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Críticas

Cineplayers

Forças da inadequação.

5,0
Há uma ênfase em não ser convencional do diretor Jean Santos, a liberdade a qual ele se propõe é muito real e palpável. O filme abre com uma nudez praiana e muito rapidamente percebendo a forma natural com que ele trata a nudez, principalmente a masculina. Além de ser um passatempo agradável e de apreciação fácil, Superpina é um projeto livre de compromissos com o circuito. O significado disso é essa tal liberdade com elementos estéticos, que explorem o gráfico de maneira ora exagerada, ora extravagante.

O filme fala sobre uma certa apatia jovem que pode ser vista facilmente em qualquer rede social. Não necessariamente incomunicabilidade, mas um processo de reclusão quase beirando à aversão ao que seria comum e humano. O protagonista do longa parece disfarçar uma certa frigidez, ou se cerrar em uma postura de desinteresse sexual. O que saltaria aos olhos é a postura do meio onde ele está inserido, particularmente voraz no sexo. Paralelo a essa história, temos também a trajetória de uma jovem cantora da noite, que trabalha como cuidadora de uma idosa e se empregará no Superpina, o supermercado que é cenário principal do projeto.

Toda a narrativa flerta com um experimentalismo que vez por outra soa como gratuita, mas faz parte da proposta de Jean essa realização livre de amarras, abolindo o convencional. A relação das pessoas com os próprios corpos, tal como usufruir de uma espécie de prazer generalizado, imposto pelo excesso de cenas que se repetem, levam o filme a um processo de exasperação da repetição proposital, o que pode se colocar na conta dessa inquietação típica do nosso tempo, que não tem muita ideia de como lidar com o que não se conhece em si, mesmo com o que vai além da medida. Dito isso, é possível que esse excesso de relações carnais, de luzes estroboscópicas, de cenas onde o delírio é a chave, sejam propositais e radiografem exatamente essa falta de medida como sintomática do hoje. 

Buscar teorias para o que não é fruto do entendimento faz parte do processo de aceitação de uma obra, mas raramente é diagnóstico de qualidade da mesma. Muitas vezes os sintomas e os impulsos são as reais respostas para as questões colocadas pelo inconsciente. Não importa se uma invasão alienígena está prestes a ocorrer e isso desencadeou uma explosão de libido que provocam os frequentes sexos grupais, ou se isso justifica a iluminação em êxtase que Jean empregou. É da natureza da própria inquietação produzir materiais como Superpina, um OVNI dentro da nossa cinematografia, sem exatamente sem isso ser um problema ou denotar.

Filme visto na Mostra de Cinema de Tiradentes

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