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Críticas

Cineplayers

Passou praticamente despercebido pelos cinemas, mas merece uma conferida.

7,0

Stardust - O Mistério da Estrela conseguiu ser, surpreendentemente, o que épicos como A Bússola de Ouro e As Crônicas de Nárnia tentaram e não conseguiram. E, injustamente, não teve o mesmo marketing em cima, já que em qualidade ele é muito superior do que as duas obras citadas. Passando praticamente despercebido pelos cinemas e, o pouco alarde que teve, foi graças à presença de Robert De Niro e Michelle Pfeiffer no elenco. Justiça deve ser feita: é uma das fábulas modernas mais carismáticas da atualidade, com um humor negro maravilhoso e personagens fascinantes, moldados ao velho estilo "Era uma vez" de construir histórias.

Tristan é um jovem provindo de uma aventura que seu pai fez além dos muros mágicos de Stormhold, um local cheio de criaturas excepcionais e muita magia. Ele é apaixonado pela bela Victoria, porém sem reciprocidade, já que esta pretende se casar com outro. Para conquistar o coração de Victoria, ele lhe promete trazer uma estrela, que ambos viram cair durante um piquenique. Só que quando Tristan finalmente a encontra, descobre que a estrela tomou forma de uma linda mulher, com vontades e sentimentos, de nome Yvaine. Enquanto a obriga a encontrar Victoria, Tristan deve protegê-la de três bruxas que querem arrancar seu coração e recuperar a juventude perdida com o tempo, e do impiedoso Septimus, um herdeiro que depende do colar que está no pescoço de Yvaine para tomar posse do trono de seu falecido pai.

Com uma sinopse tão grande, não é de se espantar que aconteça muita coisa no filme, não deixando-o que ele caia na armadilha de ficar chato durante alguns dos preciosos minutos de sua duração, já que ele é enxuto comparado aos demais filmes do gênero (apenas 130 minutos), talvez por não conter batalhas gigantescas entre as duas forças protagonista e antagonista do longa, já que o conflito é quase sempre evitado e, quando acontece, é pela necessidade da situação, e não porque os protagonistas escolhem enfrentá-los. E aí entra o principal defeito do longa, sua conclusão boçal e insatisfatória quando o confronto iminente deve realmente acontecer, pois é péssimo quando coisas acontecem do nada, sem que haja uma preparação para que nossas mentes se acostumem com as verossímeis possibilidades internas de suas histórias.

Mas deixando isso de lado, há inúmeras qualidades que diferenciam Stardust do filme padrão de conto de fadas. Com personagens fortes e carismáticos, o Tristan de Charlie Cox é brilhante, pois sua transformação de jovem inocente e inseguro a um homem que não foge de suas responsabilidades não é apenas física, mas perceptível em seu olhar, ações e falas. Já a Yvaine da linda Claire Danes começa em um tom exagerado, incômodo, mas parece encontrar o perfil correto ao longo da produção, quando sua personagem demonstra ser muito mais profunda do que uma primeira impressão pode erroneamente ter passado. Quando não está fazendo careta, está fazendo um bom trabalho.

Dando-se ao luxo de ter Peter O'Toole apenas em uma ponta como o Rei, o elenco conta com uma inspirada Michelle Pfeiffer como Lamia, a bruxa que parte atrás de Yvaine para arrancar-lhe o coração. Assumindo claramente sua beleza e brincando com a velhice da personagem, a atriz diverte-se a todo o momento com as maldades da bruxa. O mesmo pode ser dito de Robert De Niro e seu Capitão Shakespeare (nome muitíssimo apropriado, devido às referências na história), porém, sua diversão atrapalha o resultado final da composição do personagem, uma vez que percebe-se claramente, durante a cena do espelho, o deslocamento da veracidade causada pelo exagero e empolgação do ator em fazer algo realmente novo na carreira. Não, isso não compromete o final, apenas nos desperta para a realidade; aquilo que estamos assistindo é um filme, e, dentro do seu propósito, passar isso pela cabeça do espectador é perigoso.

Contando com efeitos especiais eficientes, apenas uma vez senti-me incomodado com o uso digital para construção, quando Lamia, personagem de Pfeiffer, chega a um penhasco e o velho problema de contraste de sol cenário / personagem no chroma key denuncia a artificialidade da “locação”. Só que essa cena é um caso a parte. A maioria do tempo temos composições de última geração, como quando Tristan e Yvaine vão para as nuvens, ou a sutileza com que alguns pequenos efeitos são inseridos, como a cordinha mágica que segura a mãe de Tristan à carruagem.

Uma série de personagens atravessará o conto, e não se assuste se eu falar que mais da metade deles morrem de maneira inesperada: uma quantidade altíssima de baixas para uma fantasia. O humor negro é maravilhoso e certamente contrabalanceia bem o tom aventureiro da trama, pois vem na hora certa e nunca é exagerado. A brincadeira com os mortos que ficam se sacaneando é genial, principalmente na maravilhosa seqüência de luta do corpo reanimado através do vodu (“não sou eu, é ela”). Agora, talvez a questão mais importante acerca de Stardust seja, também, a mais simples: o quanto dessa fantasia ingênua de amor que move fronteiras o cinema de hoje, amadurecido à base de realismo e cobranças, pode agüentar? Se todos os mais do mesmo fossem iguais a esse aqui, o cinema de entretenimento norte-americano estaria bem melhor representado.

Stardust – O Mistério da Estrela merece ser visto com muita pipoca e alguém especial ao lado, como nos velhos tempos. E que me desculpem o trocadilho barato de momentos semi-inspirados, mas é uma estrela que brilha mais do que as outras em Hollywood. Dê certa atenção, já que não foi dado o devido respeito pelo mercado nacional. Competente, bem filmado e divertido; um prato completo para seu programa preferido.

Comentários (3)

Lt. Dan | terça-feira, 19 de Novembro de 2013 - 01:54

Filme incrível mesmo, engraçado, bonito visualmente e com uma historia maravilhosa. Parabéns pelo ótimo texto.

Walter Prado | terça-feira, 19 de Novembro de 2013 - 08:53

É bonzinho, divertido, mas nada mais que isso.

Raphael da Silveira Leite Miguel | terça-feira, 19 de Novembro de 2013 - 12:55

Poxa, depois tenho que conferir esse, é do mesmo diretor de Kick-ass - Quebrando Tudo (2010) e X-Men: Primeira Classe (2011), o Matthew Vaughn.

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