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Críticas

Cineplayers

Alfabeto de sensações.

8,5
Sleep Has Her House abre com o aviso que é necessária completa escuridão para acompanhar o filme. Não se trata de um pedido e sim de uma imposição. Ela vai de encontro às condições que os filmes são vistos hoje, muitas vezes amputada por um aviso do telefone celular, desconexa e desconcentrada. A experiência necessita desta condição extratela. Tal aviso se completa com a cartela que norteará o filme dirigido por Scott Barley: a relação com ilusão e desaparecimento. O que está por vir é uma viagem sensorial com diálogo pré-estabelecido com uma espécie de mundo reconhecível e com diálogo direto com o cinema digital.

São paisagens, mas antes de tudo, formas. Elas ganham novas proporções e significados conforme passam pelo processo de mutação. São montanhas, mas podem ser fantasmas. O tom onírico dessas paisagens elevam a sensação de desespero e significado do espaço filmado/criado. Assim como James Benning, Jem Cohen e Nikolaus Geyrhalter, para citar alguns nomes, Scott Barley faz da observação seu gatilho para remodelação de espaço e tempo. Sleep Has Her House é um jogo perverso de criação e manipulação de certezas, usando o cinema como grande hipnose.

Da bonança à tempestade, onde jogamos a trama de Cavalo de Turim de Béla Tarr fora e ficamos apenas com as sensações angustiantes, principalmente em seu último ato, Sleep Has Her House brinca com duplicidades a todo instante; céu e inferno, vida e morte, proximidade e distância. Há em cada sequência um diálogo direto com a sensação de estar vivo e o terror que isso trás; perseguidos pelo exagero, pela escuridão, pelo vento. São essas as conexões do filme, que explora o princípio básico do cinema - o corte -, usando-o para o início e fim de cada história e de cada intenção. 

Assim como a vida, no filme há o senso de unidade sem que tudo pareça utópico, cristalino, perfeito. Abstração neste caso é o caminho acertado; tão acertado que não poderia ilustrar melhor este híbrido de sensações. É a ilusão que toca o céu, este que também é ceifado por um raio; o sonho de pegar o vento com as mãos e fugir do escuro à espera de um grito que há de surgir. Tudo está em função da fantasmagoria dos códigos que a imagem impõe e seus questionamentos levantados pela manipulação. 

É o que segura Sleep Has Her House ante à superfície: a certeza que sempre surgirá a saída entre tantos horrores. Este o maior diálogo com o seu espectador sem que precise da perversidade, sem que necessite de uma grossa camada de pessimismo e razão. Pois apesar da afirmação de um mundo onírico, sempre haverá a duvida que este é sim um pesadelo, um filme de terror, enfim, cinema. E neste gesto Barley entroniza o corte e as sensações utilizando suas antíteses: os planos fixos e sequenciais, sempre a lembrar que cinema é sonho. E pesadelo. 

Comentários (5)

Felipe Ishac | sexta-feira, 24 de Março de 2017 - 13:44

realmente, é uma merda pra quem tem Confissões no top 10

Victor Ramos | sexta-feira, 24 de Março de 2017 - 14:04

Pegou na jugular, rs

Paulo Faria Esteves | quinta-feira, 25 de Abril de 2019 - 20:05

Sleep Has Her House abre com o aviso que é necessária completa escuridão para acompanhar o filme. Não se trata de um pedido e sim de uma imposição.

É curioso...conheço outro filme de terror que também é de 2016 😲 e que abre com uma frase semelhante! Só que esse filme (que é o Hoje à Noite Ela Virá, caso queiram saber) é muito fraco. Tenho esperança que este seja bem melhor...pelo menos parece ter um bom charme.

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