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Críticas

Cineplayers

Surpreendentemente divertido! A comunidade on-line, uma vez, tinha razão.

7,0

Serpentes a Bordo reabriu uma discussão que tem sentido: até que ponto a comunidade da Internet (eu, você que está lendo isso aqui) tem força para levar ao mundo real seus desejos, e influenciarem as pessoas que não vivem frequentemente on-line? O filme ficou cultuado antes de seu lançamento por inúmeras comunidades da rede, e estas, em conjunto, tiveram força o suficiente para influenciar no marketing hollywoodiano sobre ele, e assim o nome do projeto foi mantido como definitivo (um dos nomes que o filme iria receber seria "Pacific Air Flight").

Pois bem, o filme foi lançado e não se tornou o sucesso que todos esperavam - todos os fãs da Internet, é bom deixar claro. O público normal praticamente torceu o nariz e ignorou a passagem do filme pelos cinemas nas primeiras semanas de lançamento. Prova que o mundo real e o virtual ainda não estão em completa sintonia. O popular ainda decide os filmes que serão ou não sucesso. Um dia talvez isso venha a mudar, o que não será, necessariamente, algo bom ou ruim. Só o tempo dirá.

Sobre o filme em si, a expectativa, pelo menos dessa vez, não foi enganadora. Ele é divertido, excitante, mal realizado, mas incrivelmente superior a inúmeros filmes recentes considerados, por definição conceitual, “bons”. O que quero dizer, em poucas palavras, é que essa bobagem divertida é melhor do que a maioria dos filmes sérios que chegam às salas de cinema todas as semanas. E não é por causa do que um grupinho de fanáticos pela idéia esdrúxula ou pelo ator Samuel L. Jackson pregaram na rede: o filme é bom mesmo!

Com o objetivo único de entreter, o roteiro é o que menos importa. A única coisa que você precisa saber é que há dezenas de cobras em um avião. E elas estão totalmente atiçadas! E Samuel L. Jackson – um agente do FBI – está dentro desse avião, e ele não vai gostar nem um pouco disso. Recheado de humor intencional (e muitas vezes não), o filme consegue o milagre de manter um ritmo constante de excitação, cenas estapafúrdias, porém divertidas, e falas estupidamente toscas, mas que caem muito bem para cada situação.

Há dezenas de furos no roteiro – alguns enormes e muito óbvios – mas eles somente acrescentam doses de humor ao que já é mal feito por natureza. O filme, claro, abusa dos clichês de alguns gêneros como terror e ação, como a velha regra de quem faz sexo morre primeiro; ou então o fato de que, quando estava tudo parecendo bem, algo inesperado acontece e o mocinho terá que “ligar a alavanca de forma manual”, passando através de vários perigos. No caso aqui, cobras. Os efeitos especiais são bem ruins, as cobras são muito falsas, mas boas o suficiente para não distraírem demais e manterem a tensão na maior parte das cenas.

Samuel L. Jackson está canastrão pra caramba! Mas ele sabe disso e cada cena, cada fala nova sua é mais forçada do que a outra. Nesse caso, isso também é bom. As atrizes e os outros atores são da mesma laia, geralmente com forte apelo sexual (sim, o sexo também é vendido descaradamente de forma mal-encaixada) e sem desenvolvimento algum por parte do roteiro. Eles vão morrendo aos montes, das formas mais variadas e divertidas possíveis.

No final, fica a pergunta: por que esse filme pretensamente mal dirigido e interpretado é tão delicioso e filmes com o mesmo objetivo, como é o caso da recente seqüência de Anaconda, são simplesmente ruins? O que faz de um “uma grande diversão” e outro “uma grande bobagem”? Obviamente a resposta está dentro de cada espectador, se eu soubesse responder seria o dono de uma fórmula mágica, e a venderia a peso de ouro a Hollywood. Considero que o diretor David Ellis (Premonição 2 e Celular) tenha sido simplesmente feliz no ritmo, conseguindo manter interesse constante. Quando o material começava a aborrecer, ele apresentava uma nova surpresa. E toda nova surpresa acabou sendo muito divertida.

Sendo um filme que não se pode levar a sério, ele vale o dinheiro de um ingresso nos dias de hoje? Se estivéssemos em um período de bons filmes no cinema popular (a temporada do Oscar funciona como um desses períodos), eu diria que de forma alguma. Do jeito que as coisas estão, eu digo “definitivamente”! Só vá atento: se você tiver fobia de cobras ou de voar, pode precisar de um estômago forte. No final não importou o alarde que a comunidade on-line fez sobre o filme: ele vai fracassar e ser mais feliz em vídeo. E será merecido!

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