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Críticas

Cineplayers

A prova de que uma refilmagem, quando tratada de forma inteligente, pode ser um bom filme com personalidade própria.

8,0

Refilmagem de um dos maiores clássicos do mestre japonês Akira Kurosawa, Sete Homens e um Destino já é curioso por si só, tendo sido lançado apenas seis anos depois de Os Sete Samurais, sua obra de origem. Mas, ao contrário dessas refilmagens sem graça e cheias de pirotecnia no lugar do charme, este faroeste de John Sturges (o mesmo diretor de Fugindo do Inferno) consegue ser interessante do início ao fim. Saem os samurais, entram os pistoleiros. Sai o Japão Feudal, entra uma pequena vila no México, perto da fronteira com os Estados Unidos. Sai o Japonês, entra o sotaque forte do Sul norte-americano.

A história é praticamente a mesma de seu irmão japonês: moradores de uma pequena e pobre vila decidem contratar defensores para suas colheitas, constantemente roubadas por saqueadores temíveis. Sem dinheiro, eles contam com a fome e o espírito de desafio de sete pistoleiros, dispostos a ajudá-los contra mais de quarenta bandidos de Calvera (Eli Wallach). Durante sua estada, os pistoleiros se identificam com o povo local e, mesmo com as dificuldades surgindo ao longo da história, eles parecem cada vez mais dispostos a ficar nesta quase suicida missão.

Uma verdadeira reunião de estrelas compõe o elenco: o pistoleiro principal é Chris, interpretado por Yul Brynner, que esteve no clássico de Cecil B. DeMille Os Dez Mandamentos. Seu principal companheiro é Vin, a cargo de Steve McQueen, que trabalhou com Sturges no já citado Fugindo do Inferno. Charles Bronson (Era uma vez no Oeste), Robert Vaugh (Bullit, mas muito conhecido hoje em dia por seu papel em The Hustle - O Golpe), Brad Dexter (O Expresso de Von Ryan) e James Coburn (O Troco) completam o elenco principal, enquanto ficou ao encargo de Eli Wallach (de vários e vários westerns e que, recentemente, esteve em Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood) fazer o papel do fora da lei que começa toda a confusão.

Lógico que muita coisa é perdida ao transportar um filme de mais de três horas para um de um pouco mais de duas horas. No caso de Sete Homens e um Destino, diria que a maior parte é mesmo o background dos personagens, que aqui ganham pouco destaque individualmente, apesar de terem sim os seus momentos singulares, como o pesadelo de Lee ou então as crianças que adotam Bernardo (“seus pais não são covardes, eles tiveram a coragem de iniciar uma família!”). Só que conhecemos muito pouco de cada um, com suas características principais traçadas sempre de modo muito rápido. Essa falta de informação pode ser defendida pelo fato de serem pistoleiros, sem histórias boas a serem lembradas e tudo mais, seus mistérios, mas com certeza soa mais como uma desculpa para diminuir o tempo do longa do que como uma característica pensada propositalmente.

Ainda assim, é um preço pequeno pago para poder construir uma bela ambientação, onde entendemos perfeitamente a motivação de cada um (bandidos inclusos). Tudo tem seu tempo, o filme não é apressado, e diria que esse é seu maior mérito. Há apenas dois tiroteios ao longo de todo o filme, que reserva seu maior tempo para a preparação do que a execução. Eu adoro filmes assim, pois não nos deixam entediados ao passar de longos minutos em tiroteios lotados de tiros certeiros e confusos.

Extremamente bem filmado também (herança do gênero, dificilmente vejo um faroeste mal filmado) e lotado de belíssimas imagens (idem), o deleite visual está garantido para aqueles que gostam de bons quadros da vastidão simples dos faroestes. Não há índios, ouro, perseguições... Faroestes geralmente são assim; muitas características de um gênero rico que dificilmente são retratadas todas em um único filme. O importante é utilizar bem cada característica que é selecionada do gênero. A trilha sonora, importantíssima para criar identidade ao filme perante aos inúmeros westerns já feitos, é muito clássica e foi indicada ao Oscar, e provavelmente você irá reconhecê-la por causa que foi reutilizada aqui no Brasil, como tema de um famoso evento “faroeste”.

Mesmo que possua três continuações para lá de desnecessárias, é bastante recomendado. É a maior prova de que um remake pode ser bacana, desde que tratado de forma inteligente e com respeito.

Comentários (1)

Alexandre Marcello de Figueiredo | segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014 - 22:04

Não assisti a versão original de Kurosawa para fazer uma comparação, mas gostei do filme.

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