do público. Está aí uma boa demonstração de que, independentemente de tema ou gênero, bons textos sempre prevalecerão.

Talvez a confiança dos roteiristas esteja alta demais, após um número de sucessos muito alto nos últimos cinco anos, mas há muitas coisas neste filme que faz com que ele seja apenas uma chama apagada de sucessos como Superbad, O Virgem de 40 Anos ou ainda Ligeiramente Grávidos. A história é sobre dois amigos usuários de maconha – um deles, traficante – que acabam entrando em uma confusão envolvendo uma disputa de gangues entre americanos e coreanos, que detêm o mercado local. A isso soma-se a participação da polícia, corrupta. Os problemas começam no subdesenvolvimento de algumas tramas secundárias, como o namoro entre Dale (Seth Rogen) e uma colegial de 18 anos, que poderia ter sido cortado da edição final, tanto que sequer ganha uma conclusão. Há também oportunidades perdidas, pois o tema é amplo e as decisões sobre o que mostrar não foram das mais felizes (leia-se: não foram engraçadas o suficiente).

De resto, há um amontoado de piadas óbvias sobre usuários de maconha que nem valem ser citadas aqui. Mas o maior problema com relação ao roteiro é mesmo sua veia policial: se os filmes do clã Apatow escolhem sempre um caminho um tanto quanto diferente do convencional e acabam ganhando fãs por conta disso (embora também percam um bocado de espectadores por tais decisões), aqui o que se vê é metade do filme desperdiçada em cenas arrastadas envolvendo tiroteios, perseguições e explosões. Tudo o que podemos esperar do cinema convencional de Hollywood. Após filmes divertidíssimos como os que foram citados acima, as escolhas sempre óbvias e repetitivas do roteiro são, no mínimo, decepcionantes.

Mas o filme não há de ser considerado uma perda total. Há diálogos bastante divertidos – alguns até mesmo engraçados e inteligentes ao mesmo tempo – que justificam perfeitamente a fama dos filmes desse pessoal. Seth Rogen e James Franco (um ator improvável para participar de uma comédia assim) fazem, sem dúvida, uma boa dupla. Uma pena que na maioria do tempo estejam fugindo, perseguindo ou atirando em alguém. No geral, é muito pouco para salvar o seu trabalho, mas ao menos esses momentos, ou melhor, esses lapsos de criatividade, fazem o filme minimamente acompanhável. Como não poderia deixar de ser, há um grande número de coadjuvantes que, na média, são bastante desinteressantes desta vez.

A direção ficou a cargo de David Gordon Green, um quase desconhecido, pelo menos para os brasileiros, que aqui faz o trabalho habitual em cima dos textos de Apatow e cia. Visualmente é um trabalho bem divertido, embora o filme perca muito quando parte para a ação policial – e aí creio que nem mesmo um diretor muito mais experiente e melhor conseguiria fazer o milagre de deixar as cenas mais interessantes. Devido ao conteúdo potencialmente ofensivo (drogas e violência – desta vez deixaram o sexo de fora), há um cuidado evidente em mostrar apenas o suficiente para não estragar as piadas ao mesmo tempo em que espectadores que se deixam ofender facilmente não virassem a cara. De certa forma deu certo: esta foi a primeira comédia sobre “maconha” a faturar mais de US$ 100 milhões ao redor do mundo.

Entre muitos contras e alguns prós, o que teria dado de errado desta vez com o clã Apatow? Os diálogos chulos e vulgares estão lá. O grupo de atores foi mantido, pelo menos parcialmente. A anarquia nas situações continua lá. Muitas delas continuam bastante engenhosas, inclusive. Talvez quem goste de assistir a comédias policiais burras e não se importe com dezenas de clichês explorados insistentemente vá encontrar qualidades positivas e acabe se divertindo verdadeiramente com Pineapple Express. Esta era uma das comédias de 2008 mais esperadas por mim, declarado fã do produtor/roteirista/diretor Judd Apatow, mas o filme é simplesmente medíocre, por todas as razões expostas acima e algumas menos relevantes. Para uma comédia/sátira policial realmente engraçada, fique com o inglês Chumbo Grosso, muito mais original e divertido.

Comentários (1)

Jonas Bettencourt Soares | quinta-feira, 28 de Março de 2019 - 01:33

Kkkkksks que trama policial que tinha que ter se o filme é uma paródia do gênero!

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