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Críticas

Cineplayers

Mesmo sem profundidade, tem todos os elementos de um bom filme de ação.

7,0

Não é de hoje que Hollywood lança dois filmes com temática semelhante em curto período de tempo. Há poucos anos, por exemplo, tivemos os filmes de meteoro, os da Segunda Guerra e até desenhos que pareciam beber da mesma fonte, todos chegando aos cinemas com poucos meses de diferença. Agora parece ser a vez dos filmes de vingança. Pouco depois de Valente, que trazia Jodie Foster como uma mulher que virava espécie de justiceira após a morte do marido, chega Sentença de Morte, algo como um Desejo de Matar para as platéias atuais.

O roteiro de Ian Jeffers conta a história de Nick Hume, vice-presidente de uma companhia de seguros e chefe de uma família estável, com mulher e dois filhos. Após uma partida de hóquei, Nick e o filho mais velho param para abastecer o carro. É quando ocorre um assalto e o garoto é assassinado diante dos olhos do pai. Ao perceber que o sistema não fará muita coisa, Nick decide soltar o culpado para fazer justiça com as próprias mãos, sem saber as conseqüências que isso irá trazer.

Dirigido por James Wan, responsável pelo irregular Jogos Mortais, Sentença de Morte é eficiente em seus propósitos, funcionando bem como um filme de ação com alguns toques dramáticos. O grande ponto a favor da obra é forma com a qual a família Hume é retratada no início do filme. De forma natural, sem parecer comercial de margarina, Wan mostra uma família feliz, criando uma relação entre os personagens e o espectador.

Assim, todos os eventos posteriores pelos quais os Hume passam encontram reflexo na platéia e as cenas de ação ganham em tensão, uma vez que a preocupação com os personagens existe por parte de quem assiste ao filme. Além disso, o roteiro ainda apresenta um competente arco dramático para o personagem de Nick Hume, que passa de pai de família amoroso e cidadão exemplar a um assassino sem piedade. Ainda que esta evolução não seja tão densa quanto em Valente, ela existe, e é, ainda mais que a sede de vingança, o verdadeiro motor de Sentença de Morte.

É aí também que a produção difere daquela obra relativamente amoral estrelada por Charles Bronson há mais de trinta anos. Nick Hume sente dúvidas, culpa e remorso em relação às suas ações, e sua transformação jamais deixa de convencer. Kevin Bacon, porém, não parece ter sido uma escolha feliz de elenco. Ainda que competente, Bacon não possui o alcance necessário para certas cenas que exigem mais emoção e dramaticidade, entregando uma atuação irregular. É visível que o ator fica mais à vontade no terceiro ato, com o personagem já mais ensandecido – papel com o qual está muito mais acostumado.

Enquanto isso, James Wan surpreende com uma direção segura e até certo ponto ousada, especialmente nas seqüências de ação. Com movimentos de câmera inventivos, inclusive planos-seqüência interessantes, e uma abordagem crua em relação à violência, Wan emprega nervosismo aos momentos mais agitados de Sentença de Morte, sentimento que aumenta graças à identificação com os personagens. O aspecto mais intimista da história também é bem retratado, especialmente a desconstrução do personagem principal, que, ao final, nem de perto parece o homem do início – e o cabelo mal cortado no confronto derradeiro dá um toque especial de insanidade.

No entanto, além da atuação inconstante e de certos momentos nos quais a transformação do protagonista parece por demais acelerada, o roteiro peca em outros momentos. A subtrama sobre o segundo filho se sentir menos amado surge do nada, sem indício algum anteriormente, como um mero recurso do roteiro para gerar novo conflito que não leva a lugar algum. Além disso, o personagem de John Goodman funciona apenas como obstáculo ao andamento da trama, pois resolve-se sem influenciar em nada.

Contando com uma interpretação psicótico de Garret Hedlund como o vilão, Sentença de Morte tem todos os ingredientes de um bom filme de ação: identificação com personagens, um vilão ameaçador, eficientes toques dramáticos e cenas muito bem filmadas. Não chega à profundidade de Valente, mas é mais completo que o “clássico” Desejo de Matar.

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